(Não) Era uma vez um Ministro da Educação…

 

 Era uma vez um país onde existiu um Ministro da Educação muito competente, muito sensato e muito sábio. Mesmo nos momentos mais difíceis dos seus mandatos, esse Governante soube sempre tomar as melhores decisões e delinear as medidas mais adequadas, em função dos problemas que foram sendo identificados…

 Os conhecimentos científicos e técnicos sobre a área que tutelava foram sempre muito saudados e reconhecidos por todos e, por certo, contribuíram fortemente para a sua notória capacidade de antecipar e de prever a ocorrência de situações problemáticas e para o enorme prestígio intelectual que lhe era atribuído…

 Um Ministro assim conseguia incutir toda a confiança e segurança e talvez, por isso, não se tenham verificado contestações sindicais dignas de relevo, durante o longo tempo em que exerceu tal cargo…

 Também os docentes e não docentes apenas, pontualmente, esboçaram ténues oposições a algumas das medidas prescritas pelo Ministro e nunca efectivamente se rebelaram contra o estado das coisas…

 @s Director@s, sempre numa perspectiva democrática de liderança, mas também muito crentes no seu líder supremo, jamais colocaram em causa a autoridade do Ministro e anuíram sempre com as suas sábias decisões…

 Os alunos, esses, viveram sempre muito felizes e satisfeitos, a Escola proporcionada por esse Ministro disponibilizava-lhes todos os meios materiais necessários para fazer face a algumas carências, quando as mesmas se verificavam, contribuindo notoriamente para a anulação de possíveis desigualdades socioeconómicas…

A sua formação enquanto cidadãos também foi devidamente acautelada pelo Ministro, permanentemente preocupado com o desenvolvimento integral dos alunos, como comprovou pela criação de uma disciplina muito inovadora e pertinente denominada “Cidadania e Desenvolvimento”, num dos seus mandatos…

O Ministro conseguiu alcançar um feito único, nunca antes concretizado: acabar com o abandono e o insucesso escolar e colocar o nome do seu país nos mais proeminentes lugares de rankings europeus e mundiais… Claro que alguns consideraram que esse sucesso podia não ser real e que esses números talvez fossem reflexo da artificialidade de algumas estatísticas e de algumas medidas educativas pouco naturais e ilusórias… Enfim, vozes maledicentes, sem expressão numérica significativa, com muita dificuldade em reconhecer o merecido mérito do Ministro, como é típico de quem manifesta sintomas de Perturbação de Oposição e de Desafio…

 Este Ministro foi sempre muito estimado e protegido pelo Chefe do Governo, plenamente ciente de todas as capacidades do seu presuntivo delfim e da dificuldade extrema em encontrar alguém com características tão ímpares, se por qualquer motivo o Governo ficasse privado do seu imprescindível contributo…

 O Ministro assumiu sempre, perante todos, as suas decisões e soube justificá-las com argumentos válidos e convincentes, evidenciando assim uma inquestionável capacidade persuasiva… A sua presença nos momentos cruciais foi uma constante, tal como a responsabilização pelas medidas tomadas, demonstrando grande coragem e frontalidade…

 Este Ministro lidou sempre muito bem com opiniões divergentes e conseguiu tomá-las em consideração nas suas decisões, resistindo à tentação da demagogia e da propaganda…

 Num dos mandatos do Ministro, o seu país foi atingido pelo flagelo de uma pandemia que viria a provocar milhares de contágios e de mortes.

Perante tal calamidade, e desde que foi declarado o estado pandémico, o Ministro providenciou todas as medidas necessárias para fazer face ao problema: assim que surgiram os primeiros contágios no país, mandou testar massivamente, e de forma regular, todos os alunos e pessoal docente e não docente de todas as escolas do país; mandou reduzir drasticamente o número de alunos por turma, para minimizar a probabilidade da ocorrência de contágios dentro de cada escola e, assim que foram disponibilizadas vacinas, considerou que os profissionais de educação seriam prioritários na respectiva toma, dada a exposição de risco inerente ao seu trabalho.

Dessa forma, o Ministro conseguiu, com evidente êxito, evitar o encerramento das escolas do país e fazer com que a área da Educação não tivesse contribuído para os picos de contágio que, entretanto, se verificaram no país.

 Obviamente que, e como sempre, houve alguns que nunca conseguiram compreender a actuação do Ministro da Educação, nem reconhecer todas as suas virtudes e todo o seu valor e, por isso, o julgaram de uma forma profundamente injusta, apesar da sua conduta exemplar…

 O Ministro, coadjuvado por Secretários de Estado, também eles, reconhecidos como muito hábeis e capacitados, conseguiu que granjeassem ao seu Ministério os maiores elogios e que o considerassem com grande admiração e consensualidade…

 Por todos os motivos apontados, este Ministro, com uma Pasta Ministerial tradicionalmente difícil e que costumava ser um cargo efémero para quem assumia tal desígnio, conseguiu alterar esse destino e manter-se em funções durante longos anos, o que foi perfeitamente compreensível e da mais elementar justiça, dado o seu perfil de características e de competências…

 Durante os seus mandatos, nunca o Ministro se viu confrontado com protestos ou contestações realmente audíveis, visíveis ou consequentes, sinal de que, na verdade, não existiam motivos plausíveis para a existência de altercações…

Que sentido faria protestar ou contestar, se não existiam razões para isso?

 Na História do país, esse Ministro tornou-se, assim, naquele que por mais tempo se manteve à frente dos desígnios da Educação… Mais um feito inaudito, mas perfeitamente consonante com a performance demonstrada e com a aceitação do Ministro, por parte de todos…

 E se, à partida, considerarem que é impossível que o “quadro idílico” apresentado possa ter qualquer correspondência com a situação actual do nosso país ou com o Ministro da Educação em funções, pensem bem…

 (E, sim, este texto pretende ser uma pequena provocação, apesar de se duvidar da sua eficácia junto de algumas consciências mais adormecidas…).

 

(Matilde)

 

 

 

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13 comentários

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    • Político Apocalíptico on 20 de Março de 2021 at 13:02
    • Responder

    Maravilhoso reino das histórias de encantar!
    Qual inocência perdida de tantos diretores!
    Porque não vão para politicos?
    Basta ter estômago.
    Para isso, diretores, ponham os olhos no vosso líder supremo! Comecem com uns gatafunhos nos jornais locais, indignem-se e ronquem como um pastor evangélico perante as questões de indignação geral, acedam a informação privilegiada, gravem podcasts, vão à Cristina, rodeiem-se dos eleitos da bola, moralizem e punam na praça de acordo com o populismo em voga, Mostrem-se muito laboriosos, mesmo que se limitem a fazer os outros dobrar a espinha! Não esquecer de graxar as opiniões dos que podem mesmo, de juntar muitos no vosso clube privado em nome do público (ou será do privado?), de arranjar um motivo de orgulho geral e galvanizar para que todos falem a uma só voz!
    Assim chegam lá,! Só que por cá, para o poder à séria, é preciso berço ou confraria…
    Ainda bem que quase todos se contentam com um prato quente de lentilhas, com as vénias lá do bairro e com o passar à frente na fila do pão!

    • Fernando, el peligroso de kas verdades. on 20 de Março de 2021 at 14:52
    • Responder

    Esta Matilde, ou este Matilde, ou seja lá quem for, de vez em quando, semanalmente, vem para aqui com umas merdas de encantar.
    Será que lhe falta pau grande no lombo?

      • orquídea on 20 de Março de 2021 at 15:08
      • Responder

      Que “quadro idílico” tão adequado e pertinente á realidade . E os subjugados dos diretor@s e afins tão bem arrebanhados ,apaixonados e sapientes sobre educação. Muito bem Matilde. Clareza e lucidez. Parabéns..

      • Matilde on 20 de Março de 2021 at 18:00
      • Responder

      Ainda bem, Fernando, que o meu texto lhe permitiu fazer uma verdadeira catarse emocional, ajudando-o a libertar-se de sentimentos tão negativos…

      Esperando não estar a ser imodesta, fico muito contente por poder contribuir para o seu bem-estar psicológico. Não se reprima nem se auto-censure, força! Estamos cá para isso…

      E, se me permite, uma última ajuda, não deixe de avaliar as suas memórias recalcadas (patente em “merdas de encantar”), nem a possibilidade de poder apresentar alguma disfunção ou perturbação ao nível da libido (patente em “pau grande no lombo”)…

      Não tenha medo nem vergonha, estou consigo!… 🙂

        • Fernando, el peligroso de kas verdades. on 20 de Março de 2021 at 19:11
        • Responder

        O pau grande no lombo nao é o que você pensa que é. É mesmo o que é: umas boas castadas no lombo.
        Não tem nada a ver com o que você acha, que acha que é.
        Porra, sempre a levarem a coisa para a brincadeira danada!

    • maior on 20 de Março de 2021 at 14:58
    • Responder

    Só falta dizer, que mesmo com estás qualidades todas, ser ministro de um governo do partido socialista dificulta ainda mais o labor.

    • Rui Manuel Fernandes Ferreira on 20 de Março de 2021 at 16:44
    • Responder

    Muito bom Matilde.
    O parvo de Gil Vicente recomenda-se.
    O comissário do onze referido por Platão em Fédon sai logo em sua defesa.

    • Alecrom on 20 de Março de 2021 at 20:05
    • Responder

    Aleluuuiaa.

    • Nanda on 20 de Março de 2021 at 20:32
    • Responder

    Gostei da ironia!!!!! Em que país é que este idílico Ministro ministra????????

    • Olho Gordo on 21 de Março de 2021 at 10:19
    • Responder

    Queridos diretores e fiéis acolitos, com um ministro assim já sabem que quem nada faz é quem mais anos se aguenta no poder!
    Portanto parem de tecer redes de informadores, de emprenhar de orelha, de calcar quem já está em baixo, de arranjar paus de cabeleira, de inventar e de construir narrativas falaciosas para fins mesquinhos.
    Também escusam de sacar do silício para o lombo alheio, pois lá diz a sabedoria popular com razão: “Não rias do mal do vizinho porque o teu vem a caminho”.

    • João Almeida Pinto on 21 de Março de 2021 at 10:48
    • Responder

    E a Matilde continua a espalhar brasas…

    • Olho Gordo on 21 de Março de 2021 at 10:59
    • Responder

    Também escusam de ir papar hóstias e de ir a missas sobrelotadas, ou de andar de avental à sopeira, ou de martelo na mão, ou de ir às futeboladas e jantarinhos. Nem a opus vos recruta, nem a macorronaria vos quer. São apenas pau para toda a obra aos olhos do supremo arquitecto do vosso pequenino universo! Scshhh, é segredo, não digam a ninguém.

    • Igualdade de género não é uma @ on 21 de Março de 2021 at 18:28
    • Responder

    A @ não é uma letra. Com há diretoras e diretores o plural é diretores. Não há necessidade destas tolices das arrobas… Mas o texto está muito bom, como é habitual.

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