Bombardeamento com escolas abertas?
Perplexidade. Não há outra palavra. Como foi possível chegar-se aqui perante a tão anunciada dispersão do vírus?
A Alemanha fechou antes do Natal porquê?
A Itália fechou antes do Natal porquê?
A França fechou antes do Natal porquê? Etc.
A explicação não está só na permanente incapacidade do governo em antecipar-se à situação (é assim desde o início). Na quarta-feira passada ficou clara a distopia de quase toda a oposição perante a realidade. Perante a votação do novo “estado de emergência” no parlamento – pior dia covid até então – só dois partidos votaram a favor: PS e PSD.
Dez mil casos/dia. O agravamento “Natal” estava estimado por epidemiologistas e matemáticos, médicos e enfermeiros. Ter-se parado no fim do ano teria sido mais barato e menos doloroso. Agora, em vez da paragem de duas semanas no Natal (partíamos de quatro mil casos), vamos parar quatro, ou seis, ou muitas mais semanas.
Sei que há números graves por todo o lado, mas Portugal não tem a densidade das grandes metrópoles da Europa. Temos contado com civismo e um SNS ultraeficaz. Como foi possível cairmos neste “porreirismo” sem consequências, à boleia de uma navegação à vista? Portanto, lá vamos para o confinamento e gerar um endividamento que as gerações futuras não conseguirão compreender.
E agora todos para casa… menos os que nunca pararam. Se o objetivo é a eficácia – uma espécie de cordão sanitário à doença -, porque hão de os mais pobres (trabalhadores da indústria e da construção) ser carne para canhão? Porque não têm direito a protegerem-se e a ficar em casa com 100% de salário como os outros? A vida deles e das suas famílias são os “números covid” que aceitamos sem grande problema moral?
Dito de outra forma: porque não paramos transversalmente a economia durante duas ou três semanas para baixar significativamente os números e recomeçar a vida com todos? Basta olhar-se para março e abril para se saber que, usando o mesmo modelo, vamos demorar pelo menos dois meses a chegar ao mesmo resultado que atingiríamos em muito menos tempo, com medidas mais estanques.
Quanto às escolas, não haja ilusões: não adianta mandar toda a gente para casa e deixar crianças e adolescentes a circular. Pergunto: como crescemos até aos sete mil casos de novembro? Aliás, porque se fecham as escolas noutros países? Há conhecimento científico que demonstre absoluta intransmissibilidade da doença das crianças e jovens para os adultos? Os próximos dias mostrarão se não foi uma roleta-russa ter-se optado por escolas a funcionar nestas primeiras semanas de janeiro – abrindo a porta covid às famílias que inutilmente se protegeram no Natal.
Voltemos à metáfora da guerra: estamos perante um bombardeamento sanitário. Fica tudo normal? Estamos a querer compensar o exagero no encerramento quase total na primeira vaga com “escolas sempre abertas” no momento mais errado.
E sim, apesar de as crianças em casa obrigarem a pagamento de subsídios aos pais, muitos deles já os vão receber. Perda de produtividade por causa das crianças? Não se compara com o sacrifício de quem fecha totalmente a loja e fica com zero.
Por fim, a maior perplexidade de todas: custando-nos tudo isto milhões de milhões, e tendo os cientistas inventado a fórmula mais difícil de todas (a vacina), como não foi possível até hoje venderem-se testes simples e baratos, eventualmente obrigatórios em empresas, escolas e repartições, que permitam sabermos regularmente quem pode ou não ir trabalhar? E onde estão os novos medicamentos para tratar a covid? A vacina não pode ser a resposta para tudo. Em setembro boa parte da economia já morreu.
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“Temos contado com civismo e um SNS ultraeficaz”, lol.