A pandemia e a resiliência não faltam à escola
Neste período que, nas páginas dos manuais de História, ocupará mais do que notas de rodapé, reaprendemos a saborosa vivência das sensações.
Quando, por momentos, vislumbro a totalidade de um rosto diariamente encadernado por uma máscara, saboreio a leve sensação de um sorriso esboçado bem para lá dos olhos que me observam e se desnudam. É a esperança num mundo diferente… Para melhor!
A pandemia trouxe o medo e o desespero, a angústia e a insegurança, a desconfiança e a incerteza e … muito mais dificuldades. Atrelou crescentes taxas de desemprego, inenarráveis conflitos interpessoais ou incontáveis depressões. Todavia, desconhecendo-se a data de partida deste indesejável parceiro, o surto pandémico possibilita-nos o usufruto do maior dos legados –a capacidade auto-reflexão.
A escola é um dos locais onde a pandemia prima pela presença contínua e onde a incerteza é assídua! A logística foi radicalmente alterada e os espaços são higienizados numa lógica auto… Cada um, tendo a responsabilidade de se prevenir, deverá precaver-se não só da voracidade do vírus como também dos falhanços dos outros, numa dinâmica de constante atenção, porquanto um só descuido pode desmoronar todo um plano de contingência ou uma estrutura pessoal e/ou familiar .
Se no ensino pré-escolar ou no primeiro Ciclo do Ensino Básico o uso de máscara ou o distanciamento não são obrigatórios, à medida que os jovens /adolescentes vão avançando em níveis de escolaridade ou de idade as precauções tornam-se maiores. E são-no essencialmente porque o risco de contágio aumenta… Pretende-se que o convívio social, tão necessário à formação da personalidade e do equilíbrio emocional, não seja veículo de “covídio” . E este “covídio” será sempre um fator de risco acrescido…para o indivíduo, para a família, para a comunidade, para as abarrotadas estruturas sanitárias …
De repente, sem aviso prévio, o paradigma da educação altera-se silenciosamente! A velha questão “Quem deve educar? A família ou a escola?” parece ficar esvaziada de sentido… Escola e família, grupo e sociedade… A uma só voz, sem decretos ou protestos, tod@s parecem aperceber-se de que não é o momento de se “apontarem dedos” ou “limparem armas”. O vírus transforma-se, adapta-se e mata! Mata fisicamente, mata defesas do organismo humano, mata (pre)conceitos, mata sociedades económicas e financeiras, mata comportamentos, mata vícios e … valoriza virtudes. Sim! A pandemia faz-nos valorizar o tempo, os contactos físicos de um cumprimento ou de um afeto, o que nos rodeia e que tantas vezes não valorizamos … A saudade está omnipresente, mas a redescoberta e a reflexão acerca de comportamentos também.
Na escola há uma oportunidade única, ainda que dolorosa, de nos ajustarmos à urgente necessidade de se alterarem atitudes com vista à sustentabilidade ambiental do planeta e, consequentemente, à sobrevivência humana. E, como em tempos afirmou o laureado escritor colombiano Gabriel García Marquez, “a vida é uma sucessão contínua de oportunidades”.
Nelson da Silva Martins