Com 26,8% dos cerca de 40 mil votos, «saudade» ficou à frente de «COVID-19» e «pandemia».
Já muito se disse sobre o ano atípico de 2020, em que se enfrentou uma pandemia com impacto significativo na vida coletiva e individual de todos nós. Um dos aspetos onde esse impacto tem sido mais profundo é no relacionamento afetivo, pessoal e social: familiares e amigos que só se podem ver à distância, viagens, atividades lúdicas e momentos de convívio que ficaram suspensos. Talvez por isso, os portugueses tenham escolhido «saudade» como PALAVRA DO ANO® 2020.
Dos cerca de 40 mil internautas que participaram nesta votação, decorrida de 1 a 31 de dezembro último, 26,8% escolheram este vocábulo tantas vezes associado à alma dos portugueses. Em segundo lugar, não muito distante, ficou a palavra «COVID-19», com 24,4%, seguida de «pandemia», com 17,03%.
Abaixo da linha do pódio, «confinamento» conquistou 16,23% dos votos, seguida de «zaragatoa» (7%), «telescola» (2,58%), «discriminação» (1,85%), «infodemia» (1,59%), «digitalização» (1,33 %) e «sem-abrigo» (1,16 %).
Tal como no passado, esta 12.ª edição da iniciativa PALAVRA DO ANO® permitiu fazer um retrato dos principais acontecimentos e factos que marcaram 2020, através de uma lista de palavras construída com base nas sugestões que os portugueses fizeram através do site www.palavradoano.pt, nas pesquisas efetuadas no Dicionário da Língua Portuguesa em www.infopedia.pt e no trabalho permanente de observação e acompanhamento da realidade da língua portuguesa, levado a cabo pela Porto Editora.
Assim, «saudade» sucede a «violência [doméstica]» (2019) como PALAVRA DO ANO® e a «enfermeiro» (2018), «incêndios» (2017), «geringonça» (2016), «refugiado» (2015), «corrupção» (2014), «bombeiro» (2013), «entroikado» (2012), «austeridade» (2011), «vuvuzela» (2010) e «esmiuçar» (2009).
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, fez hoje um balanço “positivo” do primeiro período de aulas e afirmou que a comunidade educativa tem pela frente “55 longos dias de provação”, mas que as “escolas estão preparadas”.
Neste início do segundo período de aulas sabemos que temos 55 longos dias de provação em todo o território nacional. Sabemos que as escolas estão preparadas e eu venho aqui prestar uma grande homenagem”, afirmou o ministro.
No final do encontro com os secretários de Estado da Administração Pública e dos Assuntos Fiscais, o líder da Frente Comum, Sebastião Santana, considerou a medida “manifestamente insuficiente“. “O Governo pretende valorizaros dois níveis mais baixos da administração públicae ainda assim de forma muito insuficiente: 20 euros para o nível de remuneração mais baixa e depois dez euros até ao nível a seguir [de 693 euros]”, explicou, em declarações aos jornalistas. Ou seja, os trabalhadores com uma remuneração entre os 665 euros e os 693 euros são aumentados em dez euros.
Para os restantes, não vai mexer “uma vírgula”, apontou o sindicalista. “Entendemos que fica muito aquém daquilo que era a possibilidade de aumentos salariais neste momento enão mexe uma vírgula em relação aos aumentos de salários de todos os outros trabalhadoresda administração pública”, acrescentou.
Segundo Sebastião Santana, se a proposta for adiante, significa que “vamos manter o rumo de compressão da tabela remuneratória única, de não valorização da antiguidade”.
Os chefes de Governo dos 27 países da União Europeia têm seis índices remuneratórios. Posicionam-se no primeiro no início de funções. Progridem anualmente. A avaliação, numa pontuação de um a dez, é da responsabilidade da presidente da Comissão assessorada pela presidência temporária. São avaliados por um relatório de auto-avaliação. A nota final é a média de 80 indicadores.
Estaria tudo tranquilo se imperasse o faz de conta. Mas não. Este sistema, imaginado para os países laboratório das políticas extractivas de gestão pública, estabelece cotas e vagas que já provocaram, tal a impossibilidade de se ser minimamente rigoroso, demissões, cisões e crises frugais; até ameaças de “não-bazuca”, como foi o caso dos chefes autoritários da Hungria e da Polónia. O último facto requereu a intervenção negocial da próxima presidência temporária: prometeu-se, a Orbán e a Morawiecki, dois dos três permitidos excelentes se usarem mais o Power Point (indicador 73) nas reuniões que chefiam; asseguraram-lhes a possibilidade de serem reeleitos por um conselho representativo da sociedade em detrimento do sufrágio directo e universal.
A aplicação desta avaliação burocrática e kafkiana também tem sido polémica no Governo português. A saída do célebre ministro das Finanças deveu-se à obtenção de apenas um excelente nos quatro anos de exercício (e perdeu três anos de progressão salarial). Mas não foi somente por causa disso. O ex-ministro prefere a civilizada avaliação no Banco de Portugal (BdP) que se inspira nas empresas que são casos de estudo e nos países inclusivos e avançados. Ou seja, avaliam-se, modernamente, as organizações — uma solução cooperativa que promove a concorrência, o mérito e a desburocratização —, e não existem cotas e vagas na avaliação dos profissionais. Para além disso, no BdP não há a tradição extractiva, a exemplo do que também observou em países europeus, de tornar muito ricos os colaboradores partidários que recebem, sem qualquer competição, lugares em conselhos de administração de empresas públicas ou contractos lucrativos também sem concorrência.
Como decerto se percebeu, o que escrevi é ficção. É pena. Porque sentir a injustiça na pele é muito pedagógico. Aliás, seria uma forma da acabar com a patologia silenciosa que destrói o clima relacional na administração pública — com um pico inquestionável no exercício dos professores — e que nem a pandemia atenuou. Afinal, e para o pensamento mainstream, o que nos consome é só mais uma máscara. O que é certo, é que esta avaliação do desempenho criou uma legião de pessoas cheias de ressentimento e em revolta contida; e é um vórtice a que poucos escapam, com ênfase caricatural quando os avaliadores proselitistas passam a avaliados.
E este ressentimento contribui para a falta de professores e para o crescimento do autoritarismo. Cria, naturalmente, uma onda de contágios que sai das bolhas do sistema escolar e da administração pública. No primeiro caso, basta associá-lo ao modelo extractivo de gestão das escolas e à infernal burocracia. É uma trilogia que retira atractividade à carreira de professor. Prevalece o sentimento de “fuga”. Por outro lado, e no segundo caso, uma sociedade com esta doença de exclusão enerva e zanga as pessoas. Deixa-as disponíveis para os discursos que prometem uma única narrativa — e o sossego com a ausência de ruído e de contraditório — e favorece a abstenção ou o voto dos descontentes nas forças autoritárias que meterão a sociedade nos eixos. É outra doença pandémica. É um fenómeno que se agravará com a falta de professores, com particular saliência para os formados em Humanidades.
Os homens deviam aprender com a história. É mais surpreendente quando nem sequer o fazem com as tragédias recentes. Anne Applebaum (2020), emO crepúsculo da democracia, cita Hannah Arendt (:33) com uma referência ao que se passava em 1940: “O pior tipo de Estado é o que ‘substitui invariavelmente todos os melhores talentos, independente das suas simpatias, por excêntricos e imbecis cuja falta de inteligência e criatividade é, ainda assim, a melhor garantia da sua lealdade’.” A autora recorda (:31) que “Democracia, Monarquia, Tirania e Oligarquia eram modos de organizar a sociedade, familiares a Aristóteles e Platão há mais de dois mil anos”.
Chegados aqui, cabe aos restantes 25 países perceberem o que é preciso fazer para que o autoritarismo não tome o poder. Dá ideia que será na soma de muitas pequenas coisas que se encontrará o fio à meada. Há alguns que já o fazem com determinação. Impõem cordões sanitários em defesa da democracia. Compreende-se: sentiram na pele os efeitos devastadores das guerras do século XX. Acima de tudo, espera-se que não seja necessário sentir na pele, como já acontece a inúmeros húngaros e polacos, para se perceber como foi errado insistir em políticas exclusivas.
E os comportamentos na pandemia das tribos dos governos e das oposições, explicam o quão nefasta e perigosa é a clubite aguda, em Portugal também, dentro das forças democráticas: ora se repete o insensível “corre tudo bem” no meio de mortes, falências e desemprego ou se procura o “corre tudo mal” no mar das impossibilidades. Corre muito bem na ciência e na coesão europeia, que são duas consistentes janelas de esperança, e isso já se sente na pele como lições para os locais onde se combate, sem cedências, o autoritarismo: o mundo das realizações e o universo das ideias.
O arquétipo da complexidade, aliado à incerteza e imprevisibilidade, mais do que nunca, qualifica a sociedade dos nossos dias. O que é facto é que, no decurso da nossa vida, não somos treinados para conviver com a complexidade e com o risco, no seio de cenários incertos e imprevisíveis.
Esta situação de pandemia em que vivemos, veio demonstrar-nos que nem tudo podemos controlar, mas também que, ainda assim, devemos unir esforços e seguir em frente, despertando em nós sentimentos coletivos.
Talvez esta premissa durhkeimiana seja a pedra basilar de uma civilização, na medida em que, existindo em sociedade, existimos muito para além de nós próprios. Efetivamente, a consciência coletiva é uma espécie de sistema com vida própria, conducente à coesão, fundamental para que não caiamos num estado de anomia social.
Cada vez mais, perante a complexidade crescente, geradora da incerteza, é necessário agir sobre o risco, envolvendo todos e cada um, através da cooperação e da corresponsabilização que se aprendem desde tenra idade em múltiplos espaços, nomeadamente na escola. Sendo a Educação uma prática social por excelência, a escola, enquanto palco privilegiado de construção do indivíduo, definição da conduta socialmente aceite e meio de mudança social, tem um papel preponderante na construção do individual em prol do coletivo.
Na verdade, a escola é, essencialmente, um espaço de compromissos e desafios, que,no século XXI deverá desempenhar o papel de “moderador”, uma vez que na era da informação massificada, saber selecioná-la assume particular importância. Os professores, enquanto moderadores principais no processo de aprendizagem, revelam-se como absolutamente insubstituíveis na construção de uma escola (mais) democrática e inclusiva, onde se aprenda a questionar e a (re)criar laços de empatia para com o outro, num jogo dialético entre razão e emoção, onde a cooperação seja a palavra de ordem e de acordo com as idiossincrasias de cada um. No entanto, para desenvolver e operacionalizar o trabalho cooperativo é preciso tempo. Tempo que é escasso para as escolas, envoltas em atividades burocráticas impostas por quem manda por direito, mas que não tem cumprido o seu dever – a valorização efetiva da Educação.
Não chega definir o enquadramento legal relativo à autonomia e flexibilidade curricular que apenas dá margem para uma negociação ao nível da estratégia interna. É necessário apoio efetivo ao nível das políticas educativas, assente num melhor e maior investimento, contrariando o politicamente correto a reboque de impulsos eleitorais descontínuos. A sustentabilidade do investimento, nesta matéria, é uma emergência nacional que implica priorizar, efetivamente, a Educação. Para isso, é de todo importante valorizar devidamente os recursos humanos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, para que possam concretizar a essência da sua função – a formação de cidadãos livres, ativos e conscientes dos princípios de cidadania que em muito contribuem para a coesão e justiça social. Neste sentido, há que escutar a escola, o espaço por excelência de interpretação da vida social, criando espaços de diálogo e percecionar, no terreno, os seus verdadeiros problemas para que se possam enfrentar os múltiplos desafios que o futuro coloca.
Neste momento em que vivemos, é tempo de avaliar o que se sente em espaço escolar e não tanto o que se sabe.
Mudemos, de forma efetiva de paradigma, interagindo dialogicamente, celebrando a diversidade, traduzindo-a em riqueza, evolução e conhecimento, pois só assim estaremos a promover a existência de uma escola de todos e de cada um. Criemos um espaço em que se possa olhar para as disciplinas de modo “indisciplinado”, onde a interdisciplinaridade seja uma realidade, valorizando e potencializando a individualidade, incluindo cada um no seu processo de aprendizagem.
Urge libertar a escola, que se encontra manietada a conteúdos curriculares que pouco mudaram ao longo dos anos e, sobretudo, a metas alicerçadas num sistema de avaliação obsoleto que condicionam todo o processo educativo, sob pena de se continuar, conscientemente, a hipotecar o futuro das gerações vindouras e, consequentemente, o futuro de todos nós.
Urge valorizar a importância do brincar no desenvolvimento psicossocial das crianças e jovens, constituindo um alicerce essencial da cultura humana, para que o mesmo possa ser, efetivamente, potenciado e valorizado no sistema de ensino. O brincar reveste-se de uma importância particular, pois, para além de fomentar o pensamento crítico e reflexivo, contribui para o desenvolvimento de competências socioemocionais e habilidades psicomotoras, promovendo a vinculação social e, naturalmente, a inclusão.
Só assim, a formação integral de cada um e a tão decretada escola inclusiva deixarão de ser uma miragem.
Libertar a escola, para que possa ser um espaço efetivo (e afetivo) de aprendizagem, do saber pensar, do saber saber, do saber fazer, do saber estar e, sobretudo, do saber ser!