Avaliação internacional. Alunos do 4.º ano estão piores a Matemática do que em 2015 – Governo culpa reformas do tempo de Passos Coelho
Desempenho dos alunos portugueses na avaliação internacional TIMSS de 2019 caiu em relação ao último estudo, mas os resultados continuam acima da média. Secretário de Estado da Educação atribui descida a reformas educativas do ex-ministro Nuno Crato. A prestação nos testes de Ciências também caiu, mas não de forma significativa. Países asiáticos continuam a dominar
No primeiro ano em que se realizou o estudo Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), em 1995, Portugal foi um dos países participantes, mas com uma estreia pouco auspiciosa. Os alunos do 4.º ano tiveram dos piores desempenhos a nível internacional. De então para cá, os resultados evoluíram de forma positiva e sustentada, com Portugal a abandonar o fim da lista. A má notícia é que entre a edição do TIMSS de 2015 e mais recente, realizada no ano passado e cujos resultados acabam de ser divulgados, os resultados pioraram.
Depois do brilharete em 2015, quando os alunos portugueses do 4.º ano conseguiram melhores resultados a Matemática do que os colegas finlandeses, 2019 registou uma descida na média de 541 para 525 pontos – ainda assim, estatisticamente acima da média de 500 pontos na escala usada pelo TIMSS e que vai de 0 a 1000. Os resultados colocam o país na 20.ª posição entre os 58 países e regiões participantes. Há cinco anos, ficou no 13º lugar.
Esta avaliação internacional realiza-se de quatro em quatro anos, é coordenada pela International Association for the Evaluation of Educational Achievment e, ainda que não tenha a projeção do PISA (a maior avaliação em Educação, realizada pela OCDE), permite perceber como evoluem e se comparam os alunos a Matemática e Ciências, em dois momentos diferentes do sistema de ensino: no 4.º e no 8.º ano.
A Ciências, os resultados já tinham baixado em 2015 e voltaram a cair em 2019, ainda que de forma estatisticamente irrelevante. O desempenho está agora na média internacional.
Para o secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, a descida é o resultado das políticas educativas aplicadas pelo ex-ministro Nuno Crato, durante o Governo de Passos Coelho (2011-2015). Isto porque os alunos do 4.º ano que realizaram o TIMSS 2019 são a “geração das metas curriculares (aprovadas em 2013) e que as seguiram desde o 1.º ano de escola”, argumentou o governante numa sessão online de apresentação dos resultados à comunicação social.
As metas curriculares foram definidas para todas as disciplinas do ensino básico e secundário e serviam como um guião concreto e preciso sobre os conhecimentos que os alunos deviam adquirir no final de cada ano de escolaridade. Mas o que aconteceu, continua João Costa, é que a exigência associada a estas metas acabou por fazer baixar os desempenhos. “Os resultados dos alunos portugueses nos últimos estudos internacionais – TIMSS, PIRLS (leitura) e PISA – são coerentes e espelham os efeitos das reformas aplicadas entre 2012 e 2015”.
Por oposição, continua o secretário de Estado, a eliminação dos exames nacionais no final do 4.º (e também do 6.º ano) não pode ser apontada como causa explicativa, porque a evolução dos resultados vem de trás e “antes de 2013 não havia estas provas”.
A IMPORTÂNCIA DO QUE SE TEM EM CASA
Mas o que estes estudos internacionais também têm demonstrado inequivocamente – e o TIMSS não é exceção – é que há outros fatores para além das políticas educativas que têm grande influência.
Um deles é a frequência da educação pré-escolar. Os alunos que nunca frequentaram o jardim de infância obtiveram em média menos 49 pontos do que os que frequentaram durante três ou mais anos. A Ciências, no 4.º ano, a diferença é de 31 pontos.
Outros têm a ver a com a composição socioeconómica da escola frequentada, a importância atribuída pelos diretores ao sucesso escolar ou o ambiente escolar mais seguro e organizado. Mas mais determinante ainda são os recursos para a aprendizagem disponíveis em casa, como a existência de livros ou ligação à Internet.
A diferença de desempenho entre os alunos com mais recursos em casa, tanto em Portugal como na média internacional, ronda e chega a superar os 100 pontos face a quem tem poucos meios de apoio no contexto familiar.
Por níveis de desempenho, 74% dos alunos do 4.º ano atingiram o patamar intermédio a Matemática e 67% a Ciências. Ao nível mais elevado da escala chegaram 9% e 2%, respetivamente, enquanto 5% e 7% não alcançaram o mínimo exigível (abaixo dos 400 pontos).
O TIMSS também testa os desempenhos no 8.º ano, que contou na edição de 2019 com menos países participantes. Portugal entrou pela segunda vez (a primeira tinha sido em 1995) e, como seria de esperar, os resultados melhoraram bastante ao longo do tempo.
Outras constantes evidenciadas por esta avaliação prendem-se com as diferenças de género e de tipo de escola. As diferenças, para as quais entram várias explicações, incluindo a composição da população, são significativas em favor das privadas.
Os rapazes também voltam a apresentar resultados médios superiores aos das raparigas, ainda que estas diferenças se esbatam com a idade e haja até uma inflexão mais tarde, como demonstram as classificações nos exames do secundário.
O SUCESSO ASIÁTICO
A nível internacional, os países/economias da Ásia Oriental voltam a destacar-se, nota-se no relatório do Instituto de Avaliação Educativa, que coordena este e outros estudos internacionais em Portugal.
Singapura, Taipé-Chinês, Coreia, Japão e Hong Kong foram os que obtiveram melhores resultados nos testes TIMSS, sendo que Singapura lidera todos os rankings. A Matemática, tanto os alunos do 4.º como os do 8.º ano conseguiram uma média acima dos 610 pontos.
5 comentários
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Temos de erradicar estes estudos ao serviço do grande capital.
O Crato que meta as metas no cú dele
Não estou a perceber…. por que razão estão a meter o Crato nisto? Mas isto não se terá passado na governação Costa?!?!
E porque não se atribui, já agora, alguma da responsabilidade aos senhores professores?
São eles que estão no terreno com os alunos!
E são muitos deles que ainda usam o ensino simultâneo: pretendem ensinar a todos como se de um se tratasse. Fogem da diferenciação pedagógica e digo-vos que alguns nem saberão bem o que isso significa. Mais a mais, com este ou aquele programa, um bom professor, um professor que estuda, que questiona a sua prática e que reflete no seu trabalho saberá levar o mais longe possível cada um dos seus alunos e saberá conduzir o processo de ensino/avaliação/aprendizagem (ou noutra ordem qualquer) por forma a cumprir os desígnios de uma escola para todos. Uma escola que não deixa alunos para trás sejam quais forem as suas características! Saberá eleger do programa da matemática os saberes que importa não deixar para trás, sob pena de comprometer as aprendizagens dos alunos nos ciclos subsequentes. Independentemente das reformas cada um de nós, na sua sala de aula, pode e deve colocar o aluno no centro do ensino e aprendizagem e não as medidas ministeriais. Há muito que se luta por condições de trabalho e de carreira. É pena que os alunos não tenham voz para lutar por experiências de ensino de qualidade quando têm o infortúnio de calhar numa ou num professor que só pensa no seu salário. Que, nos tempos que correm, ainda nunca esteve ameaçado.
Continuo a ver pessoas que nem com provas. Mas mesmo assim, fica este exercício:
Quanto mais se “relaxar” pior será o nível de aprendizagem, basta ver aquilo que os colegas professores fazem com os respetivos alunos: “Este período vamos relaxar e não vamos fazer teste(s)” e depois os alunos irão melhorar porque não têm a pressão dos testes!!!! Tenham piedade de mim por favor. ACORDAI.