Programa de Matemática vai ser revisto e integrar Programação
O programa da Matemática vai ser revisto – não só para integrar novos temas como o conhecimento computacional e a programação mas também para reverter o “insucesso” da disciplina, assumiu o secretário de Estado Adjunto da Educação, João Costa, numa reunião com jornalistas sobre o relatório internacional divulgado esta terça-feira, em Paris. Os alunos do 4.º ano atingiram os 525 pontos, ficando em 20.º lugar entre 58 países analisados mas, ainda assim, desceram 16 pontos em relação aos resultados obtidos em 2015.
O TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study) é um estudo internacional de avaliação do desempenho de alunos do 4.º e 8.º anos a Matemática e a Ciências. Além da queda a Matemática, os alunos do 1.º ciclo também desceram a Ciências de 508 pontos (em 2015) para 504 pontos (2019), ficando em 33.º lugar da tabela. Os mais velhos, alcançaram os 500 pontos a Matemática (18.º lugar entre 39 países) e 519 a Ciências – a última avaliação do TIMSS a alunos deste ano de escolaridade foi em 1995 e a diferença é enorme: mais 49 pontos a Matemática e 46 pontos a Ciências.
Para o secretário de Estado há “boas e más notícias”: a evolução gradual, registada numa curva que atravessou diferentes governos, é “positiva”; já o decréscimo a Matemática no 4.º ano e o facto de haver menos alunos a atingir os níveis de desempenho mais avançado a Ciências (só 2%) é negativo.
Há muito que João Costa assume manifesta preocupação com a Matemática. “É a disciplina que tem mais insucesso, aquela de que é mais difícil recuperar quando se tem uma retenção, a mais marcada pelas desigualdades socioeconómicas” e apesar de ser a que é alvo de investimento, em termos de horas e professores, os resultados não melhoram significativamente, admite.
A proposta de revisão vai ser pedida ao grupo de trabalho que, em 2018, apresentou um relatório com recomendações para a melhoria das aprendizagens. Desta vez o objetivo, explica João Costa, é “olhar para o programa como um todo”. O programa em vigor desde 2009 antecipou metas, por exemplo do 5.º para o 3.ºano, que exige aos alunos um nível de raciocínio abstrato que terá sido identificado pelo grupo de trabalho como uma das causas que gerou “maiores dificuldades na aprendizagem”.
O secretário de Estado recusou comprometer-se com uma data para a entrada em vigor do novo programa. A proposta será alvo de consulta pública e a sua aplicação será “sempre gradual”, garantiu.
Críticas a Nuno Crato
João Costa atribui responsabilidades às medidas aplicadas pelo ex-ministro Nuno Crato.
“É evidente que a opção pelo currículo e metas muito exigentes fez baixar níveis de desempenho superiores”, frisou atribuindo diretamente a culpa pela estagnação ou queda de resultados às reformas aplicadas entre 2012 e 2015.
Mais de 70% dos alunos do 4.º ano revelaram um nível de desempenho Intermédio a Matemática, o que significa que conseguem aplicar conhecimentos em situações simples; 9% atingiram o nível avançado, conseguindo resolver uma variedade de situações relativamente complexas, explicando o seu raciocínio. Já a Ciências, apenas 2% dos alunos atingiram o nível avançado de desempenho (“compreensão das Ciências da Vida, das Ciências Físicas e das Ciências da Terra e conhecimentos do método científico”) e 67% o nível Intermédio (“alguns conhecimentos básicos sobre plantas e animais”).
No 8.º ano, 63% conseguiram resultados Intermédios e 5% a Matemática. E a Ciências, 73% atingiram o nível Intermédio e 7% o Avançado.
Quais os fatores que mais condicionam os resultados?
O contexto socioeconómico das famílias é o mais pesado: os alunos do 4.º ano com mais recursos em casa que favorecem a aprendizagem (como livros, ligação à Internet ou pais com cursos superiores) tiveram em média, mais 108 pontos a Matemática e mais 94 pontos a Ciências do que os colegas com poucos recursos. No 8.º, essa diferença foi respectivamente de 93 e 85 pontos.
“Em média, os alunos portugueses referiram ter entre 25 e 100 livros em casa; um quarto próprio ou ligação à internet, e os seus pais indicaram a existência de 10 a 25 livros infantis em casa e que detinham o ensino pós-secundário. Os pais dos alunos do 4.º ano indicaram ainda possuir profissões ligadas aos serviços ou proprietários de pequenas empresas”, lê-se num dos documentos relativos aos resultados portugueses elaborado pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE).
A frequência do Pré-Escolar é outro fator determinante. Os alunos do 4.º ano que não frequentaram Jardim de Infância tiveram os piores resultados, abaixo dos 500 pontos (média internacional), tanto a Matemática (484) como a Ciências (478) – respectivamente menos 49 e 31 pontos do que a média alcançada pelos que tiveram três anos de Pré-Escolar.
O contexto socioeconómico da escola também influencia. Em média quem estuda numa escola “favorecida” tem entre mais 20 pontos a Ciências no 4.º ano e mais 42 pontos a Matemática no 8.º ano. Aliás, os colégios privados conseguiram sempre melhores médias do que os as escolas públicas. No entanto, os resultados alcançados pelos alunos de escolas desfavorecidas portuguesas são sempre superiores, nas duas disciplinas e anos de escolaridade, à média internacional registada em estabelecimentos desfavorecidos nos outros países.
Alunos que sofrem de Bullying têm piores resultados
As diferenças não atingem os valores determinados pelo contexto socioeconómico mas também pesam. Quase um terço dos alunos do 4.º ano (32%) disseram sofrer situações de bullying “mensalmente” e 7% “semanalmente” – esses alunos atingiram uma média inferior 9 e 52 pontos mais baixa, respectivamente, em relação aos que disseram “nunca ou quase nunca” ser alvo de violência nas escolas.
No 8.º ano, os valores baixam: 16% disseram sofrer de bullying “mensalmente” e a diferença, em termos de média, para os que “nunca ou quase nunca” sofrem de violência é de menos 9 pontos a Matemática e menos 7 pontos a Ciências. Apenas 2% dos alunos assumiram ser alvo de bullying “semanalmente” e por ser uma percentagem “muito reduzida” o IAVE optou por não divulgar as suas médias.
Além dos testes aos alunos, o TIMSS também faz questionários aos diretores e professores. De acordo com as respostas dos dirigentes, quase metade das escolas de 1.º ciclo (46%) e um terço das básicas ou secundárias com 3.º ciclo (32%) têm problemas disciplinares “quase inexistentes”; e 9% (4.º ano) e 8% (8.º ano) têm problemas disciplinares “moderados a grave”. O impacto nos resultados é menor: 22 pontos de diferença a Matemática e 16 a Ciência, no 4.º ano, entre as escolas sem indisciplina e as que têm problemas graves; no 8.º ano, essa diferença é de 26 pontos a Matemática e 21 pontos em Ciências.
No questionário feito aos professores, os docentes revelaram considerar que apenas 11% dos alunos do 4.º ano e 14% dos do 8.º manifestam disponibilidade para aprender – percentagens bem inferiores às reportadas nos outros países, cuja média é de 36 a 37% no 4.º ano e 24 a 26% no 8.º.
Cerca de 70% dos professores portugueses assumiram que precisam de formação para integrar novas tecnologias nas suas aulas para desenvolverem o pensamento criativo dos alunos.
Rapazes bem melhores do que raparigas
Eles conseguiram melhores médias do que elas tanto nas duas disciplinas como nos dois anos de escolaridade. A Matemática no 4.º ano foi onde se registou maior diferença: 17 pontos separam os 533 pontos alcançados pelos rapazes dos 516 conseguidos pelas raparigas. No 8.º, essa diferença foi de 10 pontos e a Ciências foi de 5 pontos no 4.º ano e de 6 pontos entre os alunos mais velhos. É uma tendência que no caso da Matemática entre os mais novos aumenta desde 1995 (quando a diferença era apenas de 4 pontos).
Luís Santos explicou que também na avaliação externa, nos últimos 10 anos, os rapazes revelam melhor desempenho a Matemática e Ciências no 1.º e 2.º ciclos mas que a diferença vai diminuindo, sendo que nos exames do Secundário são ultrapassados pelas raparigas em todas as provas à exceção de Geometria e Geografia.
Tanto o diretor do IAVE como o secretário de Estado consideram este resultado aponta para a necessidade de diversificação das metodologias em sala de aula – objetivo, sublinhou João Costa, definido na flexibilização curricular.
12 comentários
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Também é importante que “reformem” todos os docentes de matemática, ou então dêem-lhes algumas lições, sobretudo os que estão agora na faixa etária dos 35 aos 45, pois são fruto de um ensino secundário e académico que não os souberam preparar nem ensinar matemática nem eles conseguiram apreender a forma como se ensina matemática. Chegaram às escolas com grandes teorias e com a convicção de que eram os melhores académicos. Errado! Os resultados estão aí.
É escandaloso que à custa do insucesso, muitos docentes (em funções no público) vão enchendo os bolsos com as famosas “explicações”. Aliás, a dificuldade logo no 1.º teste e a demonstração ao aluno que não conseguirá, dita logo a inscrição nas explicações. Mais ridículo e hipócrita, é indicarem alunos para apoio, só para a escola ver o esforço e empenho do docente (para obterem excelente e muito bom na avaliação docente), mas que no seu domicilio ou no domicilio do explicando lá vão tendo a galinha dos ovos de ouro. Os resultados estão aí! No entanto, existe uma fatia de docentes que fogem deste procedimento e ainda encaram a escola como algo de sério.
Mais escandaloso é ver que na carreira docente haja colegas com uma diferença de vencimento líquido de mais de 1000 euros. No entanto, na maioria dos casos, os mais bem remunerados , são aqueles que têm os melhores horários ,melhores anos, melhores turmas e com maior redução de horario e ,nalguns casos, a competência é inverdade proporcial ao vencimento.
Em relação aos explicadores, muitos dos que os contestam também o fazem porque sabem que os alunos que têm explicadores são uma ameaça à incompetência e mau profissionalismo do professor. Nestes casos , o professor é exposto ao ridículo quando não consegue resolver o tpc do manual. Histórias e muitas histórias que há por contar numa sala de aula.
As explicações são uma vergonha nacional. A todos os níveis.
Integrar a Porgramação exige conhecimento e meios.
Coisa que no 1º ciclo não existe.
Lamento.
Programação
E a culpa bate sempre no primeiro ciclo!!! Tristes os que não veem para além disso…..há bons e maus professores em todos os ciclos. Os srs. Doutores também erram e não é pouco! E é aí que está a grande percentagem de GRANDES explicadores. Dediquem—se ao trabalhinho nas escolas!
As crianças não estão desenvolvidas o suficiente para aprenderem frações no 3º e 4º anos..tão simples quanto isso!
A programação não devia estar em TIC? Pergunto eu…
Não estará mais nesse âmbito do que na matemática???
Hopocrisia.
Eu como explicador e explicador do 12° ano não tenho tempo para a quantidade de colegas, alguns diretores escolares, EE e outros pais qualificados e bem remunerados para auxiliar os seuvs filhos.
Se a lei permite até às 6 hrs semanais fazer esta função devidamente fundamentada e autorizada , tal como acontece com os medicos e outros profisionais … a inveja é muita e faz mal à saúde. Mas, ninguém inveja as colegas que complementam o seu horário com trabalho nas caixas dos supermecados? Cada um sabe da sua vida e das suas faturas por pagar.
Por fim, muitos dos que criticam são aqueles que fazem, e bem ,pelos seus filhos ainda que queiram que não se saiba que os seus rebentos estão nas melhores faculdades também pela grande e decisova ajuda dos tais explicadores….
Percebido ou terei que explicar again ?
Maria…. não percebes nada disto…
(Revivendo a época das luzes) Se o nosso grande mestre Costa diz é porque é mesmo assim. Quem te julgas para agora vir opinar sobre o que o nosso grande e iluminado mestre propõe.
Viva o nosso mestre, viva a “iluminação “…
Continuo a ver pessoas que nem com provas. Mas mesmo assim, fica este exercício:
Quanto mais se “relaxar” pior será o nível de aprendizagem, basta ver aquilo que os colegas professores fazem com os respetivos alunos: “Este período vamos relaxar e não vamos fazer teste(s)” e depois os alunos irão melhorar porque não têm a pressão dos testes!!!! Tenham piedade de mim por favor. ACORDAI.