A evolução da Escola devido à pandemia
A Escola vive, atualmente, momentos difíceis, conturbados e algo penosos!
Sabemos que a centralidade da Educação em Portugal, consubstanciada em inúmeros documentos legislativos e assente em plataformas digitais que controlam todos os processos administrativos, inviabilizam todas as tentativas de autonomia.
No entanto, do ponto de vista pedagógico, a amplitude de liberdade dos normativos legais, desde sempre abriu espaço para encontrar as melhores estratégias e metodologias para o desenvolvimento e aquisição de aprendizagens de qualidade.
A formação inicial dos docentes vive ainda um período muito apegado à tradicional forma de encarar a Escola. “Ensinar a muitos como se de um só se tratasse” é ainda uma visão muito comum. Tal forma de vivenciar o ensino traduz-se numa centralidade do professor, como alguém que possui o conhecimento e que tenta passa-lo aos jovens, normalmente de uma forma expositiva. E esta é mesmo a perceção, generalizada, que se tem da educação.
Mas a evolução da sociedade, as constantes alterações de um mundo em mudança, os requisitos que o mercado de trabalho vem exigindo são, ou deveriam ser, indicadores suficientemente fortes para alterar a forma como se encara a Educação e o Ensino, obrigando a repensar a Escola.
Assim, liderar processos de mudança pode e deve ser a tarefa primordial de gestores e/ou diretores, sabendo de antemão que a natural oposição a alterações do quotidiano é o elemento desmotivador de todo o processo.
“Inovar” tem sido a palavra-chave no planear, mas também é fundamentalmente nas práticas pedagógicas. Estratégias e metodologias inovadoras são naturalmente apelativas e mesmo ansiadas por docentes.
Em teoria, é universalmente consensualizada a pertinência de quase todas as iniciativas e novos desenvolvimentos na prática escolar, mas tal dificilmente é experienciado. As ações não correspondem às manifestações de intenção!
Contrariamente à generalidade de académicos, e à maioria dos docentes, entendemos que as mudanças têm que ocorrer de uma forma disruptiva.
Aliás, se analisarmos o que recentemente se passou com o confinamento, situação imprevisível mas real e abrupta, a necessidade de estabelecer contacto com alunos levou praticamente a que a generalidade dos docentes tivesse recorrido às tecnologias, mesmo os que manifestavam a sua total oposição, quando há já bastante tempo se tentava introduzir mais o digital no sistema.
Foi uma constatação de que, mais do que uma obrigatoriedade imposta pelo sistema ou pelos superiores hierárquicos, confrontados com um problema a solução foi assumida, ainda que os “princípios” fossem outros e de um momento para o outro!
E agora? O momento atual radicalizou e absorveu todo o tempo das lideranças escolares. Os normativos e as orientações superiores, essencialmente as que se referem às regras sanitárias, limitaram quase por completo a preparação deste novo ano letivo.
Na realidade, o excelente documento: “Orientações para a recuperação e consolidação das aprendizagens”, publicado pelo Ministério da Educação, revela-se como o mais inovador conjunto de propostas alguma vez elaborado e assumido pela administração, no entanto, pouco ou nada influiu na preparação e na prática deste extraordinário e diferente novo ano escolar.
As questões sanitárias, e suas regras, sobrepuseram-se a toda e qualquer necessidade de diferenciação. Os docentes, tal como as famílias, assumiram o “medo” como a principal, senão única, preocupação, deixando-se enlear pelas perceções de que podem ser causadores de disseminação de contaminações, relegando para segundo, senão último, pensamento as estratégias de ensino e aprendizagem dos jovens.
Não será muito difícil perceber o que está a acontecer na maioria das nossas escolas, sendo suficiente inquirir alguns jovens e verificar que as “bolhas” e o “afastamento social” conduziram à quase exclusiva, expositiva/magistral, forma de lecionar, com a crescente desmotivação que se sente a cada momento.
Sabemos como a vivência profissional na realidade atual, sob a perspetiva da coordenação pedagógica de um estabelecimento educativo, face aos problemas criados pela pandemia que vivemos, se revela como a preocupação fundamental, mas é também uma oportunidade para que se alterem processos, tanto mais que as desigualdades pré-existentes aumentaram e carecem de um novo plano para as colmatar.
Diagnosticar défices de aprendizagem, definir planos individuais de recuperação, deveria levar todos a organizar o trabalho escolar com base no desenvolvimento de projetos, envolvendo e promovendo aprendizagens transversais e interdisciplinares e a construção de portfólios que ajudem à concretização e desenvolvimento das competências de cada jovem.
As aprendizagens que todos fizemos em período de confinamento, nomeadamente, quanto à utilização das tecnologias, não devem ser ignoradas, antes aproveitadas para colmatar os problemas e a maior amplitude de desigualdades criadas. O recurso a “trabalho a pares”, presencialmente ou a distância, e o apoio docente individualizado através dos “Zoom”, “Teams”, “WhatsApp” ou outra aplicação digital deverá ser bem explorado.
Por fim, a avaliação que certifica as aprendizagens tem que ser repensada, perdendo a sua normatividade tradicional para se reafirmar como criterial, e assentar nas competências do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, tendo como referência o estrutural das Aprendizagens Essenciais de cada conteúdo programático.
Parece ser evidente que as coordenações pedagógicas terão também que se reformular mas, sobretudo, têm que assumir a liderança na inovação de estratégias, metodologias e processos, ainda que tal tenha que ser efetuado com disrupções, e decisões “top down”!
Adelino Calado