«Professores vão ter um trabalho muito duro em Setembro»

Mas o vencimento será o mesmo… As condições de trabalho não mudarão, a carreira não será “a do autocarro” e quem pagará a fatura serão os mesmos de sempre. Mesmo sabendo tudo isto vale a pena ler…

Nada será igual. «Professores vão ter um trabalho muito duro em Setembro», alerta OCDE

Andreas Schleicher, director do Departamento de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), alerta os professores, numa entrevista ao ‘Observador’, para a necessidade de terem de alterar o método de ensino, em Setembro, numa altura em que nada será igual.

«Os estudantes que têm autonomia estão bem, não é preciso grandes preocupações. Mas o mesmo não se passa com os que estão em desvantagem. Para estes, o papel do professor será extremamente mais importante e isso foi uma coisa que esta crise mostrou. Se olharmos para o futuro da educação, vamos ver uma maior procura por professores que vão para lá do seu papel de instrutor», refere o responsável, acrescentando que «os professores vão ter um papel muito duro em Setembro».

Relativamente à dependência da tecnologia por parte dos alunos, devido às aulas online, Schleicher considera que «a tecnologia não é tão decisiva, não é o aspecto definidor do modelo. Este envolve mais co-criação. Os alunos consumidores estão a tornar-se sujeitos activos no seu processo de aprendizagem e isso é mais importante do que o aspecto tecnológico», defende.

«O professor já não pode apenas dar um texto pré-fabricado a um grupo de estudantes, tem que desenhar novos cenários e ambientes inovadores de ensino, tem de perceber que alunos diferentes aprendem de maneira diferente e acolher essa diversidade, praticar uma pedagogia diferenciada. O professor tem de conhecer os alunos como indivíduos para os envolver no processo de aprendizagem», continua o especialista.

Schleicher, que é também conhecido como o pai do PISA, ‘Programme for International Student Assessment’, a ferramenta internacional que mede o nível de conhecimento dos alunos em diversas áreas, refere que «a falta de uma distribuição igualitária de tecnologia está a amplificar as desigualdades na educação. E isto acontece não apenas em Portugal mas em todo o lado».

«Em Portugal, os melhores professores, os que estão melhor preparados, ensinam nas escolas mais fáceis. E as mais problemáticas têm de lutar para conseguir atrair os professores mais talentosos», afirma o responsável.

Quando questionado sobre o fecho das escolas o especialista considera que «a escola não é apenas uma instituição académica. É o centro das nossas comunidades e sociedades. E sobretudo para os estudantes que podem não ter em casa o ambiente social adequado (à aprendizagem) é importante que as nossas escolas estejam a funcionar novamente».

E acrescenta ainda: «É possível ter uma interrupção de dois ou três meses, mas se ela se prolonga por muito mais tempo, então há uma certa faixa considerável de estudantes que nunca mais voltará à escola».

Para o responsável o custo social e económico do fecho das escolas é muito elevado e na sua opinião foi ignorado a longo prazo. Contudo, sublinha que «agora há que olhar para as consequências de longo prazo da crise e mediar o seu impacto, mas também reconstruir a educação de forma a servir as nossas sociedades».

Quando confrontado com uma alternativa ao encerramento das escolas, Schleicher  refere que é necessário «abrir as portas das escolas o mais rapidamente que for possível fazê-lo em segurança. E há tantas boas abordagens ao redor do mundo para criar espaços seguros que permitem reconciliar requisitos de saúde com os de educação. Mas o futuro está no blending learning, ou seja, parte do ensino é feito online e outra parte presencial.

«Devemos pensar como configurar o espaço, o tempo, a tecnologia de forma a providenciar o melhor ensino para alunos diferenciados. Precisamos de nos tornar muito mais criativos no uso dos recursos educativos em vez de dizer apenas até aqui tivemos a escola e vamos voltar para ela», afirma.

Relativamente ao próximo ano lectivo o especialista defende que «os sistemas educativos têm de pensar melhor como atrair e recrutar os professores mais talentosos para as turmas mais desafiadoras e garantir que os alunos que têm mais dificuldades terão também mais apoios. A oportunidade educativa tem de se tornar muito mais personalizada e individualizada».

 

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5 comentários

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    • Nuno Costa on 20 de Maio de 2020 at 13:08
    • Responder

    O meu trabalho será sempre proporcional ao meu vencimento. E como me cheira que vai ser cortado por via de aumento de IRS ou de alguma CES que por aí vai aparecer não estou a fazer conta de me matar a trabalhar. Farei aquilo que me for possível e a mais ninguém me obrigará. Ninguém me paga para mais. Deveria estar a transitar para o 5º escalão e estou ainda no 3º.

    • ricardo on 20 de Maio de 2020 at 14:25
    • Responder

    Eu estou no 1º e já efectivei em 2010! Isto sim, um cúmulo!

    • Rui Manuel Fernandes Ferreira on 20 de Maio de 2020 at 15:54
    • Responder

    Schleicher, o especialista da Merda.
    Como o silêncio é a coisa mais difícil de refutar, o meu desejo é que o parvo continue a falar, muito, e quem dele gosta, outros parvos, que lhe continuem a dar palco. Assim sempre nos vamos rindo.
    A sua (deles) ideia para a Educação advém daquilo que pretendem para toda uma sociedade, útil para a economia.
    Se me permitem, façam o seguinte exercício, leiam o texto do post e, em simultâneo, ouçam Nuccio Ordine:
    https://aprendemosjuntos.elpais.com/especial/solo-los-buenos-profesores-pueden-cambiar-la-vida-de-un-estudiante-nuccio-ordine/


  1. COMO HABITUALMENTE uma série:
    – de “lugares comuns”,
    – de ideias erroneamente pré- concebidas e difundidas,
    – continuada de desvalorização da Instituição Escolar enquanto espaço comunicacional por excelência, de partilha e cooperação para o Saber e Conhecimento e de organização social,
    – igualmente contínua de desvalorização das competências cientificas, pedagógicas e tecnológicas dos professores,
    – … ,

    Não sei quanto aos restantes países, também não sei quanto a muitas escolas deste país mas sei, quer quanto à minha prática e à de muitos professores na minha escola, que este senhor nos toma por imbecis e nos vende como mercenários e incompetentes! QUE VÁ INSULTAR A INTELIGÊNCIA DE OUTROS!!!

    O grande MERCENÁRIO é ele, ao serviço de uma instituição cheia de “capitalistas exploradores” – na pior acepção da expressão que …se assim não fosse, os ANOS E ANOS (quase 61) que levam de existência e de óbvias más políticas, o mundo ao invés de agravar o fosso de desenvolvimento entre países e dentro dos países já os teria atenuado e permitido o mínimo de garantias BÁSICAS e DIGNIDADE DE VIDA à população mundial… mas, infelizmente, interessa-lhes o FEUDALISMO moderno, tecnológico, servil e acrítico!
    E, tudo fazem, para vender o mesmo pacote em que apenas difere o embrulho que os estudos de marketing lhes aplica!!!

    TODOS NÓS CONTINUAMOS A PAGAR PARA IMBECILIDADES GLOBAIS!!! E, CLARO, OS PAPALVOS DOS SISTEMAS A, SOMENTE, DIFUNDI-LAS!

    • Francesc Ferrer Y Guárdia Um Bocadinho Manco on 21 de Maio de 2020 at 1:28
    • Responder

    O Andreas Schleicher deu uma entrevista? Basta ler o nome que nem sequer leio… Eis o lacaio da OCDE e o coveiro dos professores e de um ensino de qualidade…

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