Que não haja terceiro período presencial
Estamos perante uma pandemia que jamais imaginámos que, primeiro chegaria à Europa, segundo pararia a Europa, colocando milhões de pessoas confinadas às próprias casas.
É uma situação inesperada para todos, mas que nos obriga e mudar paradigmas sociais, nomeadamente, na Educação.
Eu, que acompanho de perto a situação italiana, por questões familiares, vinha alertando para a possível hecatombe social se as escolas não fechassem rapidamente, como escrevi aqui. Ainda assim, as escolas mantiveram-se abertas até dia 13 de março, praticamente 11 dias depois do primeiro caso de covid-19.
Este fecho generalizado acontece depois de alguns colégios, por iniciativa própria, e algumas escolas públicas, por indicação dos respetivos delegados de saúde, terem fechado. Com isso começou-se a generalizar o medo de deixar os alunos nas escolas. Na última semana de escola aberta sentiu-se uma enorme quebra de presença de alunos. As escolas acabariam por fechar, por decreto, a 16 de março.
Os estabelecimentos de ensino, como é do conhecimento de todos, seriam um foco muito grande de propagação do vírus, até porque, com o conhecimento que temos, as crianças são muitas vezes portadoras assintomáticas.
Acabou-se por colocar mais de um milhão de alunos em casa, sem que existisse um plano para que continuasse a ser acompanhado. Os professores tentaram, de todas as formas possíveis e imaginárias, colmatar esta emergência para que o segundo período, agora à distância, fosse concluído com êxito. E foi, na grande maioria dos casos, foi!
Durante as últimas duas semanas de aulas generalizou-se uma preocupação na classe docente: Como será o terceiro período? Sabemos que terá de acontecer, mas como?
Os agrupamentos de escolas, depois de reuniões com a tutela e da leitura atenta dos documentos elaborados, têm feito um enorme esforço para tentar perceber a realidade, ao pormenor, da sua população discente de maneira a conseguir chegar a toda.
Sem querer desmoralizar, o terceiro período não vai ser igual para todos. António Costa aponta o dia 4 de maio como sendo o limite para o reinício da escola de forma presencial apenas para alunos do secundário, 10.º, 11.º e 12.º anos, com contingências específicas. Esta ideia de ser só o secundário, que nasce por causa das médias e dos exames de acesso ao ensino superior, até pode parecer ponderada e exequível. Mas não é!
Em primeiro lugar porque as rotinas de higiene, que até dia 13 de março eram umas, sofreram uma enorme alteração: lavagem constante de mãos em meio escolar é uma utopia; distanciamento social em meio escolar, seja entre pares seja com os professores, é outra utopia; logo, rapidamente estes alunos se podem tornar armas químicas — todos sabemos que esses alunos, à volta dos 350 mil (segundo dados do Pordata), não vivem sozinhos, mas com pais, irmãos, alguns até com avós, pois os agregados familiares portugueses são muito variados.
Reabrir as escolas em maio, altura em que poderemos estar a entrar no pico do surto poderá significar um atraso significativo na descida ou mesmo um regresso à subida exponencial. Queremos arriscar?
O que está em causa são os exames nacionais, dir-me-ão vocês, pelo que apenas os alunos do 11.º e 12.º anos devem frequentar! Não concordo, por tudo aquilo que disse anteriormente e acrescento que esses alunos, que têm uma média de idades de 18 anos, não têm maturidade suficiente para carregar esta responsabilidade de serem os únicos a frequentar as escolas.
Todos já tivemos 18 anos, aos 18 somos todos imortais! Os professores do secundário e os próprios pais já vieram dizer que estão a favor de um adiamento de exames, porque já perceberam que a prioridade é a saúde pública.
O primeiro-ministro quer mesmo deitar a perder estes dois meses de quarentena social em troca de uns exames?
Sabemos da sua importância mas, desculpem-me, não são prioritários, põem em causa a saúde pública e podem ser feitos em setembro! Numa altura em que, esperamos todos, já haja, se não vacina, pelo menos medicação que ajude a que o Serviço Nacional de Saúde não entre em ruptura.
Vai ser um final de ano diferente para todos, sem exceção, mas creio que preferimos todos estar cá para contar a história do que arriscar!
In Público
32 comentários
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Só discordo com a importância dada aos exames. É que eles não são assim tão importantes, caso contrário não existiriam regimes especiais de acesso ao ensino superior que dispensam determinados públicos de os fazerem, aqueles que deveriam levantar mais dúvidas sobre a sua capacidade para frequentar o dito ensino.
Ora aí está! Chegou a horas das Universidades escolherem os seus próprios alunos. Cada Universidade faz o seu próprio exame e acabem com os exames no ensino secundário.
Isso é tudo muito bonito, em teoria será o melhor processo, mas porque será que nunca o usaram cá?! eu diria que em Portugal já sabemos no que dá… não és tu que conheces o Reitor daquela universidade? Dá-lhe lá um toque com o nome do meu filho para ver se…
Claro que esse método já foi usado em Portugal, foi assim que entrei na Universidade. E, se deixou de o ser, na minha opinião, não foi pela razão que aponta, mas porque ou os professores do ensino superior não quiseram continuar a ter esse trabalho ou porque ficava demasiado caro pagá-los por um trabalho que os professores do secundário fazem de graça.
Completamente de acordo com o post. O sacrifício que estamos a fazer (separados de filhos, de pais…) não pode ir por água abaixo. Haja bom senso!
Se as escolas secundárias forem OBRIGADAS, pelo Governo, a reabrir no dia 14 de abril porque a realização de Exames é muito mais importante do que a salvaguarda da Saúde Pública e se sobrepõe a esta última, então estaremos perante uma decisão que só pode ter uma resposta: RECUSA, POR PARTE DE TODOS, EM ACATAR ESSA ORDEM!
E quando digo TODOS refiro-me a alunos, encarregados de educação, professores, técnicos, pessoal operacional e administrativo e direções.
Para decisões absurdas e absolutamente desrespeitadoras do bem público e individual têm que existir respostas contundentes e inequívocas. Em nenhum momento como este se exigiram tanto essas respostas…
Se assim não for, perderemos a legitimidade para reclamar do que quer que seja porque num dos momentos mais cruciais das nossas vidas não agimos e aceitámos a veleidade de atentarem contra a nossa própria vida e a dos outros… Lamento, mas é mesmo assim, não há outra forma de o dizer…
O mais inaceitável e ridículo de tudo isto é a possibilidade de ser o próprio Governo de um país a tomar medidas que atentem contra os seus concidadãos, em particular naquilo que respeita à sua saúde física e psicológica. Alguém consegue imaginar alunos e professores descontraidos e a trabalhar da forma habitual dentro de uma sala de aula, se forem obrigados a regressar à escola nas atuais circunstâncias?
A obsessão pelos Exames tem que ser parada.
Não é necessário tanta conversa.
Exige à escola a responsabilidades, para o caso de ser prejudicada na sua saúde.
A escola deverá assinar um documento, a responsabilizar-se por danos causados na sua saúde.
Oh Pedrinho, de que te valerá essa declaração se tu posteriormente fizeres parte do nº de óbitos. Se não perceberes isto pergunta aos teus descendentes, ascendentes e restantes familiares.
Matilde, parabéns! Eu não diria melhor! Que todos tenham esse bom senso e leitura da situação grave que atravessamos. Um passo em falso e vai-se todo o esforço, que para alguns de nós pode ser pago com a vida. Não brinquedos com o fogo nem tentemos a sorte, não é altura disso.
Obviamente as escolas não vão abrir dia 14 de abril, isso seria ridículo e o governo nunca falou disso… falou da hipótese de abrirem a 4 de maio, mas no dia 9 de abril não estarão certamente em posição de anunciar isso, quando muito podem-no anunciar como intenção, que será confirmada posteriormente… acho especulativo estarmos a falar coisas que ainda não existem, no dia 9 saberemos no que eles estarão a pensar… se tivesse de apostar diria que não vão decidir nada de especial, a não ser que optem já por um modelo sem aulas presenciais…
E achas que alguem assina esse documento?
Há ainda outra questão: muitos alunos terão de ir para a escola de transporte escolar! Alguém já pensou como é que isso se vai processar? Há pais a trabalhar que não os podem ir levar e buscar à escola!!!! Não percebo para quê esta tão grande importância dos exames para os alunos do ensino geral, se os profissionais não precisam de exames para aceder ao ensino superior!!!!! Porque é que para uns as médias do secundário são suficientes e outros tem de haver exames?????
Pedro:
O que faria se a escola recusasse assinar a declaração de responsabilidades que defende?
Se a escola recusasse, não ia à escola e sujeitava-se à abertura de processo disciplinar contra si, por não ter justificação de ausência? Ia à escola contrariado e colocava-se numa situação de risco?
(Isto para já não falar daqueles que, confrontados com a entrega dessa declaração às direções, não teriam a determinação necessária para a apresentar… Infelizmente, há alguns).
Nesta situação, não me parece que a opção “cada um por si” seja minimamente eficaz. A tomada de posição não deve ser individual, mas coletiva. E quando digo coletiva, refiro-me à necessidade imperiosa de haver tomadas de posição públicas sobre este assunto (associações de pais, diretores, representantes de professores, etc). É a única forma de todos se salvaguardarem, sob todos os pontos de vista.
A saúde está primeiro mas a questão do secundário, dos exames e acesso ao superior é muito sensível, caso haja possibilidade de se concluir com aulas presenciais (que terão certamente um protocolo muito restritivo) seria preferível. E isto vai ser possível? Não sei, mas tenho a certeza que no dia 9 o governo também não terá, porque será difícil projetar como estará a situação quase um mês depois, no dia 4 de maio. A decidirem alguma coisa será que não haverá mais aulas presenciais e o que decidiram fazer neste caso.
Uma questão que também pode influenciar isto é o envelhecimento da classe docente, não tenho estudos sobre isso, mas de certeza que uma grande parte dos professores do secundário terá 60 anos ou mais, o que os coloca num grupo com alguns riscos, sobretudo os que tenham também outras comorbilidades, algo que também terá de ser considerado nas medidas que venham a decidir.
Desde há umas semanas para cá que estou bastante curioso sobre a solução que o governo encontrará para isto, sobretudo porque tenho um amigo próximo que tem um filho no 12º ano… já lhe disse que ele não esquecerá nunca o ano em que entrou para a faculdade!
Paulo, se ler com cuidado estudos e hipóteses já lançadas, os alunos nunca sairão prejudicados por causa disto. O máximo que pode acontecer é empurramos com a “barriga” os acontecimentos, terem aulas em junho, julho ou até setembro e entrarem um pouco mais tarde na universidade. O que são dois, três meses na pior das hipóteses na vida de um jovem?
Não é melhor isso ao risco real que correm se o convívio entre eles regressar? Acha de jovens dos 16 aos 18 têm maturidade suficiente para se autoprotegerem? Mesmo que fossem de máscara, sabe que devem ser mudadas em média de 4 em 4 h, pois perdem a eficácia se ficarem húmidas? Já pensou no que será nos refeitórios? Pavilhões desportivos e grupos formados para as aulas de EF? E mesmo que estejam dois a dois, enviam a bola ou o que seja de um para o outro? E a higiene dos colchões usados nos pavilhões?
Chega ou quer mais?
Posso fazer uma lista infindável de perigos que retira a quaisquer pais que amam os filhos a vontade de os lançar para a boca do lobo. Seja qual for o exame!
Paula, por acaso reparou que eu não falei em datas? Reparou também que eu falei em que, quando se regressar será com muitas medidas restritivas? Convém ler com atenção o que os outros escrevem antes de responder! 😉
Eu disse apenas que o caso do secundário era muito mais sensível e que, preferencialmente, o 3º período deveria ser com aulas presenciais, não falei em datas… antes pelo contrário, disse que achava impossível que o governo estivesse em condições de decidir isso no dia 9 de abril, porque não se sabe como vai evoluir a pandemia… e também falei que essas aulas presenciais teriam de terão de ter muitas restrições, de forma a resolver esses problemas que está a apontar (e mais a outra infinidade deles que não falou)… obviamente que ninguém está à espera que, por exemplo, se vão fazer aulas de educação física em que todos os alunos andem a saltar para cima de colchões, isso seria rídiculo… aliás, a EF até pode ser especial, não havendo exame, as aulas podem ser bastante alteradas.
Sim, li e continuo a afirmar: nem com medidas restritivas, os nossos jovens não tiveram ( nem nós) preparação para determinadas atitudes que, caso não sejam cumpridas, irão trazer o tal pico antecipadamente: lavagem frequente de mãos, eventual uso de máscaras ( tardio no que diz respeito às UE) e essencialmente o distanciamento. Até pode funcionar durante as aulas, e no restante tempo? Intervalos, almoço, etc, etc.
E para mudar as atitudes é preciso tempo, que não há.
Se existem professores de EF com sensatez para as precauções necessárias, outros haverá que não.
Tudo isto se tem que equacionar quando se tem filhos. A proteção fala mais alto, a obsessão com aulas e exames, depois.
Temos 2/3 do ano concluído, as avaliações estão praticamente consolidadas, estando em falta um pequeno período, que bem pensado por gente inteligente, pode e deve ser terminado em segurança e não com o coração nas mãos!
Continua a afirmar, mas esquece-se que em lado algum eu afirmei as maior parte das coisas a que supostamente estaria a responder… a teimosia nunca é boa conselheira.
Você deve pensar que a pandemia se vai resolver de um dia para o outro, vamos todos para a rua sem problema… isso nem daqui a um ano, provavelmente nem nunca mais nos livraremos completamente deste virus. Por isso, a vida vai mudar, e as medidas restritivas vão existir sempre, daqui para o futuro, pelo menos nos próximos meses… e se pensa que podemos deixar de fazer a vida com restrições no futuro está enganada, a economia não aguenta, e muitas pessoas não morreriam do virus morreriam doutras coisas… não me surpreenderá que daqui a uns anos se conclua que, em muitos países do 3º mundo, devido ao Cornonavirus, morreu muito mais gente de fome do que infetada.
E os jovens não são propriamente parvos e isto não é propriamente a mesma coisa que lhes dizer para não fazerem barulho nos corredores!
E também nada nos garante que em junho ou julho seja possível fazer as aulas presenciais, ou até ao final do ano. E é preciso conjugar tudo com o ensino superior… ou seja, nós podemos falar aqui em muitas hipóteses, mas na prática será sempre muito mais complicado, levará certamente a que muita coisa tenha de ser pensada e executada… não é difícil que alguma coisa corra mal haja alunos que vão ser prejudicados/beneficiados em relação a outros, por isso escrevi que é uma questão muito sensível.
Os sindicatos estão em quarentena,isolamento e todos os seus elementos estarão com a “máscara” ?
Estranha-se, de facto, o silêncio dos sindicatos perante uma situação potencialmente catastrófica…
Só aparecem quando os interesses lhes tocam… é o clássico…
Por essas e outras é que continuo a achar que ” a cozinha está cheia de tachos…”
Pedrinho…..Pedrinho…
Aqui não há tomadas de responsabilidade, é cego, surdo…?
Estamos perante um problema de saúde pública conhecido por todos ( será?…) e nenhum papel compensa um pai e mãe se virem o seu filho em imagens já passadas na televisão e que eu, por ter família ligada à saúde conheço em direto. É muito pior do que mostram na TV, acredite! Não diga coisas que não sabe, fica-lhe mal. Só devemos opinar sobre o que sabemos, caso contrário corremos riscos ridículos. Acredite!
Sou encarregada de educação de um aluno do 11 ano. A vida do meu filho não é só a escola. É muito mais importante a sua saúde. Se fizerem os exames mais tarde, tudo bem, se repetirem, tudo bem. Assim podem estudar em casa com o apoio dos professores, depois veremos. Tudo tem solução. A saúde e bem estar dos nossos filhos em primeiro lugar.
Apoiado Natália!
É uma tristeza em 3 atos!
Quem se vai prejudicar vão acabar por ser os alunos do 12º Ano.
Para todos os outros haverá tempo e solução!
Não Concordo!
Se for possível o ideal é voltarmos a ter ensino Presencial. Estamos todos a fazer um esforço para ficar em casa pela saúde de TODOS. Se todos nos portarmos bem, e não houver infetados a passear e a impestar os supermercados. Se todos continuarmos a ter cuidado Com a Higiene contra as Superficies, maçanetas, botões, etc. muito provavelmente em Maio poderemos regressar às escolas. Nada substitui o ensino Presencial e no caso do Secundário é Fundamental para que não hajam injustiças nas entradas nas Faculdades.
Impestar? Não hajam injustiças?
Pobres alunos!
Têm noção da quantidade de superfícies que não vão estar sempre a ser limpas e que são um veículo perigosíssimo de contágio: teclados, ratos, mesas, as próprias mochilas largadas onde calha, bancos, etc?
Eu não estou a delirar nem a falar por mim, são dados constatados?
E se as escolas fecharam na maioria dos países, não é à toa. A Suécia falhou nisso e já se arrependeu. E se tivermos em conta o civismo que há nos povos do norte da Europa e o compararmos com o nosso, devíamos ter as escolas fechadas até setembro. E não era muito…
Quem manda é o Sr Costa… para mostrar que somos os maiores …que Portugal é exemplar ….toca a abrir escolas …acho bem mas então o Srº costa que venha também às aulinhas diariamente num ambiente escolar… quando precisar do meu voto ….
Em França, Reino Unido e Itália parece que está tudo resolvido. Porque é que os dirigentes das escolas do nosso ensino não superior se incomodam tanto com os alunos do 12ºano e com os seus exames de acesso à universidade?
Até ao momento, das instituições do ensino superior nada transparece em termos de prejuízos nos eventuais desempenhos que os futuros alunos possam transportar para as singularidades dos cursos superiores!
Importa, sim, que todos os nossos alunos cultivem a competência de solidariedade nesta dolorosa e indelével lição de vida. Não esqueçamos que só podem admirar o arco-íris, os que com paciência esperam a chuva passar!
Façamos acontecer ‘#Vaificartudobem’; que as crianças e os jovens sejam protegidos de qualquer risco provocado por este nosso inimigo invisível, coronavírus, pelo menos até ao mês de setembro.
O Primeiro Ministro, que tem vindo a assumir o exercício no Ministério da Educação, não poderá negligenciar nem desproteger as gerações em idade escolar.