Carta aberta ao nosso país
Vivemos uma altura das mais atípicas dos últimos anos, vivemos uma situação de pandemia, uma época crítica.
Seria de esperar que, por estes tempos, se observasse solidariedade, entreajuda e bondade.
Ao invés disso, o nosso Portugal, de “portuguesitos”, assiste agora a uma das maiores barbaridades desta quarentena, não falo dos desafios constantes nas redes sociais (porque esses servem para passarmos o tempo), não falo das brincadeiras dos vídeos em casa, não falo de nada disso. Falo sim, de um grupo de jovens que decidiu que seria engraçado invadir aulas de professores e colocar esses momentos no YouTube, atingindo milhares de visualizações.
Aos pais, um apelo: se os vossos filhos precisam de uma consciencialização melhor, é esta a altura certa, se não têm maturidade suficiente para ter aulas através de plataformas digitais estando sozinhos, certifiquem-se de que estes estão na aula e não a enviar o ID e a password da mesma ao autor destas “invasões” que, para além de demonstrarem uma falta de noção descomunal, são infantis e de uma pobreza de espírito muito grande.
Aos jovens, percebam que enfrentamos uma altura de fragilidade, uma altura em que o professor que estão a saturar, ao deixar entrar alguém para perturbar a aula, pode estar a passar mal por ter um familiar doente, pode estar a passar mal por ter um grande amigo doente e, ainda que não esteja, que vos pese a consciência porque esse professor está a arranjar alternativas para que não saiam prejudicados.
A vocês jovens, a nós jovens, notem que os professores também são lesados desta situação, também eles preferiam não ter de nos dar aulas via plataformas digitais, mas a vida pregou-nos esta partida e eles estão a fazer o melhor que podem, a adaptar-se à nova realidade e estão a fazê-lo por nós. Notem que a educação é a chave da nossa vida, é o trunfo do nosso futuro, é aquilo que nos permite sonhar.
A vocês jovens, a vocês autores e cúmplices desta ação, tenham vergonha, sintam-se culpados, repensem as vossas atitudes e vislumbrem mais além. O mundo não é só nosso, o mundo é de todos e a todos cabe fazer dele um lugar melhor.
A vocês, tenham noção que, ao gravar aulas sem consentimento dos participantes lá presentes, incorrem num crime que poderá ser punido pelo artigo 199° do Código Penal, tenham noção que poderão ainda ser alvos de Responsabilidade Civil, uma vez que violam o Direito à imagem de outrem (artigo 79° Código Civil), pelo que existe a hipótese de serem obrigados a uma indemnização por via dos artigos 70° e 483° do Código Civil.
A nós Portugal, um bocado de humildade, de consciência e de bom senso. A nós Portugal, um bocado de crescimento pessoal e maturidade.
A nós Portugal, um bocado de união, um bocado de compaixão, um bocado de espírito português.
In Observador
5 comentários
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A situação a que estão sujeitos os professores com o ensino à distância via internet (acredito no bom trabalho da Teleescola), no ensino secundário e básico, é humilhante e devia parar hoje, com a suspensão do ano lectivo, medida que muitos defendem na área, com a qual concordo. Ninguém vai suportar 2 meses e meio disto, e as baixas psiquiátricas vão aumentar, as pré-reformas entrar em massa; e os alunos bons, médios e com dificuldades ficar ainda mais indefesos porque não vão conseguir aprender nada assim.
O Governo tem que reconhecer o erro e recuar. Não são só piratas informáticos, gente sem escrúpulos ou inconsciente, a humilhar professores e alunos, em que o crime de violação de imagem e a invasão da vida privada tornou-se norma.
São alunos que estão a meio da noite a descarregar programas que só a essa hora funcionam; são professores sem computadores ou sem saber usar programas; são professores descompensados a marcar testes online, feitos ao lado pelo pais; são pais desvairados que interrompem aulas para falar com professores; são centenas de emails por dia para gerir, nem professores nem pais conseguem, muito menos alunos, grande parte nunca teve sequer email na vida; são milhares de crianças em famílias sem suportes informáticos e com medo do desemprego e da miséria, em situações de grandes conflitos familiares, e tensão social.
No meio disto ainda se prolonga este inferno para 26 de Junho, quase um mês a mais do previsto calendário, se tiram as férias aos miúdos e professores que estiveram presos em casa (quarentena não são férias, é uma prisão), com medo, sem conseguir conviver e descansar. É tudo absurdo. Vão aprender o quê nestas condições? Um exemplo de sucesso aqui ou ali não invalida que no todo está tudo a falhar nesta fórmula, recuem no Ministério da Educação em nome de todos, professores, pais e alunos, em nome do país. Perguntam-me o que fazer com os exames? Bom, não sei responder a isso, sempre fui contra exames, tenho a certeza, pelos estudos que são feitos na área, de que eles não melhoram, pelo contrário, pioram o desempenham de alunos e professores, pioram a qualidade do ensino.
Por mim podem ser suspensos este ano e em todos os anos vindouros. É preciso autonomia pedagógica nas escolas, trabalho em equipa, com o fim da avaliação por desempenho, fim de exames, redução de programas e horários e recuperar o gosto de aprender e ensinar, a ciência pura e abstracta, fundamental, tudo isso devia voltar.
O que se está a fazer aos professores, alunos e pais viola direitos fundamentais, e não garante ensino algum, é um simulacro que só vai contribuir para mais burnout, pré-reformas e desinteresse dos alunos, já desmotivados por uma escola que não tem conseguido cumprir a sua missão porque se tornou mercantil e virada para um mercado de trabalho pobre. Ontem uma professora, sem computador com câmara, que está há 3 semanas a pedir uma solução a colegas e director, disse-me num bom resumo “isto não serve para nada, só os alunos Excelentes vão fazer alguma coisa, de resto andamos todos a fingir”.
Raquel Varela
Obrigada, Raquel Varela!
SR PRIMEIRO MINISTRO, SR SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
ponham mão nisto…
A CAP da minha escola, sem qualquer pré-aviso, alterou a carga letiva (disciplina de matemática) em 3 turmas, conforme horário ao qual tive acesso na sexta à noite… enviou-me um horário com a fusão de 2 turmas de CEF, desfasadas em matérias e nº de sumários e acrescentou-lhe 120 min – as 3 aulas semanais passaram para 5 aulas semanais de 60 min cada. Note-se que a grande maioria dos alunos não tem computador.
Numa outra turma do 12º ano – curso profissional, onde só 3 alunos informaram ter computador, fomos igualmente confrontados com a alteração de 4 horas (60min cada) semanais para 6 horas semanais… alguns dos alunos, ainda nem sequer conseguiram encerrar completamente as tarefas anteriores à Páscoa, não são tarefas complicadas mas exigem algum tempo para corresponderem, nesta disciplina e nas restantes. Da minha parte, eu e alunos, precisamos de tempo para partilha de dificuldades, de sugestões e feedbacks [com pedidos de reformulações – para melhorar trabalhos e facilitar novas aprendizagens, sem pressões e dar tempo a quem dele precisa].
Mas tudo mudou sem qualquer pré-aviso – A CAP decide unilateralmente fundir duas turmas de CEF de ritmos completamente diferentes, com 5 alunos a usufruir de medidas seletivas.
Na turma do 12ºano- curso profissional também acrescenta mais 120 min a carga letiva dos alunos passa de 4 aulas de 60 min para 6 aulas de 60 min semanais (360 min semanais de matemática).
A CAP da minha escola parece que se esqueceu que o ano letivo termina a 26 de junho!!!!
APELO AO SR PRIMEIRO MINISTRO PARA COLOCAR NOS ÓRGÃOS DIRETIVOS PESSOAS QUE SEJAM PARTE DA SOLUÇÃO.
Como docente sinto-me ultrajada e considero que todos – sem exceção, docentes alunos e pais encarregados de educação, devem ser respeitados!
FICA O DESABAFO. OBRIGADO!
O que se passa é Horripilante!!!!! Cada vez mais estão a chegar notícias horrendas do que se anda a fazer por aí com as Aulas!!!!. Já não bastava o clima de terror em que estamos a viver / sobreviver!!com pessoas doentes na família e às nossas portas! O país devia estar de Luto! isso sim!! A Telescola SIM e até ao 12º. !! o acompanhamento continuava , tal como se estava a proceder quando as Escolas suspenderam a sua normal actividade!!
À Leonor é preciso dizer , que o que diz está muito bem, mas, é se for dito a gente dita minimamente educada e com a Bem-aventurada Consciência. O que se passa, é, que se andou a fabricar psicopatas, já não bastava os que já existiam desde sempre, como se andou a fabricar muitos mais , e com essas criaturas, é dirigir a Palavra a penêdos gélidos. A esta hora, as criaturas que cometeram esses actos estão a fazer tudo, menos ler a sua mensagem! e , mais , mesmo sendo punidas, as ditas criaturas, o GRANDE MAL, já está feito! O que é isto?
Concordo totalmente com a Raquel Varela e o que mais me espanta é que aqueles que deveriam saber que neste ano letivo os alunos já não têm quaisquer condições para aprender seja o que for (seja à distância, seja presencialmente) – os professores – sejam aqueles que acham que eles vão aprender. Consultem os vossos manuais de formação e relembrem quais são as condições necessárias para uma aprendizagem efetiva.