Avaliação contínua versus passagens administrativas
Enquanto por cá continuam em aberto possibilidades tão diversas quanto as passagens de ano administrativas, o alargamento do calendário escolar e o cancelamento dos exames, em países como a França e o Reino Unido o processo segue uns passos à frente. O Reino Unido, cujas escolas fecharam a 20 de Março, anunciou logo de seguida o cancelamento dos exames de conclusão do secundário e de acesso ao ensino superior. E, na sexta-feira, segundo o jornal The Guardian, o governo britânico anunciou que as notas a atribuir aos alunos resultarão de uma combinação entre a avaliação dos respectivos professores e o desempenho da escola e da turma em que se inserem. A ideia é que as escolas comuniquem a nota atribuída a cada aluno até ao dia 29 de Maio, para que as avaliações sejam tornadas públicas até meados de Agosto e os alunos que concluem o secundário possam candidatar-se a uma universidade ou procurar um emprego na posse das respectivas notas.
Em França, o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, anunciou sexta-feira o cancelamento de todos os exames, marcados para entre 17 a 24 de Junho, sendo as notas atribuídas com base na avaliação contínua dos alunos até ao momento do encerramento das escolas. O Governo francês não descarta para já a hipótese de as aulas presenciais serem retomadas em Maio, sendo que, neste caso, o ano lectivo prosseguirá até ao dia 4 de Julho “com mais aulas do que o habitual”. Neste caso, os júris que atribuem as notas atenderão à presença e motivação dos alunos durante as aulas. A única excepção é a manutenção de uma prova oral de francês para os alunos dos anos em que esta se impõe e que se deverá manter, ainda que em versão aligeirada e “desde que as condições sanitárias o permitam”, conforme adiantou o jornal Le Monde. Independentemente do nível de ensino, e de as aulas presenciais poderem ou não ser retomadas, “a motivação dos alunos é um ponto determinante, inclusive durante o período de confinamento, considerando embora as condicionantes individuais”, explicitou o ministério da Educação francês.
Já em Itália, o Governo estará a preparar um decreto-lei que estipula a passagem administrativa de todos os alunos. Citando o secretário de Estado da Educação, Peppe de Cristofaro, o correspondente no Vaticano do jornal espanhol El Pais explica que, como as aulas presenciais não deverão ser retomadas antes de Setembro, a ideia é que todos os alunos transitem de ano, independentemente das notas obtidas nos exames feitos até ao encerramento das escolas. “Isso não significa que os insuficientes passam a suficientes”, ressalvou o governante. “Os professores não inflacionarão as notas. O aluno poderá ser admitido no ano lectivo seguinte, apesar da nota insuficiente que teve, e terá de ter aulas de recuperação”, acrescentou. Quanto ao exame de acesso à universidade (maturità), se as aulas puderem ser retomadas no dia 18 de Maio, manter-se-á. Caso contrário – o que é tido como mais provável –, os exames escritos não se realizam e o teste será transformado numa prova oral de uma hora, com recurso a plataformas electrónicas.
In Público
4 comentários
Passar directamente para o formulário dos comentários,
Por cá que se lixe a saúde, que se lixe a vida; o que importa são os exames. A avaliação contínua que nos têm impingido durante anos, afinal não passa de pura retórica. O mais estranho ainda é que estes exames que se pretendem fazer são destinados àqueles que sempre trabalharam para frequentar o ensino superior, ou seja, àqueles que estão melhor preparados para o fazer.
Acabei de ler uma missiva do meu agrupamento onde está bem explicito: os níveis atribuídos aos alunos no final do ano lectivo, com base nos trabalhos etc etc que irão ser pedidos, poderá justificar a alteração de nível já atribuído mas jamais poderão esses descer abaixo do nível atribuído no final do 2.º período. Ou seja, quem já passou, já o fez e até pode não fazer nada que de nenhum modo será prejudicado. Os restantes, façam uns trabalhos que o nível poderá subir.
A opção do meu agrupamento não deve destoar, nem fazer luz no escuro do resto do país, ou seja, estas devem resultar de decisões já tomadas pela tutela (ainda que sujeitas ao passar dos dias). Assim, a decisão está tomada ainda que a mesma não seja pública, nem o deva vir a ser, a cobro das aparências e de uma tentativa de manutenção do rigor e normalidade, anormal.
Ainda há escolas sensatas. Espero sinceramente que as decisões tomadas tenham em conta, claro, os interesses académicos dos alunos, mas essencialmente a sua saúde e das famílias. De que serve o resto se a ordem for invertida??
Em França, Reino Unido e Itália parece que está tudo resolvido. Porque é que os dirigentes das escolas do nosso ensino não superior se incomodam tanto com os alunos do 12ºano e com os seus exames de acesso à universidade?
Até ao momento, das instituições do ensino superior nada transparece em termos de prejuízos nos eventuais desempenhos que os futuros alunos possam transportar para as singularidades dos cursos superiores!
Importa, sim, que todos os nossos alunos cultivem a competência de solidariedade nesta dolorosa e indelével lição de vida. Não esqueçamos que só podem admirar o arco-íris, os que com paciência esperam a chuva passar!
Façamos acontecer ‘#Vaificartudobem’; que as crianças e os jovens sejam protegidos de qualquer risco provocado por este nosso inimigo invisível, coronavírus, pelo menos até ao mês de setembro.
O Primeiro Ministro, que tem vindo a assumir o exercício no Ministério da Educação, não poderá negligenciar nem desproteger as gerações em idade escolar.