As medidas que têm vindo a ser anunciadas para evitar a propagação do vírus remetem para a consciência de cada um decidir o que fazer como precaução para a sua não propagação.
Como ainda não foi detetado qualquer caso em Portugal até se compreende a manutenção de uma rotina comum nos espaços públicos, mas deixar no individuo a decisão de “ficar em casa” não parece a solução mais acertada pois o “ficar em casa” implica nestes casos “ficar sem o vencimento”.
Não deverá levar muito tempo a noticiar-se o primeiro caso em Portugal, se é que ele já não existe. E tendo em conta o tempo de permanência do Luis Sepúlveda na Póvoa de Varzim se não for detetado nesta cidade o primeiro caso, é sinal de grande imunidade desta população. 🙂 Mas se for detetado pelo menos ficámos com a consolação de nos ter sido transmitido por um grande homem da literatura moderna.
PS: pelo que me recordo não estive a menos de 20 metros do Luis, a não ser que de passagem me tivesse cruzado com ele por algum corredor, e aproveito para endereçar as rápidas melhoras para si e para a sua esposa.
No Blog de Ana Paula Costa, lemos um testemunho de uma professora, ela mesma, sobre uma aula onde disse “Chega”. Este desabafo é o de quase todos os professores…
Hoje abandonei a sala de aula pela primeira vez em dezasseis anos de profissão. Hoje eu abandonei a sala de aula onde estava há cerca de dez minutos com a minha direcção de turma, alunos do décimo segundo ano. Pensei muito antes de escrever este texto. Pensei nas palavras que ia usar, no que descrever mas, uma sensação se sobrepõe inevitavelmente a todas as outras… A de quase impotência, a de frustração e a necessidade de desabafar. Não, não há vítimas numa sala de aula, nem alunos, nem professores (salvo, lá está, naqueles tristes casos em que alguém é vítima de agressão). Não, não sou vítima mas, abandonei a sala. Abandonei a sala por raiva, por frustração, porque a ingratidão dói, por sentir o meu corpo todo a tremer e ter uma sensação de quase desmaio, por sentir uma lágrima a começar a rolar pela minha face… e… Raios me partam se eu os deixo verem-me chorar, nem que seja um choro de raiva. Não! Por isso abandonei a sala. Não é uma escolha fácil a de abandonar uma sala de aula, nem a de expulsar um aluno da sala. Vejo muitos a defenderem que não se devem expulsar alunos da sala; leio muitas teorias, muitas técnicas supostamente pedagógicas… Mas nada disso é importante! Chega!!! Vão para o terreno, vão tentar dar aulas a quem não quer lá estar; vão tentar falar com alguém que repetidamente não levanta sequer os olhos do telemóvel para olhar para a vossa cara, nem deixa de escrever a mensagem que está a mandar para o namorado/a. Sabem para onde vai toda a pedagogia nestas alturas? Pois… Pois é! O que falta nas salas de aulas é empatia, é formação cívica de qualidade! Menos papel meus senhores! Nós não precisamos de tanto papel na nossa profissão. Mais respeito! Curiosamente ou não, muitos professores há que faltam ao respeito à sua profissão, seja por cederem finalmente ao cansaço e os deixarem fazer o que querem dentro da sala, ou seja, por os passarem a todos só para se verem livres deles… ou porque alguém lhes diz para não se preocuparem, eles vão ter que passar mesmo!!! Não! Eu digo não, grito que não. Se for para ceder desta maneira mais vale mudar de profissão. Se for para passar toda a gente mais vale deixar de dar aulas e dedicar-me à jardinagem ou a alguma actividade onde pelo menos apanhe sol e ar!! Pois meus caros, por isso abandonei a sala de aula, porque não cedo, se eles não me respeitam, se eles, pela primeira vez se recusaram a sair quando eu pedi e/ou me viraram as costas quando eu estava a falar, se me desrespeitaram com palavras e atitudes então saí eu. Acabou-se a aula! Antes de sair fiz questão de lhes dizer que não ia ceder aos meus princípios nem admitir aquele comportamento e saí. Cheguei à sala dos professores e desabei. Desta vez foi a minha vez, aquela vez que eu nunca pensei chegar. Valeu-me o apoio dos meus colegas e a sua cabeça fria. Fiquei devastada, mas hoje, passadas algumas horas do acontecimento entendo que não desisti. Foi uma marcação de posição, uma retirada estratégica para me tornar mais forte, mas não posso ceder-lhes o meu poder. Não, eles não entendem a gravidade da situação. Os pais estão envergonhados eles não têm vergonha nenhuma. Eu também tenho vergonha, muita vergonha. Respiro fundo e penso na próxima ideia, na próxima estratégia. Não sei até quando vou aguentar e não julgo nenhum colega meu por abandonar a profissão, por abandonar a sala por resolver pensar em si primeiro. O processo de ensino-aprendizagem precisa mudar urgentemente, pois se a educação e o respeito começam em casa e a escola é a segunda casa todos somos responsáveis. Peço que mudem as leis, mudem o processo, mudem… ouçam os professores, ouçam os alunos. Precisamos de condições, precisamos de formação! Acabem com os rankings de uma vez, isso só gera lixo varrido para baixo do tapete, nada mais. Lixo! Acima de tudo “tomem vergonha na cara” pelo que estão a fazer aos professores e aos alunos. Sem educação não há futuro.
Pela verdade dos factos. Ficam por saber as intenções das notícias…
O Comando Distrital de BRAGANÇA da Polícia de Segurança Pública, em razão das notícias de que o dirigente da FENPROF tentou invadir o local onde decorria o Conselho de Ministros, esclarece:
1. Ontem, na cidade de Bragança teve lugar o Conselho de Ministros, que decorreu com normalidade e sem qualquer registo de incidentes;
2. A entrada e saída dos membros do governo não sofreu qualquer alteração ou constrangimento causado pela presença de um conjunto de manifestantes afectos à FENPROF;
3. Os manifestantes mantiveram um comportamento, que se pautou pelo respeito pela ordem e legalidade democrática, que não indiciava qualquer preocupação especial de segurança, após o Conselho de Ministros ter terminado;
4. Manteve-se no entanto o efectivo da PSP necessário a garantir a segurança física ao espaço do evento, porquanto ainda decorria a conferência de imprensa;
5. Enquanto decorria a conferência de imprensa o líder da FENPROF aproximou-se de uma das portas de acesso, questionando o comandante do policiamento quanto à possibilidade de efectuar a entrega de umas caixas, tendo-lhe sido comunicado que tal não era possível
6. Não existiu, em momento algum, qualquer atitude hostil por parte deste dirigente sindical que, apesar de aludir algumas palavras de ordem, abandonou o local, sem registo de qualquer incidente
Muito mais à frente aqui ao lado. Em Espanha há dados para serem trabalhados e tornados públicos sobre a violência nas escolas. Não há vergonhas, não há omissões, não há diretores a empurrar para debaixo do tapete ou a fazer pressão para se manter o silêncio, pois só assim se pode combater o problema e ataca-lo de frente.
Por cá, continuem a esconder a realidade. Continuem com os falsos moralismos e com a cultura de imagem de fachada. (Como se na rua nada se soubesse e de nada se falasse. Só na cabeça de alguns “diretores” é que tal ideia faz sentido.) Continuem com o argumento da “residualidade” do fenómeno. Continuem com a hipocrisia na ponta da língua…
As ameaças e desrespeito dos alunos aos seus professores têm crescido nas aulas, nos corredores ou fora das escolas, onde os professores recebem insultos e têm de ouvir frases como “Vou arruinar a tua vida”, “Vou acabar com a tua profissão” “És inútil, não vales nada.”
“São humilhações, abusos, ameaças e desrespeito”, disse Laura Sequera, coordenadora do serviço da Provedoria de Justiça do sindicato independente ANPE, que apresentou os dados para o ano letivo 2018-19 deste serviço. ajuda os professores.
Explica que estas situações respondem a “uma falta de valores” que se exemplifica no “filho imperador”, ao qual os pais não lhe colocaram ou não conseguiram impor limites e normalizar comportamentos que vão contra a coexistência, e ao “pai do helicóptero”, aquele que defende o seu filho “por direito sim ou sim a tudo.”
“Quando um professor tenta estabelecer padrões este aluno, empoderado nas suas famílias, não resiste a limites e não tolera ter de respeitar o professor”, disse Sequera, que acrescentou que “a primeira coisa que lhe sai é a raiva”.
No passado, o Advogado do Professor do Estado atendeu 2.174 professores, contra 2.179 no ano anterior (99% dos casos são oriundos de escolas públicas, onde existem cerca de 480 mil professores).
“Há um impasse preocupante no número de agressões e assédio” e “um agravamento” como nas ameaças dos estudantes, insistiu o presidente nacional da ANPE, Nicolás Fernández Guisado, para quem situações de conflito “estão longe de ser erradicados nos centros.”
A taxa de ameaças de estudantes a professores aumentou de 22% dos casos no ano letivo de 2017-18 para 23% no ano passado, ou seja, aumentou um ponto.
Em dados de ciberbullying, também dos alunos aos professores, permanecem em 10% das queixas geridas; os problemas com o ensino estão novamente nos 21% (o professor às vezes demora mais de 10 minutos a iniciar a aula) e as agressões aos professores mantêm-se nos 6%.
Em particular, o estudo inclui 504 casos de desrespeito de alunos a professores, 465 problemas para lecionar, 241 de bullying, 212 ameaças, 128 por agressões e 47 por danos materiais, entre outros.
Os problemas relacionados com os pais mantiveram-se a taxas semelhantes às de 2017-18, mas aumentaram as agressões físicas aos professores (de 2% para 3%), situações de assédio (28% para 29%), acusações sem fundamento. 25% a 26%) e o ciberbullying dos pais (1% a 2%).
As denuncias dos pais passaram de 19% para 21%; e as faltas de respeito de familiares (de 26% para 25%) tem, ligeiramente, baixado e a pressão para modificar as notas (8% a 7%).
O relatório inclui 642 casos de bullying entre pais e pais, 584 acusações sem fundamento, 546 de desrespeito, 455 queixas, 148 pressões de mudança de notas e 59 agressões.
O Provedor de Justiça, que desde 2005 já ajudou mais de 37.000 professores (o ano com mais queixas foi 2009-2010, com 3.998 professores servidos), aborda também problemas relacionados com o ambiente de trabalho e salienta desta vez que as incidências com equipas de gestão baixaram (31-27%) mas os problemas aumentaram por falta de aplicação dos regulamentos das escolas (de 14% para 15% foram aplicados).
Fernández Guisado lamentou a situação na Catalunha dos “professores constitucionalistas”, que nos últimos tempos “se sentem abandonados”.
No ano passado, 16 professores foram obrigados a abandonar a profissão devido a situações de conflito, destacou este relatório, que acrescenta que em 70% dos casos denunciados o professor apresentava elevados níveis de ansiedade, 10% apresentava sintomas depressivos e 10% estavam de licença.
Do total das chamadas recebidas no ano passado, 44,4% são de professores primários, 40,4% para o secundário, 3,7% para FP, 7,4% para crianças e os restantes 3,9% para outros graus de ensino (Escolas de Educação Infantil, Conservatórios e Educação de Adultos).
Pelas comunidades, o Provedor de Justiça lida com mais casos de professores em Madrid, 52,8% das queixas (no ano letivo 2018-19 1.148 professores pediram ajuda); Segue-se a Andaluzia (198), as Ilhas Canárias (168) e a Múrcia (118). As Ilhas Baleares e a Galiza são as autonomias que menos se encontram neste flagelo.
O presidente da ANPE Madrid, Andrés Cebrián, explicou que o elevado número de Madrid se deve ao telefone “mais usado” nesta comunidade.
Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2020/03/desrespeito-dos-alunos-e-ameacas-aos-professores-aumentam-e-agressoes-parentais-por-espanha/