Sabem ler, mas não entendem o que leem. Uma nova geração de analfabetos.

Enquanto o analfabetismo alcançou os valores mais baixos de toda a história mundial, surge agora uma nova geração de “analfabetos”, porque aparentemente sabem ler, mas não entendem uma palavra do que leem.

Quando foi a última vez que leu um texto, do início ao fim, sem desesperar, sem se cansar, sem interromper a sua leitura, sem se distrair e sem querer passar urgentemente para outra coisa?

Esta pergunta, por simples que possa parecer, é capaz de revelar uma das tendências contemporâneas mais preocupantes: o impacto da internet e suas tecnologias derivadas parece ter criado uma nova forma de analfabetismo funcional.

Com certeza já leu um texto, mas não entendeu o que diz, volta e volta a ler várias vezes, mas distrai-se e nada do que lê resta, não se preocupe, isso acontece a muitas gente.

Alguém que seja analfabeto funcional não saberá resolver de forma adequada tarefas necessárias na vida quotidiana, como por exemplo: preencher um pedido para um posto de trabalho, entender um contrato, seguir instruções escritas, ler um artigo num jornal, interpretar os sinais de trânsito, consultar um dicionário ou entender um panfleto com os horários dos autocarros.

Vale a pena lembrar que ler não é apenas decifrar os sinais que compõem uma palavra, um parágrafo ou um livro inteiro, mas também compreender de forma ampla o sentido daquilo que se lê: o seu sentido literal e o seu sentido figurado, o uso que se dá à linguagem, a mensagem que procura transmitir, a posição ideológica a partir da qual se fala e outras subtilezas presentes num texto.

O paradoxal seria que numa época que foi chamada de “a era da informação”, o individuo contemporâneo simplesmente preferir viver na ignorância, na mentira, no preconceito ou na ilusão da verdade: nuvens do pensamento que a leitura ajuda a dissipar.

in Es+Cultura

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17 comentários

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    • maria on 11 de Fevereiro de 2020 at 11:26
    • Responder

    Sem apontar o dedo acusador a quem quer que seja, diria que a “desgraça” a que alude a peça começa logo na escola primária, ou 1º ciclo.
    No “meu tempo” – mesmo com meios menos sofisticados e um professor para 30 a 40 alunos , englobando todas as “classes” – ninguém saía da escola sem saber Ler, Escrever e “Contar”. E agora? Bem, os professores do imediato 5º ano (2º ciclo) serão os melhores juízes para se pronunciarem acerca da proficiência do ciclo precedente : ficam estarrecidos ! Leitura, Escrita, Comprensão, Numeracia ? Dispenso-me de reproduzir os seus depoimentos .
    Sendo admissível que muitos alunos consigam superar essas lacunas, certo é que muitos mais carregarão o negativo legado por longos anos, afectando todas as disciplinas . Mas passam , à mesma , de ano. Ou o 54 serve para quê ?.
    Eis a anatomia, ou a génese , da nova geração de analfabetos. Sim, analfabetos ( com as honrosas excepções, como em tudo)

      • Paulo Anjo Santos on 11 de Fevereiro de 2020 at 16:13
      • Responder

      Ponto prévio, eu só dei aulas ao 3º ciclo e secundário. Obviamente que os problemas começam no primeiro ciclo, é ai que começa tudo, se iniciassem no ensino secundário, seria aqui que começavam os problemas. Estes não estão nos professores, estão nas novas sociedades, na educação em geral e na pressão para o facilitismo que tem sido exercida de cima desde há uns anos para cá… quando estava cá a troika e se aumentaram o número de alunos por turma, lembro-me do comentário da Manuela Ferreira Leite na TV, «eu tive turmas com 42 alunos e correu tudo bem, não percebo porque estão preocupados com turmas de 30?». Eu nem queria acreditar que uma pessoa supostamente informada que até já foi Ministra da Educação pudesse estar a dizer isso (mas também é um bom exemplo da preparação que esta gente tem para ocupar os cargos que ocupa). Eu não me lembro de quantos alunos tinham as minhas turmas no 1º ciclo, mas nessa altura estava tudo atento, se não estivesse levávamos umas reguadas, ou pior ainda, e chegávamos a casa e levávamos mais. Comparar o que se passava numa sala de aula nos 80 ou antes, com o que se passa agora é o mesmo que comparar alhos com bugalhos!

    • zaratrusta on 11 de Fevereiro de 2020 at 11:53
    • Responder

    Acrescentemos a farsa do ensino profissional.

    • António on 11 de Fevereiro de 2020 at 12:23
    • Responder

    maria (com minúscula muito apropriada), esse seu comentário sobre o 1.º ciclo é absolutamente estúpido e ignorante.

      • maria on 11 de Fevereiro de 2020 at 13:28
      • Responder

      Leia com atenção o meu comentário e reparará ( logo, logo, na primeira frase ) que nele não existe qualquer remoque ou subliminares referências . Reparará , também , que me baseei – sem fazer extrapolações – em inúmeros depoimentos de quem está no “terreno”. E não trouxe à colação os resultados das aferiçoes do 5º ano, reveladoras, também, do percurso anterior.

      Não costumo comentar … comentários, muito menos se forem deselegantes. Porém, hoje, abro uma excepção .

        • António on 11 de Fevereiro de 2020 at 14:59
        • Responder

        Eu estou no terreno e, acredite, o seu comentário é revestido de uma total ignorância sobre o assunto e revela uma enorme desconsideração pelos profissionais do 1.º ciclo. Perceba que o problema da nossa escola começa na família, passa pelo ministério da educação, pelos programas curriculares extensos e desadequados, pelas pressões por resultados estatísticos “convenientes”, pelo facilitismo, pela desvalorização do papel da escola pela sociedade em geral… mas nunca, repito, nunca, por quem faz o seu trabalho de alma e coração o melhor que sabe e que pode e acredite, mais uma vez, a esmagadora maioria dos decentes do 1.º ciclo são excelentes profissionais, à semelhança do que acontece nos outros níveis de ensino. Abra os seus horizontes e descubra os verdadeiros culpados deste grave problema e pare de ser mesquinha. O problema, definitivamente, não está no 1.º ciclo (ou na escola primária, como referiu). O grande problema da classe docente é gente como a maria: muito “poucochinha” que, em vez de contribuir para a desvalorização da imagem do professor devia, isso sim, prezar pela unidade docente para que, de uma vez por todas, possamos lutar pela valorização do papel da escola, para que todos percebam que uma sociedade sem educação é uma sociedade condenada, sem futuro.

          • J.F. on 12 de Fevereiro de 2020 at 1:45

          Parece-me que está a dar razão à Maria mas o seu melindre não tem razão de ser… não houve qualquer ataque aos professores desse ciclo… (em qualquer ciclo de ensino há bons e mais profissionais, como existem em todas as áreas)… Pois que, e de resto não o negando, aquilo que menciona para o justificar não é novidade para nenhum professor.
          É fundamental uma acção crítica e concertada dos professores que não podem cair nas modas e nos sucessos que lhes são impingidos, …
          Inegável é que o 1º ciclo é fundamental para o que vem a seguir!
          A defesa do Saber é a defesa da Escola, a defesa dos Alunos e da Sociedade!
          Hoje… cada vez mais!

    • Maria on 11 de Fevereiro de 2020 at 12:31
    • Responder

    Como poderão ser alunos mais capazes a outras disciplinas se não o forem a interpretar o que estão a ler?! Primeiro está o Português como base para outras disciplinas. Isto só vem justificar tanto insucesso … e algum sucesso “tirado a ferros”. Estratégias, mais estratégias e ainda mais estratégias e assim transitam sem saber ler, no verdadeiro sentido do que significa saber ler. Temos gente que frequenta o ensino superior incapaz de interpretar uma abertura de um concurso. Está lá tudo… só que nem há paciência para ler tudo…

      • J.F. on 12 de Fevereiro de 2020 at 1:52
      • Responder

      Concordo e também aqui há muitos professores a ceder aos projectinhos, aos sucessinhos, à banha da cobra que engolem como se fosse um mundo fantasticamente novo… As escolas estão cheias de servilismos, burocratas e muito boa gente que não se quer chatear!

    • Educação ao Pim, Pão, Pum on 11 de Fevereiro de 2020 at 12:43
    • Responder

    Descansemos que agora com o 54 e a flexibilidade é que vai ser do bom, ui!

    • zaratrusta on 11 de Fevereiro de 2020 at 13:04
    • Responder

    Após 17 anos de investigação, tenho o prazer de anunciar a descoberta de uma nova espécie. Fisicamente os seus indivíduos são semelhantes ao ser humano, mas através de uma observação atenta das suas atitudes e comportamentos, rapidamente nos apercebemos que se trata de uma espécie primitiva cuja evolução parou há milhares de anos atrás. Muitos, apenas conseguem emitir grunhidos e escrever por símbolos imperceptíveis. Estes indivíduos podem ser encontrados em pequenos aglomerados que ocorrem um pouco por todo o país e a que se dá o nome de “Cursos Profissionais”.
    Existem, no entanto, alguns testemunhos (raros) que carecem de confirmação que garantem ter avistado alguns indivíduos da espécie fora do seu ambiente natural. Um deles, muito arisco, respondeu pelo nome de “amador” e foi visto pelos lados da secretaria de estado da educação. Há cientistas que garantem que a espécie se está a reproduzir rapidamente e a povoar o governo do território. Aguardemos por novas investigações.

    • Angelina Augusta Ramos Couto Pereira on 11 de Fevereiro de 2020 at 14:48
    • Responder

    Acabo de fazer o 12 ano com Ação Educativa pelo o IEFP num curso EFA NS e passei sim pelo Português ao qual eu gostei mas foi pouco tempo para poder ismiuçar bem a compreensão das palavras de alguns textos ex:(Eça de Queirós) e ao qual ninguém gostou devido a erros ortográficos e pontuações que é o meu caso pois escrevo tão rápido como escrevo e lá se vai um texto com umas notas graças contra mim eu falo !
    Mas já reparei que não se quer perder tempo a ler literatura portuguesa pois é muito complicada assim como alguns alunos que estão a dar a barca do Inferno e mostram-se interessados em alguns aspetos.
    Mas dou razão aquém diz que se passa de ano quer se saiba ou não,o não é correto com quem está sempre a narrar nos livros o fim de semana para ter uma nota significativa a português.
    Por mim precisava de mais umas 200 horas de português!

      • Luluzinha on 11 de Fevereiro de 2020 at 16:21
      • Responder

      Olhe, desculpe, mas a senhora precisava de mais uns 200 anos de Português!

        • profinfo on 11 de Fevereiro de 2020 at 16:41
        • Responder

        «Vale a pena lembrar que ler não é apenas decifrar os sinais que compõem uma palavra, um parágrafo ou um livro inteiro, mas também compreender de forma ampla o sentido daquilo que se lê: o seu sentido literal e o seu sentido figurado, o uso que se dá à linguagem, a mensagem que procura transmitir, a posição ideológica a partir da qual se fala e outras subtilezas presentes num texto.»

        Percebeu a ironia?

    • profinfo on 11 de Fevereiro de 2020 at 16:40
    • Responder

    «Vale a pena lembrar que ler não é apenas decifrar os sinais que compõem uma palavra, um parágrafo ou um livro inteiro, mas também compreender de forma ampla o sentido daquilo que se lê: o seu sentido literal e o seu sentido figurado, o uso que se dá à linguagem, a mensagem que procura transmitir, a posição ideológica a partir da qual se fala e outras subtilezas presentes num texto.»

    Percebeu?

    • Rui Filipe on 11 de Fevereiro de 2020 at 18:27
    • Responder

    Faz -me lembrar aquele senhor que ouviu o discurso do presidente do seu país. No final, entusiasmado disse: que grande discurso, falou muito bem, mas eu não entendi nada!
    Soluções, talvez ler a palavra escrita e ouvir não só futebóis!

    • Vanda Maria de Bragança Serrão on 12 de Fevereiro de 2020 at 16:38
    • Responder

    Uau, descobriram a pólvora sem fumo?
    Levaram muito tempo! E agora, não seria melhor rever os programas de Português ( tirar o acessório dos programas de Português e não só) e focarem – se apenas no essencial? O cérebro humano não é um computador para abarcar um saber enciclopédico.

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