Está na ordem do dia ser qualquer um que seja vitima de racismo, crimes violentos ou de qualquer injustiça social, mas é a sociedade que transforma qualquer um em vitima.
O caso que se deu ontem dentro de um campo de futebol é um bom exemplo disso. Não vou alongar-me muito a condenar o caso hediondo que aconteceu em Guimarães, todos temos o direito a ser respeitados pelo que somos e pelo que acreditamos. Tudo o resto é falta de cultura, de educação, de civismo e de cidadania.
Mas a hipocrisia vem ao de cima nestes momentos. Não mereceremos todos o mesmo tipo de tratamento?
Todos se indignam quando o indignar, ou não, dá jeito por algum motivo, seja ele politico ou pessoal, mas sempre em casos isolados, nunca por um acontecimento de massa ou de um simples cidadão. Para se indignarem tem de valer a pena ficar indignado e conseguir passar a mensagem de indignação que as massas querem ouvir. Há gente assim.
Há gente que não se indigna quando um professor é agredido dentro de uma sala de aula, quando um policia é insultado (da mesma forma que ontem alguém foi), quando um médico vê o seu consultório destruído e leva um par de chapadas e quando um enfermeiro é agredido e insultado. Quando se dão estes casos, o primeiro ministro e o presidente da república não vêm fazer declarações de indignação para os noticiários, nem fazem qualquer comunicado, não lançam campanhas de sensibilização ou de cidadania.
Todos vieram elogiar a coragem que viram ontem. E se um professor, quando insultado abandonar a sala de aula? Se um policia, quando agredido, largar o criminoso e o deixar fugir? Se um médico ou enfermeiro se recusar a assistir um doente por ele o ter insultado ou destruído o consultório? Será que os mesmos considerarão esses atos como sendo de coragem? Ou, de imediato, serão condenados e abertos processos disciplinares?
Esta sociedade tem muito que evoluir para tratar todos da mesma forma e se indignar da mesma forma por todos, em todas as situações dignas de indignação. Há membros desta sociedade que têm de deixar de usar as dores de alguns quando dá jeito e começar a sentir a dor de todos.
Neste país ninguém quer ser professor, polícia, médico, enfermeiro e muitas outras profissões que se vêm enxovalhadas, humilhadas e agredidas todos os dias, não residualmente, ou ao domingo.
Temos que, SER TODOS, TODOS OS DIAS.