O que fazer para não levar um pontapé nos testículos e um murro no focinho – João André Costa

 

O que fazer para não levar um pontapé nos testículos e um murro no focinho

Um professor de 63 anos foi agredido a soco e pontapé por um aluno de 12. O pontapé foi nos testículos e o murro, para glória do aluno, foi no “focinho”.
Aconteceu no Porto, na Escola Básica Francisco Torrinha, há uma semana.
Basicamente, o aluno entrou na sala de aula a jogar à bola e, consequentemente, partiu uma lâmpada do teto. Um caso clássico de chamada de atenção.
E aqui começam os problemas. Para o professor, pois claro.
Erro número 1: admoestar o aluno e iniciar o confronto tão habitual no dia a dia de uma criança problemática e já sinalizada na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens.
Erro número 2: sabia o professor que a criança estava sinalizada? A Direcção da escola sabia? E se sabia, informou o professor? E qual o significado de estar sinalizado? Alguém sabe? Eu digo-vos: no caso deste aluno significa, muito provavelmente, ser vítima de maus tratos em casa, físicos, emocionais, falta de comida e roupa, falta de condições de habitação, pais separados, pais desempregados, toxicodependência entre outros factores de risco para uma criança que precisa de ser protegida. Por quem? Desde logo, pelo professor, coisa que o mesmo não fez.
Mas o professor não tem culpa. Não sabia e, por conseguinte, reagiu como sempre reagiu ao longo de 40 anos de ensino diante de um caso de mau comportamento: confrontou o aluno, e ao confrontar o aluno entrou no único território que o aluno conhece, a agressão.
Erro número 3: e assim, os erros continuam, pelo que vou deixar de enumerá-los. O professor tirou a bola ao aluno. Esqueçam a bola, partir uma lâmpada é melhor que partir o focinho.
Erro número 3.5: afinal tenho de continuar a contar, para organizar o raciocínio, e este é um erro do sistema, não do professor. Antes disso, o aluno já tinha ligado ao pai, sabendo muito bem que o uso do telemóvel é proibido em sala de aula. Proibido porquê, quando lá fora os manuais escolares já incluem o uso de telemóveis na resolução de exercícios? Porque é que tudo o que não compreendemos e aceitamos tem de ser proibido? Ui, que medo, pensou o aluno, estou a usar o telemóvel na sala de aula! O aluno a puxar os cordéis e o professor a dançar.
Erro número 4: o professor “dominou” o aluno quando o mesmo tentou retirar-lhe a bola. Desconheço o sentido da palavra “dominou” neste contexto, mas receio que o professor tenha fisicamente imobilizado o aluno. Este foi o seu maior erro. Ao imobilizar o aluno, o professor agrediu-o, retirou a liberdade de movimentos ao aluno, prendeu-o, subjugou o aluno e, provavelmente, aleijou o aluno.
A resposta foi imediata e fez notícia nos jornais.
Nunca, desde que o aluno entrou na sala aos pontapés à bola até ser entregue à Directora de Turma, nunca ninguém perguntou ao aluno o que se estava a passar. Aconteceu alguma coisa? Queres falar? Estou aqui para te ouvir. Não me ouves? Vou pedir ajuda, espera um pouco, já volto, estou aqui para ti. Queres jogar à bola? Vamos lá para fora, eu jogo à bola contigo, estou aqui para ti. Sou teu professor, mas também me preocupo contigo.
Nunca. Em vez disso, o castigo, a admoestação, o confronto, a falta de empatia, a agressão física. Não toquem num aluno, nunca toquem num aluno, quando tocamos num aluno, tudo pode acontecer. E aconteceu. Neste caso, aconteceu.
Lamento imenso o sucedido. Lamento imenso o professor no chão em dores depois de um valente pontapé nos ditos e um murro na cara.
Infelizmente, tais casos não se resolvem com sanções e disciplina. O caso foi entregue à polícia. A polícia chegará cedo à conclusão que na noite anterior houve problemas lá em casa. Isto se o aluno dormiu em casa, em último caso na rua, longe de outros pontapés e murros.
No meio disto tudo, não sei onde estão os Assistentes Sociais, o apoio às famílias, o Centro de Emprego e a Comissão de Protecção. “A criança já estava sinalizada”, será a sua resposta, até que um dia acontece alguma coisa.
Já aconteceu, um professor foi agredido violentamente. E enquanto não se intervir e enquanto não apoiarmos alunos em risco, será apenas uma questão de tempo até que mais alguma coisa aconteça, desta vez ao aluno. Não basta sinalizar.

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2019/04/o-que-fazer-para-nao-levar-um-pontape-nos-testiculos-e-um-murro-no-focinho-joao-andre-costa/

40 comentários

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  1. Andamos a levar “isso” é muito mais do execrável joão costa (se)…
    Esse é que precisava de ser defenestrado.
    Nota: ainda anda pelas escolas a proteger, das ilegalidades, os comissários políticos e a incentivar a perseguição dos zecos.

      • JOSE FERREIRA on 6 de Abril de 2019 at 14:16
      • Responder

      É verdade. Assim como o Trump, com os seus tweets racistas, fez com que aumentassem em número e gravidade os crimes de ódio nos EUA, assim os ministérios da educação desde Maria de Lurdes Rodrigues, na vertigem da sua crueldade para com os professores, têm contribuído para legitimar actos como este. E “opiniões” desinformadas como a de Rui Cardoso não só não ajudam nada, como pioram tudo.

        • JOSE FERREIRA on 6 de Abril de 2019 at 14:28
        • Responder

        Errata: não é Rui Cardoso, a quem peço desculpa pelo erro, mas sim João André Costa.

    • Fernanda on 6 de Abril de 2019 at 13:19
    • Responder

    “Queres jogar à bola? Vamos lá para fora, eu jogo à bola contigo, estou aqui para ti. Sou teu professor, mas também me preocupo contigo.”

    Se eu fosse aluno/a , sentir-me-ia confortável para entrar na sala de aula de modos incorrectos para se ir lá para fora com o/a professor/a:
    – jogar à bola;
    – jogar videojogos;
    – mandar mensagens nas redes sociais;
    – comer a sandes e o sumo;
    – dizer palavrões, etc

    Teria a atenção do/a professor/a (que muito provavelmente não quereria) enquanto o resto dos colegas ficavam na sala de aula, calhando, a serem supervisionados por algum/a AO.

    • Fernanda on 6 de Abril de 2019 at 13:22
    • Responder

    Claro que todo este texto só pode ser irónico.
    No entanto, a ironia é uma figura de estilo que deve ser bem usada. Caso contrário, não cumpre o efeito desejado.

    • Maria Pereira on 6 de Abril de 2019 at 13:36
    • Responder

    Lirismo, boa malha para escrita de poemas, o Sr. André fala como se o professor estivesse sozinho na sala com o aluno, o comportamento do aluno já é um ato provocatório para gerar o caos na sala de aula, não há comunicação verbal que consiga em tempo útil alterar o propósito do aluno, o professor não pode mandar sair os outros e tentar cuidar deste, adoptando estratégias empáticas que, provavelmente, gerarão ainda mais revolta no discente e o professor corre o risco de levar no focinho sem testemunhas…o que se poderá virar contra si de forma implacável. Ignorar o comportamento do aluno significará deixar de dar a aula e perder o controle da turma, perder a autoridade, quiçá, para sempre, com aquela turma.
    As crianças são inimputáveis, mas os adultos não são, sinalizar crianças em risco é avaliar se estas têm condições de crescer em equilíbrio em famílias desequilibradas, penso que não terão, noutros países civilizados estas crianças seriam retiradas à família muito antes de chegarem a este estado de comportamento, mas é o que temos, a banalização da violência, para defender o principio da liberdade total sem responsabilidade, o que nos conduzirá, inexoravelmente, à anarquia.

      • JOSE FERREIRA on 6 de Abril de 2019 at 14:20
      • Responder

      Poemas, sim, mas não muito bons. Não foi Oscar Wilde que disse que os bons sentimentos fazem a má poesia? Também fazem, pelo que aqui se vê, a má pedagogia.


  2. Cada vez mais acho que devemos de deixar de brincar aos amadorismos nas CPCJ’S deste país e profissionalizar….

    • Maria on 6 de Abril de 2019 at 13:59
    • Responder

    Pois, era bom ir lá para fora jogar a bola com o aluno e deixar os outros 29 sozinhos. Ou levá.los todos. Até podia ser. O que NÃO podia era ser agredido por não o fazer. Bom senso, ok? Tudo de bom

    • JOSE FERREIRA on 6 de Abril de 2019 at 14:05
    • Responder

    Mas que treta. O aluno pode estar “sinalizado”, pode ter contra si todas as circunstâncias, pode ser vítima de maus tratos em casa, mas aos doze anos um ser humano já sabe o que faz e já é responsável pelos seus actos. E se a responsabilidade não pde ser pedida, devido às atenuantes referidas, ao próprio aluno, tem que ser exigida a quem tem a tutela: o governo de Portugal por intermédio do Ministério da Educação. Que deve ao professor, no mínimo, um pedido de desculpas público – e “público” quer dizer com toda a escola a assistir – indemnização por todos os danos materiais e uma compensação monetária ao professor -financiada, por exemplo, por uma multa bem pesada aplicada aos pais da criancinha.

    O governo de Portugal falhou ao pôr um professor numa situação de risco mais elevado do que é normal e aceite na sua profissão, risco esse de que não tinha sido informado e que não tinha consentido em correr. Um risco que não constava de contrato nenhum, tácito ou declarado. Um jovem que aos doze anos não está devidamente socializado está definitivamente perdido; nenhum profissional deve ser exposto ao risco que ele representa sem estar cabalmente preparado, em primeiro lugar para defender terceiros, em segundo lugar para se defender a si próprio, e em terceira prioridade, se possível, para defender os interesses do aluno delinquente.

    • Emília Machado on 6 de Abril de 2019 at 14:06
    • Responder

    SÓ me posso rir…este senhor deve viver no mundo da utopia.
    Ridículo

      • JOSE FERREIRA on 6 de Abril de 2019 at 14:25
      • Responder

      Este senhor vive enclausurado numa ideologia que é hegemónica no Ministério da Educação.

    • Ave Rara on 6 de Abril de 2019 at 14:40
    • Responder

    .
    O meu amigo e Ilustrissimo Colega João André Costa é mais um dos muito Líricos que andam nesta vida.

    O Ilustre colega enumera um conjunto de “erros” do Professor em causa como se fosse ele o prevaricador.

    Não!… Não, meu caro.

    Se existiu algum erro por parte do Professor, foi ele não lhe mandar duas valentes solhas bem dadas no focinho o e rebentar-lhe logo com as beiças. Isso sim. Foi um erro.

    Quero lembrar ao Ilustre Colega que à uns anos a esta parte não existiam casos destes. Não existia também a agora chamada “escola segura”. Não existia nada desta Merxa. Sabe porquê?????

    Eu explico-lhe.

    Os ENERGÚMENOS iam para a TUTORIA ou para a choldra. Sim não iam para a “ESCOLA”

    As ESCOLAS são para quem quer aprender e aos Professores cabe ensinarem.

    As “ESCOLAS” não são “Cantinas Sociais” para dar alimentação à borla aos rebentos de prostituas e ladrões. As “ESCOLAS” não são a Santa Casa da Misericórdia. As “ESCOLAS” não são o local para a “Educação Sexual”, a “Cidadania e o Desenvolvimento”, “Aprender a andar de Bicicleta”……

    Concluo dizendo que quem errou foi o Ilustre Colega (provavelmente professor primário ou educador das infâncias) quando escolheu ser “animador social” ou “entreteiner”. Seria melhor ter ido para a “Santa Casa da Misericórdia” …. Vá catar piolhos à macacada em África que faz melhor figura.
    .
    .

    • Albino Pinto on 6 de Abril de 2019 at 15:34
    • Responder

    Boa tarde.
    Sou seguidor assíduo deste blog, respeitando muito o trabalho realizado por todos os colaboradores. No entanto, gostava que este texto de opinião tivesse sido contextualizado com a biografia do seu autor. Este é um blog com um enorme peso em portugal, frequentado por inúmeros professores que, no seu dia-a-dia, têm de conviver com situações semelhantes a esta.
    Considero o texto completamente infundado, quer em termos pedagógicos, quer em termos sociais. Como é possível que alguém tenha a “lata” de culpar o professor por aquilo que lhe aconteceu? Qualquer dia vamos dizer aos juízes para irem tomar um copo com os homicidas em vez de os julgar?!? Coitados….
    Penso que não podemos desvalorizar uma situação com esta gravidade. É necessário compreender-se o aluno, o seu contexto social e económico que tantas vezes é causa para a desigualdade, no entanto também é necessário que seja o estado a garantir que estas situações sociais sejam corrigidas! Será que as escolas têm de passar a assumir as funções do I.P. Segurança Social? Vivemos numa sociedade e em sociedade, onde existem regras! O aluno é que esteve mal, não o professor! o

      • Paula on 6 de Abril de 2019 at 21:30
      • Responder

      O que têm a ver os educadores e professores do primeiro ciclo com isto? Ao tentar ser engraçado é tão estúpido como o autor do texto que tanto nos desagradou. Haja bom senso. Felizmente nem todos pensam como o senhor. É mesmo uma ave rara.

    • Carla on 6 de Abril de 2019 at 15:52
    • Responder

    Que texto mais triste, de quem não conhece o que realmente se passa nas escolas. É por isso que o ensino está neste estado. Governo que só se interessa com números , jornalistas que escrevem notícias que não compreendem e a sociedade que só sabe opinar sem escutar quem realmente está no sistema. Ao autor do texto só me apeteceu dar um pontapé nos testículos, se calhar não fazia mal, porque se calhar vim de uma família referenciada.

    • Dina Cruz on 6 de Abril de 2019 at 16:00
    • Responder

    Escrevi este texto há 10 anos… Chamei-lhe “CABIDE”.
    Atualizei-o, há uns tempos, a propósito de uma atividade na escola.
    A realidade é a mesma… Nada mudou… Nos gabinetes, preocupam-se com o perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória, mas ninguém se preocupa com o perfil de entrada…

    São 9h da manhã. A campainha soa. Segue em reboliço em direção à sala de aula. Entra em desalinho. Poisa na mesa um caderno gasto e a caneta roída. Atura impaciente e aborrecido o professor e a disciplina que lhe interessa muito pouco (ou nada). Desenha uns rabiscos na margem do caderno de Matemática. Combina, cúmplice, um almoço no Mac. Decide horas e pontos de encontro. Regista o número do Zé no telemóvel topo de gama. Disfarça quando o professor pede para alguém ir ao quadro resolver a equação. Posta no Snapshat uma foto do Ronaldo enquanto o professor tira dúvidas à Raquel. Fizeste o TPC, Pedro? Não pude, setor, Ontem estive doente…Faz que copia do quadro a resolução do exercício. Troca mensagens no Insta sobre o novo jogo da PS4. Procura na mochila o Uncharted que o Luís lhe pediu. Toca para a saída. Vai para o intervalo. Joga à bola. Conversa sobre o filme que esteve a ver na Netflix, no dia anterior, até às quinhentas. Masca uma pastilha. Dá um empurrão ao colega. Entrega o jogo ao Luís. Toca para a entrada. Sobe, molengão, as escadas. Entra na sala. Português – Que seca!!. Manda um bilhete com um piropo de mau-gosto à Rita, que passa de mão-em-mão. Espera pela resposta que chega num insulto. O professor explica qualquer coisa sobre uma tal de Conjugação Pronominal, ou lá o que é. Cochicha umas coisas com o colega do lado. Toca para a saída. Acaba a aula – a última do dia. Porreiro!
    São 8.55h da manhã. Entra na sala. Poisa a pasta. Tira lá de dentro um sem número de livros e papéis, qual mágico da cartola. Abre o livro de ponto. Toca para a entrada. Espera, à porta, os alunos que teimam em tardar. Recebe-os com o sorriso de sempre e um bom-dia do fundo do coração. Olha-os, enquanto ocupam os seus lugares com a eterna esperança de conseguir abrir-lhes o horizonte e ajudá-los a ser, em cada aula.. Faz a síntese da aula anterior. Introduz o assunto da aula do dia. Explica. Volta a explicar. Decompõe. Troca por miúdos até já não ter mais moedas. Exemplifica. Exercita. Tira dúvidas. Perceberam? Pedro, não estás atento…Repete-se. Repetem-no. Ignoram. Ignoram-no. Irrita-se. Tenta compreender. Ajuda. Dá apoio. Ensina (ou tenta ensinar): a sentar-se, a comportar-se, a agir, a aprender, a apreender, a raciocinar, a seleccionar, a resumir, a sintetizar, a aplicar, a ser…Grava, no livro de ponto, os pontos tratados ao longo de 90 minutos. Despede-se com o mesmo sorriso de sempre e um bom dia do fundo do coração. Sai da sala. Encaminha-se para a sala de professores. Senta-se. À volta da mesa discutem-se estratégias, métodos, conteúdos, dificuldades diagnosticadas, casos pontuais de alunos que se atrasam, que não vêm, que vêm, mas que não estão, da ausência de pré-requisitos, dos pré-requisitos de alunos ausentes, de pais mais ausentes ainda…
    Chega a casa. Deixa a mochila à entrada da porta. Atira o blusão para o sofá da sala e as sapatilhas para debaixo da secretária. Liga a televisão. Estica-se na cama. Põe os fones e ouve o novo álbum do Piruka, para não ouvir a mãe. Ò mãe, traz-me um pão com fiambre! Já vou…Não tens nada da escola para fazer? Já faço. Come o pão. Liga o computador e mergulha no Fortnite, em assassinatos múltiplos. Liga ao Zé. Marca um jogo para Sábado. Desfolha o catálogo da Apple à procura da próxima prenda de aniversário. A mãe chama para jantar. Senta-se à mesa. Passa-me a salada. Não compraste Coca Cola. É sempre a mesma coisa. O jogo Benfica – Porto começa às nove. Sai da mesa a meio da refeição. Fecha-se no quarto. Vibra. Salta. Golooo!!! Rói as unhas. Intervalo. Ó mãe! Traz-me uma maçã! Já vou… Trinca a maçã. Já fizeste os trabalhos da escola? Já vai… O árbitro é parvo, ou faz-se?!!!. 3-0 para o Benfica. É sempre a mesma coisa!… Ihhh, amanhã tenho teste de Ciências. Que se lixe! Tive positiva no outro… Deita-se. Dorme.
    Sai da escola às 19.30h ao fim de duas reuniões depois das aulas. Vai tirar fotocópias de umas fichas informativas. Chega a casa. Liga o computador. Tem de terminar a acta do Conselho de Turma. Escolhe, entre muitos, um texto para o teste. Elabora questões. Faz cotações e correções, acomodações curriculares e planificações específicas. Repensa estratégias. Analisa casos concretos de alunos abstractos. Planeia aulas. Calendariza apoios e testes. Come qualquer coisa. E o Pedro? Não sei o que se passa com o miúdo… Ele até tem capacidades… Não se interessa. Não estuda. Não liga nada. Hoje não esteve atento. Fartou-se de conversar com o colega, de passar bilhetes à Rita… Tem tudo o que quer sem fazer esforço nenhum… Que objectivos há-de ter? Tenho de ter uma conversa com ele, amanhã. Se calhar, é melhor dar-lhe apoio. Pode ser que resulte… Corrige doze testes de uma turma. Está cansado. Exausto. Desliga o computador. Arruma a pasta. Deita-se. Dá voltas à cama. À pedagogia. À vocação. À estratégia. Ao desempenho. Ao desempenho dos 98 alunos que tem. Ao aproveitamento do Zé, do Rui, da Joana, da Isabel… Ao comportamento do Pedro, do João, do Carlos, da Sónia… Adormece.

    São 8h da manhã. A mãe já chamou três vezes. Vira-se para o lado. Adormece de novo…
    São 6h da madrugada. Toca o despertador. Levanta-se.

    E é, infelizmente, assim. Muitos meninos são entregues à escola, qual casaco usado à lavandaria: cheio de vincos, dobras, quebras, nódoas, pó… E a escola que sacuda, areje, limpe, lave, tire manchas mais ou menos entranhadas, dê um pontinho onde for preciso, passe a ferro, engome e no-lo entregue novinho em folha, como acabado de vir da loja, sem odores nem vícios, sem mácula ou vinco que nos deixe ficar mal… Mas a lavandaria não faz milagres, se votamos ao esquecimento os casacos, no armário, uma estação inteirinha… Depois, há sempre nódoas que teimam em permanecer…

    Dina Cruz

      • isamag on 6 de Abril de 2019 at 18:07
      • Responder

      Cara colega!

      Este texto espelha na perfeição aquilo a que assisto diariamente nas aulas e o que é mais grave, com o “apoio” da nova legislação – Dec.- Lei 54 – que dá a possibilidade aos alunos de fazerem o seu percurso escolar sem qualquer esforço, tal é a quantidade de medidas e estratégias que se podem aplicar para garantir que os alunos têm sucesso, mesmo sem o merecerem!
      Será que ninguém é capaz de ver que o nível de literacia, a qualidade das aprendizagens realizadas pelos alunos diminui na mesma proporção em que aumenta o sucesso educativo (leia-se ausência de retenções)?
      Há cada vez mais ignorantes diplomados; sabem ler e escrever, mas não entendem o que lêem e escrevem.
      Infelizmente esta é a realidade e será a estas gerações que estaremos entregues na nossa “velhice” – ALGUÉM que nos acuda!!!

      • Paula Ramos on 6 de Abril de 2019 at 22:06
      • Responder

      Boa noite. Como partilhar este texto? Obrigada.
      Paula Ramos

      • Anabela Magalhães on 8 de Abril de 2019 at 13:42
      • Responder

      Viva Dina!

      Será que posso publicar o teu texto no meu blogue?
      Aguardo!

    • Ângela Pat on 6 de Abril de 2019 at 16:21
    • Responder

    Desde quando é que um professor tem de ser pai , mãe, avó, amigo de um aluno? Esta é a ideologia corrente e aí de quem a contestar. Porque os pais, mães tiveram filhos porque sim ou porque não e em grande parte dos casos não sabem o que lhes fazer. Então temos crianças, quer dizer adultos problemáticos. E depois temos governos que não sabem o que fazer em tais casos. Então, lá temos os professores para ajudarem, para resolverem mais um problema que não lhes diz respeito. E ai do professor que não perceba isso. Mesmo que não tenha resposta, estratégias, só lhe resta aguentar e cara alegre. Porque se for um cota e se sentir humilhado na sua dignidade, arrisca se a levar no focinho do aluno ou do paizinho ou mãezinha. Nestes casos, estão sempre muito atentos

    • Ana Costa on 6 de Abril de 2019 at 17:17
    • Responder

    Não percebi de todo este este texto. Quem é o Sr. João André Costa? Qual o contexto da publicação de um texto que chega a parecer irónico, logo pelo título, mas que afinal até parece que nem é…a sério que o professor levou um pontapé e está a ser acusado num blog de projeção como o do Arlindo?!? A sério que o autor sugeriu que o professor devia estar impedido de “admoestar o aluno (…) já sinalizada na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens” depois de ele ter partido uma lâmpada da sala de aula por estar a jogar à bola lá dentro?!? A sério que alguém acha que o professor devia ter ido jogar à bola com o aluno a meio de uma aula deixando os restantes alunos sem aula?!? A sério que a nossa classe profissional está mesmo assim de gatas?!? A sério que este post merece ser publicado sem um comentário de quem o postou?!?
    O facto de um aluno de doze anos achar que pode “partir o focinho” de um professor é, para mim enquanto profissional, revoltante. O facto de no blog do Arlindo ser publicado um post a acusar o professor de ter culpa no sucedido, é revoltante, é desgastante, tira-nos toda a dignidade.
    Espero sinceramente que este post seja removido, porque nem imagino o que será para o colega agredido ler um disparate destes…

      • alecrim dourado on 6 de Abril de 2019 at 18:00
      • Responder

      Não percebeu, Ana Costa ? A sugestão que é dada pelo autor do texto e muito bem , é colocar no teto tantas lâmpadas quantas o aluno quisesse partir.

    • Mónica Almeida on 6 de Abril de 2019 at 18:07
    • Responder

    Já li duas vezes e ainda estou atordoada com aquilo que li… Da 1ª vez fiquei confusa. “Este texto é mesmo real? É irónico? Bem, vou ler outra vez!” Fiquei igual. Apesar de estar cansada e da ironia, quanto a mim, não estar muito bem conseguida, prefiro ficar a pensar que é mesmo isso. Um texto irónico. Mas a minha opinião vale o que vale. É como a dos outros 😉


  3. Anda a fumar algo, não anda?

    • Aurelio Terra on 6 de Abril de 2019 at 20:12
    • Responder

    Como Professor que levou no focinho só espero que o texto de João André Costa seja um exercício de pura ironia, embora me pareça mal conseguido aqui e acolá.Se pelo contrário, de modo sério, quer insinuar inabilidade minha para lidar com aquela situação então gostaria que tivesses estado no meu lugar para que eu pudesse ver como é que devia ter agido. Acredito, prefiro assim, que está do meu lado e que manifestou essa solidariedade através daquele texto. Se é é assim o meu muito obrigado.
    Apesar dos meus 63 anos, não sou um “velhinho” que se arrasta pela escola. Tinha capacidade física para resolver a situação de outra forma.Aí ninguém me valia e a minha carreira que conta já com 43 anos de serviço terminaria de forma inglória.
    Que este episódio, do qual não avanço pormenores por estar entregue aos tribunais, sirva para todos nós Professores nos indignarmos com a insegurança com que desempenhamos a nossa missão com a melhor de todas as intenções. Obrigado a todos, os colegas que que se solidarizaram comigo.

      • Anabela Magalhães on 8 de Abril de 2019 at 13:52
      • Responder

      A minha solidariedade. Eu, professora educadíssima com todos os meus alunos já estive a um milímetro de levar na cara de uma aluna “que não admitia ser contrariada” e que já tinha atacado uma enfermeira à dentada num qualquer hospital aqui da zona.
      Intolerável em tudo isto é o silêncio ensurdecedor da tutela, promotor e incentivador de novos casos de violência contra professores.


  4. O contexto educativo do autor do texto é inglês, onde se passa tudo aquilo que, para nós, parece irreal. O equivalente à CPCJ funciona a sério e @s docentes são informad@s da situação de alun@s considerad@s problemátic@s a fim de estarem prevenid@s e evitarem determinadas situações. Por outro lado, se @ docente não for informado e se algo semelhante acontecer ( jogar à bola na sala ou qualquer outro comportamento disruptivo) e @ docente reagir, levando a que @ alun@ seja volento, @ docente tem direito a indemnização.
    Concluindo: as situações são analisadas consoante o sistema educativo e social em que se vive.

    • Isabel Amores on 6 de Abril de 2019 at 20:17
    • Responder

    Eu parti do principio que o autor está a ser sarcástico; mas parece que há quem leia o artigo e o leve à letra. Mas continuo a acreditar que o que escreveu foi altamente irónico.

    • Zeca Aleixo on 6 de Abril de 2019 at 20:51
    • Responder

    Primeira ambiguidade: o senhor parece identificar-se com os professores, mas coloca-se, cruelmente, no lugar do carrasco; Segunda ambiguidade: o senhor parece ser ideologicamente pós-moderno, mas percebe-se-lhe uma certa rigidez ideológica. Terceira ambiguidade: o senhor parte, ao que parece, de um caso real, mas cai irremediavelmente na sua torre de marfim. Quarta ambiguidade: o senhor parece fazer uma análise crítica da sociedade coetânea, mas deixa-se inebriar por um conjunto de frases e de parágrafos desconjuntados, cujo denominador comum será, porventura, a construção esotérica. Quinta ambiguidade: o senhor, ao que parece, pensa que sabe escrever um texto irónico, mas acabou por redigir, isso sim, um pré-texto panegírico, cantando loas ao agressor. Quinta ambiguidade: o senhor arroga-se, ao que parece, em paladino das boas práticas pedagógicas, didáticas, sociais, etc., mas o seu texto revela um ethos incapaz de respeitar o outro – a sua idade, a sua dor, quiçá a sua vergonha. Sexta e última ambiguidade: o senhor escreveu um libelo contra um docente de 63 anos num espaço cujo alocutário específico é o professor – e, isso sim, isso é muito ambíguo. E contranatura. Já quanto ao seu conteúdo, o seu texto faz-me lembrar a rábula do juramento de bandeira e segundo a qual a esposa diz ao marido: “Olha lá para baixo para a parada! O nosso filho é o único que não troca o passo…”. E nisto que dá quando vemos o mundo com os olhos dos outros! Ou quando adotamos a posição alta – a do poder do momento [a opinião pública].

    • Mauro Penedo on 7 de Abril de 2019 at 1:23
    • Responder

    Claramente o Sr. João André Costa esqueceu-se de perguntar ao aluno se este queria dar uma voltinha de bicicleta com ele antes de ficar sem os óculos no “focinho”…

    http://www.arlindovsky.net/2018/10/opiniao-sou-professor-e-hoje-um-aluno-partiu-me-os-oculos-joao-andre-costa/

    • Fernanda Barros on 7 de Abril de 2019 at 7:34
    • Responder

    João André Costa, permita que lhe pergunte, é professor ou também escreve, como alguns comentadores, sem conhecimento do assunto?
    Educação é educação assim como respeito é respeito e não escolhe tipo, raça, cor, condição social, etc
    Coitadinho do menino que até telefona ao pai e só depois passa à agressividade física. Dá que pensar!

    • Luís Alves on 7 de Abril de 2019 at 10:35
    • Responder

    Solidariedade com o colega agredido: podia ser eu.
    O senhor André coloca-se naquela posição, excelente de resto, do ombro amigo das criancinhas, tão típico do pós-modernismo niilista…
    Será verdade que muitas destas crianças são geradas em meio disfuncionais… mas , por isso, há que mudar todas as regras de um sistema para pactuar com um problema que é 1 aluno?
    Sobre a ideia que a repressão não funciona sobre estes alunos dá-me vontade de rir… Ela não funciona porque em Portugal nem existe, nem pode ser exercida… Quer que eu lhe conte uns quantos países onde ela funciona? É típico do pós-modernismo o não respeito pelo Estado e por quem o serve… Estado forte não significa ditadura…
    Pobre Europa, pobres valores!

    • Alberto Miranda on 7 de Abril de 2019 at 12:41
    • Responder

    O “grande” erro do professor foi não ter marcado falta disciplinar ao aluno, imediatamente após o discente entrar na sala de aula a jogar à bola e ter partido uma lâmpada.O docente chamava a funcionária para retirar o “delinquente” da sala e a aula só continuava quando a “criatura” saísse.

      • Aurelio Terra on 7 de Abril de 2019 at 12:53
      • Responder

      Colega
      Fala-lhe o colega agredido.A colega não conhece o aluno.
      Neste caso a marcação da falta disciplinar nada resolvia. Se lhe marcasse falta disciplinar obviamente que o aluno não sairia da sala de aula como partiria logo para a agressão. Asseguro-lhe.
      Também é óbvio que nenhum funcionário tiraria o aluno da sala de aula. Teriam que usar a força e corriam o risco de estragar a sua carreira. Também não seria a Direção quem o ia tirar à força do músculo. A alternativa seria chamar a Escola Segura, mas quando estes chegassem já a aula teria terminado.
      Ou se promovem alterações na lei que permitam que alunos complicados tenham um percurso diferente já no 2º ciclo ou então continuaremos a apanhar na cara.
      Um abraço

        • Alberto Miranda on 8 de Abril de 2019 at 10:30
        • Responder

        Colega,
        Antes de mais quero transmitir a minha sincera solidariedade.
        Eu tenho a noção que só quem está nestas situações complicadas é que sente na “pele” a gravidade de tudo.
        Não quero dar lições a ninguém, mas eu não continuava com a aula enquanto o “delinquente” estivesse dentro da sala…tinha que vir alguém da Direção do Agrupamento para resolver a situação e a Escola Segura. Enquanto não houvesse as condições necessárias eu recusava-me a dar a aula.
        Cumprimentos,


  5. Se este texto é ironico a ironis é fraca. Se não é o autor deve ser convidado a ir para uma sala de aula com trinta alunos sinalizados e levsr no focinho e nos testículos até eles se cansarem. Depois passa a piar de outra maneira.

    • Felipe on 7 de Abril de 2019 at 16:58
    • Responder

    A aberração neste caso é o facto do docente estar a trabalhar com 63 anos. Temos que exigir a aposentação aos 60 anos para os professores do básico e secundário, caso contrário cenas como essa continuarão a acontecer


  6. Existem alunos como os que o autor mencionou, infelizmente (que eu, dentro dqas minhas limitações, tentei fazer de pai, de mae, de amigo e até de professor)….e existem os outros,maquiavelicos, exibicionistas que se querem mostrar aos outros como os que desafiam a hierarquia, seja o funcionário do corredor, o professor, o director, a policia etc….

    • Maria Manuela Rocha Pinto on 8 de Abril de 2019 at 20:37
    • Responder

    O sr. João André Costa deve ter estado presente na altura dos factos, tal as certezas que manifesta no seu texto. Mais, deve ter informação privilegiada, pois também não lhe restam dúvidas sobre o que o professor sabia ou não, o que a direção comunicou ou deixou de comunicar, a situação do aluno, etc.
    Sou colega do Aurélio, sei bem o que se passou e o senhor, sr. João Costa, seja mais cuidadoso com as suas afirmações. Não tenha a leviandade de pensar que é dono da verdade.


  1. […] ao mail, do Blog de Ar Lindo uma opinião  de um professor cujo simples soar do nome me dá a volta às entranhas… já […]


  2. […] Como Professor que levou no focinho só espero que o texto de João André Costa seja um exercício … Apesar dos meus 63 anos, não sou um “velhinho” que se arrasta pela escola. Tinha capacidade física para resolver a situação de outra forma. Aí ninguém me valia e a minha carreira que conta já com 43 anos de serviço terminaria de forma inglória. Que este episódio, do qual não avanço pormenores por estar entregue aos tribunais, sirva para todos nós Professores nos indignarmos com a insegurança com que desempenhamos a nossa missão com a melhor de todas as intenções. Obrigado a todos, os colegas que que se solidarizaram comigo. […]

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