Grupo de trabalho criado pelo Governo analisa programas, metodologias de ensino, taxas de recuperação, e o insucesso da disciplina. Associação de Professores de Matemática espera que os professores sejam consultados sobre as aprendizagens e o envolvimento dos seus alunos.
O Governo criou um grupo de trabalho que já está a analisar o fenómeno do insucesso a Matemática, abrangendo as vertentes de ensino, aprendizagem e avaliação, para apresentar as suas recomendações até 30 de junho deste ano. Este grupo, que tem 10 professores e é coordenado pelo matemático Jaime Carvalho e Silva, professor associado do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, debruça-se sobre as duas últimas décadas de ensino da Matemática nas escolas básicas e secundárias do país.
O Ministério da Educação (ME) quer ter vários dados na mão, desde logo a evolução dos resultados da disciplina nas duas últimas décadas, bem como a eficácia e a eficiência dos diversos e diferentes planos e medidas dirigidas à melhoria das aprendizagens a Matemática e respetiva promoção do sucesso escolar. A tutela quer mais informações sobre as metodologias de ensino e o seu impacto nos resultados, instrumentos de avaliação interna e externa, e perceber a evolução dos resultados dos estudos realizados e que comparam diferentes realidades sobre esta matéria em termos internacionais.
A Associação de Professores de Matemática (APM) saúda a criação do grupo de trabalho que, aliás, já vinha a pedir há pelo menos três anos. Lurdes Figueiral, presidente da APM, refere ao EDUCARE.PT que a medida é bem-vinda “pela urgência de termos uma avaliação da situação do ensino e da aprendizagem da Matemática, dadas as perturbações curriculares introduzidas pelas alterações de 2013 e 2014 nos programas do Ensino Básico e de Matemática A, por um lado, e a necessidade de atualizações de alguns programas já desadequados, por outro”.
“Em nosso entender, seria muito importante perceber exatamente as consequências das alterações realizadas na legislatura anterior dos programas referidos, não só em termos de resultados, mas sobretudo em termos de adesão à disciplina por parte dos alunos e do sentir dos professores sobre as aprendizagens e envolvimento dos seus alunos com estes programas. E perceber também que outros programas deveriam ser alterados por não responderem já ao fim para que foram criados como é o caso de Matemática B, por exemplo”, sublinha.
Avaliar em que medida a coexistência de Programas e Metas Curriculares e Aprendizagens Essenciais tem sido benéfica e clarificadora para os professores na planificação das atividades letivas e na avaliação dos alunos também ajudará a perceber o que se está a analisar. “Não temos dúvidas da necessidade de uma reforma curricular mais profunda e abrangente, não só no que diz respeito à Matemática, mas a todo o desenho curricular dos atuais ensinos básico e secundário. Haja coragem e investimento para tornar isso possível”, afirma Lurdes Figueiral.
Flutuações e correlações
Nos últimos anos, os intervenientes educativos têm levantado várias questões em torno dos documentos curriculares em vigor, sobretudo constrangimentos relacionados com a extensão do programa de Matemática e a impossibilidade do seu cumprimento, além de metas curriculares demasiado ambiciosas. No ano letivo passado, mais de metade dos alunos teve negativa no exame nacional do 9.º ano e um terço dos estudantes terminou o Ensino Básico com negativa.
O ME continua preocupado com os resultados a Matemática na escolaridade obrigatória. No despacho publicado em Diário da República, a 28 de dezembro do ano passado, o Governo admite que as elevadas taxas de retenção na disciplina de Matemática são um desafio a que “urge dar respostas”, apesar, sustenta, “das inúmeras iniciativas e medidas desenvolvidas ao longo do tempo”.
“Neste sentido, torna-se premente uma análise profunda guiada por parâmetros relevantes para o estudo, como sejam o histórico de taxas de sucesso, flutuações e correlações, as taxas de recuperação, a evolução dos programas da disciplina de Matemática, a eficácia de medidas de apoio ao longo dos anos e a análise de práticas, o Plano de Ação para a Matemática (PAM), o impacto de programas de formação, os instrumentos de avaliação interna e externa, incluindo o estabelecimento de comparações internacionais, designadamente a relação com testes internacionais”, lê-se no despacho governamental.
Com esta análise do grupo de trabalho, o ME quer sustentar intervenções na área da Matemática de forma a melhorar a resposta do sistema educativo e, mais especificamente, melhorar as aprendizagens dos alunos. O relatório síntese que o grupo de trabalho irá elaborar, com o ponto de situação e indicadores relevantes, será submetido a discussão pública.