A melhor tese é portuguesa e cruza teoria dos jogos com troca de rins | Europa | PÚBLICO
Margarida Carvalho jogou com optimização combinatória e teoria dos jogos para provar (mais uma vez) que a matemática pode ajudar, por exemplo, a maximizar o número de transplantes de rins. É dela a melhor tese de doutoramento da Europa.
“Se tivermos um programa europeu de troca de rins, provavelmente conseguimos salvar mais pessoas do que se tivermos programas [de doação renal cruzada] a funcionar apenas a nível nacional” – a afirmação é de Margarida Carvalho, investigadora portuguesa na área da matemática que formulou, pela primeira vez, “um jogo para modelar programas de trocas de rins envolvendo hospitais de vários países” que parece simples. Afinal, assim teríamos “muito mais possibilidades” de compatibilidade entre dadores e utentes, começa por explicar a investigadora, cuja aplicação prática da tese no sector da saúde lhe valeu a “melhor dissertação de doutoramento na Europa”, nas áreas da investigação operacional.
O problema é que, nesta hipotética rede europeia de troca de rins – que até já está a ser pensada –, cada país iria continuar a jogar por si. Portugal, por exemplo, iria fazer por ter o maior número de transplantes renais nos seus hospitais. E, culpa da falta de vontade em colaborar, o “benefício social colectivo seria menor”, analisa a pós-doutoranda a viver em Montreal, no Canadá, há um ano. “Então, o que eu fiz foi desenhar um mercado de troca de rins com muito boas propriedades do ponto de vista do bem-estar social.”
“É um jogo onde todas as entidades [países, se falarmos no contexto europeu; hospitais se considerarmos o modelo norte-americano] têm incentivos apropriados para participar”, explica a investigadora portuguesa ao P3, via Skype, a partir daquela cidade canadiana. “Todos ficam felizes com a solução do mercado e a solução encontrada maximiza o bem-estar social” – traduzido num aumento do número de transplantes efectuados.