A rotina já se repete há alguns dias. Apronto-me, saio de casa com a papelada debaixo do braço, chego à escola pontualmente e aguardo.
Estamos todos no conselho de turma, mas a greve vai rodando à vez e todos contribuem para o fundo comum que cobre o desconto de quem é responsável por esse dia.
Assina-se a folha de presenças, exceto a pessoa que, na escala definida, assume a resistência, mas não abdica de estar presente.
E desde que isto começou, apesar de todos prosseguirmos o nosso trabalho na escola, não se cumpriu um único conselho de turma.
As notícias vão discorrendo nos jornais, os comentadores vão criando, na opinião pública, a ideia feita de que os professores são uns malandros a exigir o impossível, mas nós aqui continuamos firmes, dia após dia, no silêncio belicoso de quem se sente profundamente injustiçado.
Fazemo-lo porque não admitimos que a nossa profissão seja um mero jogo do bingo.
Que promessas que asseguraram votos sucumbam como um castelo de cartas.
Que 9 anos, 4 meses e 2 dias sejam esmagados, ignorados, espezinhados, enquanto vislumbramos bancos reerguerem-se sobre os nossos escombros, corruptos auferirem reformas astronómicas com incontável desprezo pelo bem público, jogadores de futebol serem transferidos por verbas apenas imagináveis em sonhos.
Temos o mundo virado do avesso, mas o avesso do mundo ainda tem remédio.
Se não nos podem pagar em dinheiro, sejam criativos, sejam audaciosos, sejam promissores. Mas não finquem o pé com a imaturidade de crianças pequenas que não gostam de ser desmentidas ou contrariadas.
Os professores merecem respeito. E, sobretudo, estão cansados de ser o alvo favorito de todas as culpas.
Aquilo que os nossos políticos continuam a ignorar é que, apesar de sermos uma classe com grandes divisões internas, une-nos a todos a determinação pelo bem comum.
E esse bem comum é, em primeiro lugar, os nossos alunos: só por eles abraçamos a profissão, passamos fins de semana a trabalhar, navegamos horas e quilómetros para chegar à escola, deixamos os nossos filhos entregues a desconhecidos, apostamos numa formação qualificada e não desistimos quando todas as hipóteses estão contra jovens em quem já ninguém acredita.
A cada um deles demos 9 anos, 4 meses e 2 dias de boa vontade, com perseverança e tenacidade.
Ignorar isso é ignorar a essência da nossa profissão e, nesse caso, não merece de todo, o lugar que aufere.
Aos meus colegas deixo aqui o meu reconhecimento pela atitude altruísta e resiliente com que têm cruzado estes dias.
Também por todos vocês me orgulho de ser professora! E por todos nós prosseguirei nesta luta.
Sou professor e sou também pai, Encarregado de Educação e membro de uma associação de pais. Em qualquer momento a CONFAP auscultou a associação a que pertenço, para tomar esta ou qualquer outra posição. A CONFAP pode dizer o que entender em nome dos seus dirigentes. O que não pode é alegar que fala em nome dos pais!