– Isto assim não pode ser! Não se admite!
– Não se admite, não, Sr. Ministro.
– Qual de vocês fez porcaria? Quem foi?
– Sr. Ministro, se me permite… Bom, averiguada a situação perniciosa, acho que as coisas foram assim: o assessor das graduações inseriu os dados, estes foram transferidos para serem geridos pelo assessor das colocações que, feito o levantamento global, os transmitiu ao assessor que trata das reclamações, o qual, por seu lado, já tinha lançado as exclusões, depois passaram tudo para o assessor da informática que introduziu no programa as variantes para, depois, o assessor que compila ficheiros inserir no programa os ficheiros com as listas definitivas de tudo. De toda a gente, está a ver, os internos, os externos, os extraordinariamente integrados, todos, todos.
– E são muitos, Sr. Ministro!… São tantos, benz’ aos Deus, uma catrefada de professores que temos de colocar em alguma parte, em parte alguma e sobram uns quantos, que também são muitíssimos, em parte nenhuma.
– De forma que estava tudo previsto para amanhã.
– Mas, de algum modo, alguma coisa, algures correu mal. Não é possível precisar, isto são situações que…
– Que nos ultrapassam, que nos superam, que nos obliteram…
– Caramba! Ainda por cima já lançámos a notícia das colocações, as listas saem um dia antes, são retiradas para sair um dia depois… Que baralhada, isto simula uma situação de grave incompetência. Tem de rolar uma cabeça…
– Concordo consigo, Sr. Ministro. Proponho que mande regressar à escola o Zé Carlos, do atendimento presencial.
– Sim, se é para mandar alguém embora, alguém que tem culpas, a culpa é do Zé Carlos que nunca está no posto de trabalho, não pica o ponto, não atende telefones, não clarifica as dúvidas dos professores.
– Seja. Tratem disso. E as listas?
– Sr. Ministro, as listas, obviamente, saem amanhã. Dizemos que houve um “bug”, um ataque informático, qualquer coisa que justifique esta grave falha, obviamente de origem não humana.
– E com novidades?
– Não, fica tudo na mesma. De qualquer modo, os professores podem matar a ansiedade no blogue do Arlindo, parece que o tipo sacou as listas antes de as eliminarmos de vez. Sempre serenam os ânimos 24h…
Na outra ponta da sala a discreta empregada de limpeza finaliza os retoques no pó da estante ministerial. Percebe o nervosismo do Ministro, a ansiedade geral
da equipa de assessores. Escuta a conversa e pondera, por que razão o informático tem a mania de beber café junto ao computador. Ela não tem culpa de ter entornado o líquido no teclado esta tarde, enquanto fazia diligentemente o seu ofício. Se é para assumir culpas, o Zé Carlos que as assuma. Afinal, nunca pica o ponto, não atende telefones, não clarifica as dúvidas dos professores.
Caramba, se não queriam que as listas saíssem, quem lhes mandou pedir a limpeza das secretárias à hora do almoço?…
4 comentários
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Sem piada nem piadinha nenhuma!
Caramba, Arlindo ! Depois dum momento de humor como este quem é que vai quer saber do Zé Carlos e muito menos do Ministro ? Bem, do Ministro, só se for mesmo Assunção Cristas mas a essa já ninguém liga nada, pois está sempre a pedir a demissão de gato e sapato.
Venham lá essas listas , então . Cresçam e apareçam.
Como há muito se previa, sem a saída dos professores mais velhos os mais jovens não terão direito a nada:
https://sol.sapo.pt/artigo/572819/ministerio-anula-entrada-de-200-professores-nos-quadros
A palhaçada está generalizada e já percebemos pela tragédia dos incêndios que o que eles querem é “pouco barulho”. Lastimável o modo como esta gente desqualificada tem tratado os professores. Nas Escolas circula a ideia que no fundamento da discriminação aos professores está o espírito vingativo de Sócrates. Bem… se o homem ainda manda assim é bom que o PS faça uma grande purga porque assim não tem futuro.