O Conselho Geral analisou criteriosamente os documentos, fez perguntas difíceis nas entrevistas e até lhes verificou os dentes. Havia que decidir e, postas as coisas em modo simplificado, o caso resumia-se a uma arrepelada, um deprimido e um gajo com mania que era “escritor cibernáutico”. Para assegurar que não se falhava a escolha acertada, um dos presentes tirou a bolinha da sorte do saquinho dos nomes da forma mais profissional possível. Saiu a sorte ao gajo que se julgava “escritor cibernáutico” o que, feitas as contas, não parecia o cenário pior. Porém, o que ninguém imaginava era o resultado seguinte. O gajo que tinha a mania que era “escritor cibernáutico” tinha, também, a mania que era democrata. E, todos sabem que, não há nada pior numa escola do que um democrata com a mania de ter lido Karl Marx e estudado a revolução francesa. A escola precisa de um DI-RE-TOR. De alguém que imponha a ordem, a certeza das incumbências e distribua, sem temor, as incumbências certas. Contudo, mal tomou posse, o sacaninha do arrivista cibernáutico estragou logo a previsão de sossego que se ambicionava. Qualquer decisãozita, lá marca ele uma reuniãozinha enervantemente democrática. Muito gosta o senhor de ver mãozinhas no ar a decidir com ele, ou por ele, depende do ponto de vista. Diretor que é DI-RE-TOR não hesita, não duvida, apenas decide e impõe a sua visão, mesmo que seja pitosga de todo. Mas este ímpio desgraçado tem a mania que governar é isto: ouvir a opinião de quem o rodeia. É para marcar reuniões? Votem nos dias que vos dão mais jeito. É para corrigir exames? Indiquem as vossas preferências. Tem de se decidir a distribuição do tempo letivo? Refiram o que vos dá mais jeito. A coisa é tão ostensivamente ridícula que chegou ao ponto de o gajo com a mania que era “escritor cibernáutico” armado em democrata ter criado um inquérito online para a comunidade escolar votar na cor favorita do papel higiénico a comprar para a escola. Paneleirices. Até parece que o orçamento participativo ganhou uma nova dimensão neste agrupamento, com decisões politicamente corretas, discutidas em equipa, em grupo, em assembleia de professores, de alunos, de funcionários, de pais. Todos têm que dar opinião e partilhar ideias. Onde é que isto já se viu? E andamos nesta treta vai para uns meses com o gajo a sorrir-nos de orelha a orelha mal entramos na escola, bom dia para cá, bom dia para lá, tu isto, tu aquilo, até parece que em vez de mandar o gajo é nosso amigo. Escola que é escola não tem necessidade disto. Dá-me cá uns nervos…
RuDi