O que já se estava à espera. Não se chegou a lado nenhum com a “conversa” de hoje. A única solução é ir para a luta, porque este é um momento de luta e por isso temos que ir para a luta… já temos 900 fotografias de professores e se for preciso teremos muitas mais para mostrar ao sr. ministro… um discurso um pouco confuso, mas digno de se ouvir.
Depois de ter verificado que existe um saldo positivo de 69 vagas deixo aqui o saldo de vagas positivas e negativas por grupo de recrutamento.
Existem 4612 vagas positivas (pelo que ouvi o comunicado do ME refere 4609, mas confio como sempre mais nos meus dados) e 4543 vagas negativas (o ME não informou em comunicado número de vagas negativas).
Em breve serão apresentados estudos de vagas por Grupo de Recrutamento e QZP, não sei se valerá a pena apresentar por Concelho. Mas se vir que os dados são importantes tento fazer também por Concelho.
Este é o saldo total de vagas no concurso interno de 2017.
Estou surpreendido pela positiva por não terem sido consideradas as inúmeras vagas negativas enviadas pelas escolas na plataforma do apuramento de vagas.
A análise final será feita nas próximas horas com a contabilização da soma de vagas negativas e positivas por grupo de recrutamento.
Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2017/04/vagas-a-preencher-pelos-concursos-interno-e-externo-no-ano-letivo-de-20172018-portaria-129-b/
Todos sabemos que uma casa não se constrói a partir do telhado mas a partir dos alicerces. É verdade que há muito que mudar no sistema de ensino, mas se não encararem as mudanças a fazer no 1º ciclo esqueçam… o que vier depois serão remendos quando o sentimento de insucesso e a rejeição à escola já está instalada, diria mesmo enquistada.
Se não se mudar radicalmente o 1º ciclo, continuaremos a ter crianças e jovens que cedo perdem a curiosidade e o interesse pela aprendizagem, fragilizadas, desconfiados, descrentes, sem confiança em si e na sua capacidade de aprender. A pressão diária instalada na escola e seguida pelas famílias dá cabo da capacidade de SER criança, de SER jovem. Em plenitude.
O que se passa hoje no 1º ciclo é completamente absurdo. Perante tal absurdo pergunto-me: quem decide ainda saberá o que é SER CRIANÇA? Terá crianças por perto ou vive numa bolha?
Compartimentou-se de tal modo o conhecimento em disciplinas que as crianças não vislumbram a associação à realidade. Qualquer pequena fatia de jardim perto da escola, com diferentes árvores, arbustos, flores, em que se passeiam lagartixas, minhocas, formigas em que esvoaçam melros, pardais, borboletas, escaravelhos, pode dar lugar a um exercício vivo de interação e descoberta em que a identificação, o registo, a categorização, a pesquisa sobre os diferentes seres vivos observados e suas caraterísticas alimenta a curiosidade e traz um conjunto inesgotável de conhecimento à medida da idades das crianças. Não será seguramente um conhecimento assente em ler e copiar páginas do manual de Estudo do Meio mas sim algo natural e vivo que casa o Estudo do Meio, a Matemática, a Escrita, a Leitura e a conversação, as Expressões.
Do mesmo modo aprender a ler não pode continuar a ser uma corrida de alta velocidade com metas estapafúrdias ditadas de cima. Não pode ser centrado em metodologias únicas, antiquadas e ineficazes que com umas pinceladas de novidade são apresentadas nos manuais escolares. Aprender a ler, a escrever e ficar com o bichinho da leitura exige uma outra abordagem que faça sentido no mundo em que estamos.
Como no passado e no presente não poderá continuar-se a ensinar uma classe como se fosse um só aluno, isto é, fazendo igual para todos; não podem mandar-se repetir e repetir de novo as matérias em aulas de apoio suplementar como se as crianças fossem atrasadas. Dê-se-lhes tempo, puxe-se pela sua curiosidade inata, estimulem-se os progressos, faça-se da avaliação algo em que tudo conte incluindo o trabalho que todos os dias é feito pela criança em aula, cinco dias por semana, mês após mês. A avaliação centrada exclusivamente em testes é um absurdo para crianças desta idade, como se o imenso trabalho que fazem todos os dias fosse de deitar ao lixo. A obsessão dos últimos anos de tornar a organização do 1º ciclo igual à dos ciclos seguintes tem causado imensos danos às crianças.
Quem está atento sabe que há pouco para inventar, o que há de melhor também se faz em Portugal ainda que em pequena escala. Temos escolas e salas de aula que fazem diferente. Temos tido muitos projetos inovadores com instituições de suporte, temos escolas e professores que os podem partilhar como estímulo para outros. Temos dados disponíveis, investigações que apontam caminhos, pedagogos, pensadores e cientistas interventivos. O diretor do Departamento da Educação da OCDE, Andreas Schleicher, diz que é preciso reorganizar a aprendizagem, com “ousadia”, diz que “Portugal tem obviamente assistido a um enorme progresso, mas precisa de ter cuidado para educar as crianças para o seu próprio futuro e não para o nosso passado. “
Para mudar o processo de ensinar no 1º ciclo é preciso esperar mais tempo SENHOR MINISTRO? Mais experiências? Andamos há décadas nessa lógica. Poupem-nos! A nós, às crianças, aos professores.
E parece que vão mesmo acertar e também foi essa a minha previsão, apesar de circularem imagens pelo Facebook dando conta que o MEC tinha garantido o concurso apenas para depois da Páscoa.
Artigo publicado hoje no Observador sobre alguns aspectos dos concursos, em especial a incidir na mentira sobre o real apuramento de vagas e na expectativa criada aos docentes dos quadros de agrupamento para a aproximação à sua residência.
E para terminar este breve artigo sobre a pouca estabilidade do corpo docente e a muita instabilidade legislativa, constata-se que as escolas, no apuramento de vagas para o concurso interno deverão apurar pelo menos umas dez mil vagas negativas de quadro de agrupamento.
E, se for verdade, então, o preâmbulo vale tanto como um balde de lixo, porque nenhum docente do quadro de agrupamento por obter a primeira prioridade no concurso interno conseguirá aproximar-se da sua residência.