Mais Expressões no 1º ciclo…

 

Citando Rui Lima em, A Escola que temos e a Escola que queremos, “ Fazer algo diferente do habitual, «fora da caixa», romper com as práticas fortemente enraizadas nas escolas e no seio da profissão docente é, talvez, um dos maiores desafios que se põe a um professor.”, quiçá, a um decisor nesta área de governação.

Tudo indica que está a ser preparado um perfil do aluno, à saída da escolaridade obrigatória, em que se indica o reforço das expressões. Mas a escolaridade obrigatória começa no 1º ciclo, que tem uma carga horária de vinte e cinco horas letivas, acrescidas de cinco horas de Atividades de Enriquecimento Escolar.

Hoje em dia, a maior parte das escolas, tem uma distribuição da carga horária dos alunos em que a disciplina de Português e a disciplina de Matemática são as rainhas, oito horas semanais para cada uma. Deixam nove horas semanais para Estudo do Meio, Apoio ao Estudo, Oferta Curricular e para as diferentes Expressões. Expressão Físico Motora, Expressão Plástica, Expressão Dramática e Expressão Musical, tudo isto, condensado em três horas semanais. A carga horária é uma das limitações mais evidentes no ensino das Expressões. Mas o problema não reside só aí. A alteração dos currículos foi o grande motor da, ainda maior, secundarização das áreas de Expressão.

Os currículos encontram-se desajustados, principalmente o da disciplina de Matemática, não os ajustaram à carga horária, ao modelo de ensino “disponível” e a meu ver, à idade do público-alvo. Mas isso, são desabafos de quem é confrontado com estes problemas, todos os dias, no terreno.

As competências essenciais vêm abrir um caminho, já trilhado por alguns no passado, a todos. Resta-nos saber se as pedras desse caminho são grandes ou pequenas. Se a realidade de cada escola poderá levar as crianças a almejar um mesmo futuro ou se as vai circunscrever em futuros diferentes. Os medos, nossos, deles e dos outros, são os mesmos. O que vem aí desta vez? A mudança assusta, faz reavivar velhos receios e experiências menos positivas. Mas a escola tem de mudar, porque a mudança é o motor de qualquer amanhã. A escola tem de construir um novo projeto. Tem de calcurrilhar um caminho que exerça a transformação social que nos é exigida, onde a comunidade seja, toda ela, um espaço de todas as aprendizagens.

As Expressões, no 1º ciclo, necessitam de uma nova vida. Necessitam de uma importância que lhe tem sido limitada e incapaz de transmitir, na sua magnitude, todo o seu potencial. Numa escola o essencial não é só aprender a ler, escrever e contar até dez… é aprender a ser.

 

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7 comentários

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    • Agnelo Figueiredo on 3 de Março de 2017 at 20:41
    • Responder

    O programa de Matemática do 1.º Ciclo está muito bem concebido e, por isso, espero que não seja alterado. Já o do 2.º Ciclo…

      • Alexandre on 4 de Março de 2017 at 23:33
      • Responder

      O que considera negativo no do 2.º ciclo?

      O do primeiro ciclo é ambicioso (da época Crato e patrocinado pela SPM) como já era o anterior (da época MLR e patrocinador pela APM). Como qualquer mudança, inicialmente custa a interiorizar. Se tivesse sido acompanhado de formação generalizada as ondas de contestação teriam sido menores.

  1. Muito bom Rui. Parabéns pelo artigo!

  2. As Expressões (no 1º, 2º e 3º ciclo), necessitam de uma nova vida. Necessitam de uma importância que lhe tem sido limitada e incapaz de transmitir, na sua magnitude, todo o seu potencial.

    “Em 2001, o humanismo do PS (via Santos Silva/Benavente) decidiu contemplar a matriz curricular do 3º ciclo com as “áreas curriculares não disciplinares” (Área de Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica) NUM TOTAL DE 675 MINUTOS QUE SACOU SEM DÓ NEM PIEDADE PRINCIPALMENTE À ÁREA DAS ARTES (FORAM 225 MINUTOS A MENOS, CERCA DE 25% DO TOTAL) e 170 das Ciências Sociais e Humanas (menos 170 minutos, mais de 20% do total). Os restantes cortes foram na ordem dos 10% ou pouco mais.

    Em 2012, quando Nuno Crato extinguiu aquilo que há muito não passava de peso morto no currículo (um dia podemos discutir porque falhou, sendo que eu me lembro bem da forma como foram anunciadas e como depois foram implementadas), a reposição de tempos lectivos contemplou com generosidade as Ciências (que ganharam o dobro do que tinham perdido, sendo a única área em que o saldo foi positivo no século XXI), repôs as perdas do português e da Matemática, manteve as coisas em Educação Física, acrescentou menos de metade de um tempo a História e Geografia e DECEPOU DEFINITIVAMENTE A ÁREAS DAS ARTES E TECNOLOGIAS QUE FICARAM COM MENOS DE METADE DO TEMPO QUE TEVE DURANTE A ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO XX (RESTARAM 445 DOS 900 MINUTOS).”
    In:
    https://guinote.wordpress.com/2017/02/25/livrai-nos-senhor-dos-humanistas-2/
    https://guinote.files.wordpress.com/2017/02/img_4023.jpg?w=450&h=670

      • era_o_que_faltava on 5 de Março de 2017 at 16:16
      • Responder

      O 1.º ciclo, caso se cumprissem as recomendações de entidades independentes, deveria ter sido alvo de duas alterações estruturantes:
      – Do 1.º ao 6.º ano;
      – Pluridocência.
      Mas, como está instituído que a Escola Pública é para fazer de conta, continuamos como no Quartel General de Abrantes.

  3. Bom dia.
    Promover um aumento das horas semanais nas disciplinas das expressões, não só torna o currículo mais rico como poderá eventualmente representar o seguinte:

    – permitir que as disciplinas das expressões sejam lecionadas por professores com habilitação específica na área
    – reduzir a carga horária semanal do professor do 1º ciclo (eternamente prejudicado face aos colegas dos restantes ciclos)

    A monodocência já lá vai, o Inglês já está instalado.
    Faltam agora dar os restantes passos na Expressão Físico Motora, Música, Plástica.
    Na minha opinião justifica-se a criação de novos grupos de recrutamento para a lecionação destas áreas – à semelhança do que aconteceu com o Inglês.

    Esta situação poderá representar também novas oportunidades para muitos professores que ainda não conseguiram entrar no sistema.

    Claro que isto trás custos, sim e muitos.
    Mas a discussão da qualidade do ensino tem andado (erradamente) muito afastada da realidade do 1º ciclo.
    Promover um ensino de (mais) qualidade passa também por investir mais.
    E aqui está o “cherne” da questão!!

    E não, não me estou a esquecer o pré-escolar, aí sim é verdadeiramente onde tudo começa!!

      • Alexandre on 6 de Março de 2017 at 19:24
      • Responder

      Completamente contra! Uma criança de 6 anos, não pode ter um entra e saí de professores. As primeiras aprendizagens são globais.

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