As declarações de Mário Nogueira deixavam antever a insatisfação geral com as propostas do ME, declarando mesmo que a proposta “não é aceitável”.
As declarações da Secretária de Estado deixam transparecer aquilo que já sabemos há muito, porque deixa entender que não há dinheiro, quando fala em “limitações e dificuldades que não podem ser ultrapassadas de imediato”.
A secretária de Estado Alexandra Leitão afirmou ao CM que “esta equipa ministerial já deixou clara a preocupação com a estabilidade do corpo docente” e nesse sentido “foi proposta uma vinculação extraordinária de professores, bem como alterações à norma travão”. “Pese embora existam limitações e dificuldades que não podem ser ultrapassadas de imediato, foram apresentados contributos que permitirão introduzir melhorias importantes no sistema”, rematou.
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A funcionária da portaria irrompeu pela escola adentro aos berros. Tinha levado uma valente galheta ao tentar separar dois jovens pré-adolescentes embrulhados numa briga à saída da escola.
Com o sangue a escorrer pelo roxo nariz abaixo, soluçava a sua fúria a quem a queria ouvir, que “não me pagam para isto, este bando de malandros sem educação, parecem uns animais selvagens” e avançou, pingando o átrio do pavilhão e salpicando umas quantas paredes que não se lhe desviaram do caminho.
A algazarra era tão audível que, na sala de professores, ficámos na expectativa de perceber quem seria o azarado DT que ia ter de tratar de mais este grossíssimo pincel. Azar dos azares, calhou ao Rodrigues, porque depressa se ficou a saber que os adolescentezitos eram dele.
O Rodrigues lá se encaminhou, cabisbaixo e rubicundo, a reclamar que sobrava sempre para ele, o que, felizmente, para os restantes é verdade. Calhou-lhe um concentrado de problemas ambulantes, mas, que se dane, porque cada um de nós, DTs, já tem a sua dose cármica de chatices.
Quando chegou ao portão, porém, constatou que nova animação se avizinhava, agora do lado de fora do muro.
A mãe de um dos gaiatos aproximou-se do colega briguento e tratou de exigir explicações: quis logo saber quem é que ele julgava que era para pontapear o seu honrado descendente de forma tão vil, acrescentou, resignada, que os progenitores sofriam de incompetência educativa, mandou-o de volta para o útero da infame progenitora e concluiu o pedagógico discurso com algum vocabulário do velhinho vernáculo nacional que, como todos sabem, valida sempre qualquer argumento.
Nisto, está a dita senhora junto ao muro exterior da escola com o filho agarrado à saia a incitá-la, ela a espetar o dedinho eriçado junto às narinas do outro flausino, e eis que entra em cena o pai do ofendido. Confronta a senhora, esta riposta quando, inesperadamente, no auge da cena, uma inesperada reviravolta na intriga nos apanha desprevenidos. Subitamente, o progenitor de tão genial criatura, irrita-se com o próprio filho e zááástráspás, toma lá que já almoçaste.
Não obstante a estrondosa galheta que o educando recebeu, ocorre, agora, nova alteração no enredo que nos deixou, a todos os que aguardavam o desfecho para cruzar sem perigo o portão da escola, boquiabertos.
Num breve segundo, o rapaz devolve igual ao pai, enquanto profere uns grossos adjetivos devidamente articulados.
Afinal, sempre devemos estar a fazer alguma coisa bem na escola, já que este aluno deu claras provas de brilhantismo na articulação fonética e na extraordinária projeção de voz. Bem haja, que não houve quem não percebesse com precisão o vocabulário profusamente projetado.
O Rodrigues encolheu os ombros, deu meia volta e pediu para se chamar a escola segura, porque destas famílias modernitas, pouco há a saber e ninguém nos prepara para tanto.
Lá fora, um amontoado de pais e alunos prosseguiu aplaudindo a briga, agora de progenitor e filho que, entre empurrões e chapadinhas de amor, retribuía em igualdade as nomenclaturas de ternura, designando um sem fim de familiares dos quais cada um era, certamente, herdeiro.
Rapidamente me veio à lembrança a recente revelação de uma colega, numa escola secundária aqui perto, que desabafou ter sido seguida até casa pela encarregada de educação de um aluno a quem marcara falta disciplinar.
Ao fazer queixa na polícia, foi informada que de pouco lhe valeria, uma vez que só a ofensa física originava algum tipo de desenvolvimento. Pois, nada como um professorzito pontapeteado.
Depois, lembrei-me, também, da reunião que eu própria tive com o pai de um aluno da minha direção de Turma que rematou o discurso febrilmente condoído e questionando-me sobre o que mais poderia ele fazer pelo filho que não lhe obedecia, nem queria saber das suas ordens para nada. Estava, naquela altura, disposto a ir à CPCJ para se livrar de tamanho problema…
Tempos hediondos estes, em que a escola já não é um lugar de aprendizagens, mas um repositório descontrolado de emoções.
Pouco a pouco, desconfio, ainda alguém há-de legislar mais um acréscimo nas inenarráveis competências do professor do século XXI, exigindo-lhe que, além dos filhos, també eduque os pais…
PS – Qualquer semelhança com a realidade é puramente factual.
As prioridades, nos concursos, também sofrem alteração. Há ali qualquer coisa que me causa “espécie”.
Porque é que nesta proposta passa a existir distinção entre QA e QZP nos concursos? Porque é que os QA, que já “têm escola,” concorrem à frente dos QZP, que não têm?
Porque é que na Mobilidade Interna acontece o mesmo, neste concurso não são todos iguais? Os QA estão numa prioridade acima dos QZP porque têm que ficar melhor colocados? As melhores vagas nem sempre são as Primeiras a aparecer. Isso, está mais do que provado.
Ainda não entendi o porquê de, na proposta do ME, se voltar a concorrer, unicamente, a dois grupos de docência. Porque não manter o modelo atual? Porque é que os docentes não podem concorrer a todos os grupos para os quais têm habilitações? Não seria melhor para todos, docentes e ME? Os docentes veriam as suas hipóteses de colocação aumentadas e o ME teria “mais pessoal disponível”.
Quer-me parecer que esta mudança tem o dedo do pessoal ” informático, especialista em plataformas de concursos”, que não quer andar a cruzar dados, pois deve ser muito difícil e “eles” devem ter mais o que fazer. Andarão a fazer-lhes o jeito?