O ensino na Portugalândia…

 

Desde pequeno que adquiri uma certa aversão a comparações do incomparável. Cada um é como cada qual, logo deve ser tratado de acordo com as suas necessidades individuais.

No sábado fui chamado à atenção, por vários amigos, para uma reportagem que estaria a ser transmitida num canal televisivo. Não vi, os afazeres domésticos nem sempre me permitem estar sentado em frente à televisão na hora certa. Mas como hoje em dia tudo é possível, assisti à dita reportagem e quase me revoltei com a televisão. Dei por mim a murmurar sozinho enquanto a ação se ia desenvolvendo no ecrã.

Toda a minha vida profissional ouvi e li sobre o sistema de ensino Finlandês. Como era bom, como os resultados obtidos faziam inveja, como o sucesso era um dado adquirido… tudo isto é muito bonito, mas nem sempre foi assim.

Resumidamente, os finlandeses há 30 anos atrás deram de “caras num muro” e verificaram que o seu sistema de ensino estava ultrapassado e não servia os objetivos para que tinha sido criado. Em vez de se dedicarem a fazer remendos e tomar medidas a curto prazo decidiram por apostar em medidas a longo prazo. Com o passar dos anos foram obtendo resultados, até chegarem ao que são hoje.

Nesse dia ouvi comentários que elogiavam o dito sistema de ensino, como gostariam de trabalhar na Finlândia, que gostavam de ter os filhos a estudar na Finlândia, que era um exemplo para Portugal, porque é que não se copiava o modelo…

Mas porque é que em Portugal o “Sistema” não funciona? Bem… funcionar, funciona, mas…

Temos uma LBSE desatualizada e que deixou de corresponder às necessidades dos dias de hoje. Isso torna o nosso sistema de ensino limitado, não permitindo que este evolua e se torne mais eficaz. Temos uma política de remendos, vai-se tapando buracos à medida que eles vão aparecendo e fazendo disso um modo de vida. Nos últimos 30 anos, tempo de vida da LBSE, assistimos a avanços e recuos na política educativa na mesma proporção em que mudávamos de ministro ou de governo. Como muitos já o disseram antes de mim, não há estabilidade quando os objetivos dos decisores não são uniformes no que diz respeito ao futuro da educação no país. A necessidade de um compromisso duradouro está mais do que provada. A dita reportagem é um exemplo disso. Mas haverá “disponibilidade” para o assumir? Até hoje não houve.

Nos últimos tempos, já o disse aqui, tem-se começado, timidamente, a levantar o problema. Mas não me parece que haja vontade de o resolver. Vamos ficando pela retórica do “olha para ali que eles é que sabem fazer bem as coisas” e não se tomam atitudes.

Deixemo-nos disso. Temos que começar a olhar para nós, povo, como o que somos. Vivemos numa sociedade bem diferente da dos países do norte da Europa. Não podemos olhar para eles como exemplo. Temos que criar um Sistema de Ensino que se adeque à nossa sociedade e que defina como queremos que ela evolua nas próximas décadas. Mas isso, não vai acontecer enquanto se olha para o ecrã da televisão num sábado à noite…

 

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3 comentários

1 ping

    • professor quando calha on 16 de Outubro de 2016 at 16:40
    • Responder

    será que queria dizer “há trinta anos”?

      • Manuel Nita on 16 de Outubro de 2016 at 22:25
      • Responder

      Até dói. “Há 30 anos atrás” é uma redundância.


  1. Muito bom Rui!


  1. […] O ensino na Portugalândia… […]

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