A Meireles cheira mal.
Não há outra forma de o dizer. Cheira tão mal e de forma tão intensa que, numa larga circunferência bem delimitada ao seu redor, é quase impossível penetrar.
É claro que só me apercebi disso um pouco tarde, porque não somos do mesmo grupo e acabo por não estar perto dela no intervalo.
Porém, na semana passada, houve conselho de turma urgente. E eu, burra, burra, burra, cheguei atrasada, quando já todos estavam sentados e não soçobravam cadeiras. Então, o Artur, essa grande besta, ergue-se, num gesto ocultamente velhaco e explicitamente gentil, e oferece-me o seu lugar, ao lado da Meireles, e diz que vai buscar uma cadeira para ele com um simpático sorriso, aquela besta hipócrita.
Eu sento-me e, valha-me céus, é que logo, logo no momento em que me sentei percebi o grave erro cometido, mas já estava, era tarde demais, o que é que se pode fazer numa situação destas? Uma pessoa engole o sofrimento e aguenta.
E eu aguentei. Quase duas horas de um cheiro nauseabundo, oriundo de uma canalização putrefacta, sei lá eu, uma mistura explosiva de aço sulfídrico com cadaverina e um toque picante de nicotina (porque, para agudizar as coisas, a Meireles fuma que se farta). E eu ali, a contorcer-me, cada vez mais dobrada sobre mim própria, tentando omitir a pungente e dilacerante dor que me acometia porque os neurónios olfativos queriam todos migrar para parte incerta, os olhos a encherem-se de lágrimas com a acidez da putrescina em pessoa, e o Artur do lado de lá da mesa, aquela besta, a sorrir de escárnio.
Só então me apercebi das conversazinhas em surdina salpicadas aqui e acolá. A Meireles cheira mal e estes desgraçados falam nas costas.
Mas eu, que tenho uma boca que, benza-a deus, é um carro sempre pronto a acelerar contra o que me irrita, achei por bem falar com o psicólogo, até porque, rapidamente, chegaram à sala de professores as agudizadas queixas dos alunos sobre a profe de Geografia.
Vai disto, toca de subir as escadinhas, bater à porta, explicar o grave problema de saúde pública que tínhamos lá em baixo e o gajo o que é que diz?, aquela anémona invertebrada, que não podia, que só tratava dos problemas dos alunos, isso não era assunto dele.
E a gente faz o quê? Grama com isto? Continua a ignorar ou faz queixinha à direção? Caramba, somos colegas, temos de nos apoiar! Além disso, a desgraçada deve cheirar assim há tanto tempo que já lhe é indiferente.
Resolvi, então, martirizar-me mais um bocadinho e, pouco a pouco, fui conversando com ela nos intervalos, ganhando, a grande custo, a sua confiança para, delicadamente, dizer o que tinha de ser dito.
Entretanto, acabei por saber-lhe a vida toda, a separação litigiosa, mais o desespero feminino da perda, mais os filhos com necessidades educativas especiais. Ao cheiro nauseabundo juntava-se o cabelo escorrido, pingando fritura e caspa, a roupa desleixada e a família partida ao meio.
É claro, uma pessoa não é de ferro, toca a morder os lábios e fechar a boca.
Optei antes por ignorar o problema e não fazer caso disso (o que é, sem dúvida, tremendamente difícil).
Olhando em redor, mais de metade destes professores anda em pé graças ao Xanax, cada um de nós tem as suas dores bem ocultas, pena é que as dela sejam tão públicas.
O Artur, entretanto, essa besta quadrada, parece que anda a tentar redimir-se e passa o tempo a oferecer-lhe tabaco.
Segundo ele, a nicotina em quantidade bastante, sempre disfarça o resto.
Mas, com um bocadinho de sorte, o nosso diretor ainda calha na mesa dela ao almoço e o assunto fica tratado…
41 comentários
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Meus deus, tb tenho um colega assim, mas tresanda a álcool…
O caso relatado no texto é complexo. Agora, álcool é intolerável que a direção deixe passar. Como é que consegue trabalhar com os alunos?
Porque ele é um espetáculo com os alunos… Miúdos do secundário que beijam o chão q ele pisa. E é completamente funcional, só depois do almoço é que se nota o hálito…
Melhor assim. Aí é evitar atribuir serviço no período da tarde.
Eu tive um colega que tinha uma vacaria e vinha com a mesma roupa dar aulas, só mudava o calçado. Mas tal como este caso, vim também depois a saber tratar-se de mais uma triste história de vida… Pois, por vezes temos mesmo de morder a língua.
Que nível tão baixo colegas… Se não tinha nada de interessante para dizer mais valia estar calada. É por estas e outras que estou a fazer tudo por tudo para abandonar esta classe. É isto que é educar? Obrigado por me relembrarem. Cumprimentos
E o colega, o q é que fazia nesta situação? Não é fácil…
Ia obviamente, fazer queixinha ao exmo. Sr. Dr. Diretor … ou então ria-me á fartazana com os coleguinhas nas costas para me tornar mais popular.
Francamente… que vergonha.
É por estas (e outras) que quando me perguntam o que faço eu apenas digo «dou aulas». Nojo desta “classe profissional”; e como toda a sociedade é assim, nojo desta sociedade, incluindo os alunos. Tudo uma cambada de FDP.
Não gostei do texto. Pouco interessante, mesquinho e pateta. Penso que deveria ajudar a colega. Já pensou em dizer-lhe o que pensa ?? a única forma é ser frontal.
O que cheira mal são estes textos a denegrir ainda mais a nossa classe! Já não bastam os os outros, agora a própria classe ridiculariza-se para obter mais uns clicks para publicidade… Enfim … se consegue dormir À noite tanto melhor para si!
Em todas as profissões há pessoas que cheiram mal. E agora? Por um bancário dizer que um colega seu cheira mal é denegrir a profissão. Por amor de Deus! Além disso, por exemplo, há pessoas que não têm higiene oral, e agora? É dizer mal dos professores, só os professores têm cáries?
Vai-te encher de moscas ó J220.
Não conheces o corporativismo da “classe”?
Uma classe que classe já tem pouquíssima para não dizer nenhuma…
Os chumbos na PACC já expunham a falta de classe (conhecimentos) de parte da classe.
Que classe de resposta! Nós estamos mesmo a bater no fundo! Enfim…
Esta história bastante cáustica fez-me relembrar um episódio desenrolado no início da minha carreira, ainda nos malfadados miniconcursos onde a nossa colocação dependia das duvidosas regras ético-deontológicas emanadas de uma pessoa que invariavelmente mandava a graduação às malvas e colocava os candidatos consoante as suas opções pessoais. Fui colocado numa escola do centro do Porto como Diretor de uma turma extremamente afável com um Conselho de Turma extremamente envelhecido. Com o passar do tempo, as queixas dos encarregados de educação avolumavam-se acerca de uma professora que volta e meia acendia um cigarro no decorrer das aulas e expirava o fumo na cara dos alunos menos cooperantes com bastantes imprecações vernáculas à mistura. Quando as queixas começaram a ser maciças, não tive outro remédio em expô-las à Presidente do Conselho Executivo que atribuiu a minha excessiva preocupação à imberbe juventude de que usufruía. Um dia, no meu horário de atendimento, e estando o meu gabinete logo abaixo da sala de aula, ouço um enorme reboliço com gritos à mistura. Subo as escadas desenfreadamente com o volume do chinfrim a aumentar desenfreadamente perante a total passividade das auxiliares que pareciam estar já habituadas à situação. Bato à porta e perante a total ausência de resposta, abro-a lentamente e qual não é o meu espanto vejo a colega de cigarro aceso na boca a repreender veementemente um aluno que acabara de cometer um tímido erro de acentuação numa ficha de trabalho, usando do vocabulário mais reles e repugnante que já ouvi até hoje. Chocado, dirigi-me ao Conselho Executivo e relatei a situação por escrito. 24 horas depois, sou chamado ao mesmo órgão e ameaçado com Processo Disciplinar caso voltasse a interromper uma aula e a inventar factos. Tive logo aí em Fevereiro de 1999 o meu «Baptismo de Corporativismo Docente»…
Do texto da Diana Souza, retiro a feliz referência ao Xanax…Nem de propósito, usei-a em setembro deste ano, quando na primeira reunião geral de professores olhei para caras de colegas meus e denotei-as mais exaustas que nunca…E no primeiro dia de trabalho…Diz muito da situação de desgaste a que chegou a nossa profissão e dos limites que teimamos frequentemente em ultrapassar para beneplácito de terceiros…
Terá sido na escola do Assistente Técnico (gostou do comentário), ohhh?
Ó Diana, desculpe lá a minha frontalidade, mas não gosto nada dos seus textos! Pronto, já disse! Se o problema é meu, paciência! Não os leio e pronto. Quanto às outras pessoas, cada um fará conforme achar melhor.
Lei este.
Diana,
Este texto tenta ser o quê? Um «diário de bordo»? Está fraquinho… É de notar que o tom empregado também ele denota não mau cheiro, mas um certo ressabiamento, uma certa atitude superior e um mau uso do português: as cadeiras não «soçobravam», mas «sobravam»
Olhe que não. Podia ser sobravam. Mas não é isso que a autora pretenderá transmitir.
https://www.priberam.pt/dlpo/so%C3%A7obravam
Olhe que sim: onde se lê «não soçobravam cadeiras» deveria estar «não sobravam cadeiras»
Não sou advogado da autora do texto.
O sentido parece indicar que as cadeiras já não se moviam.
Não é advogado e de certeza também não é prof de Português! Claro que era sobravam…
Nem vim de uma ESE.
Gostei – especialmente – da definição de colega.
E ainda mais da martirização gabada em enquadrar terceiros, fazendo de padrão e norma o comadrio – ao mesmo tempo que ficciona e “dá” aulas.
“Optei antes por ignorar o problema”
Mas terá chorado, o que é louvável, não é pior confiar em quem não se faça ignorante perante a impossibilidade prévia.
Arlindo, espero que estejas contente com o que para aqui tens porque sinceramente … isto não é nem pode ser um blogue de e para professores.
Cumprimentos
Qual o interesse de publicar esta coisa neste blog? lavar alguma roupa suja???????
Pela primeira vez fiquei desiludido com o Blogue do Arlindo.Eu sei, problema meu! Ou será de colegas que dão aulas e ficcionam ao mesmo tempo?
O problema é NOSSO! Porque há feridas onde é preciso muita coragem para lhes tocar…
Sim, eu aceito que o problema até seja nosso, mas “porra” não vejo nunca nenhuma outra profissão tão auto destruidora! tão suicida…acho que o Arlindo sabe o impacto que o seu blogue tem na blogosfera, por isso este texto (não lhe reconheço qualidade à vista) não devia circular assim…enfim.
Um blog vive de publicidade como é lógico, no entanto não devia valer tudo para se obter shares e clicks… Mas a fórmula é sobejamente conhecida: Dizer mal rende…em visualizações e consequentemente em €€€
O Arlindo… come ovas e bebe aquele liquido borbulhante de França ao pequeno almoço… de tanto dinheiro que ganha com o Blog…
É porque não visita blogues de outras classes profissionais… não gosto particularmente do texto, no entanto, há colegas que nunca deviam trabalhar numa escola, e não é só por causa do cheiro… em relação a alguns termos usados, pode tratar-se sim de um recurso expressivo….
Olá Desalinhada, posso ter a referência de alguns desses blogues de outras classes profissionais? Recursos expressivos …sim sei o que são. Continuo com a mesma opinião, o texto é pobre… modesto … retrata uma realidade não, é um caso pontual…ficção…realidade?! Nem é isso que está em causa. O blogue do Arlindo pautou-se sempre por manter um determinado nível, que neste caso, na minha opinião, se quebrou.
Tem toda a razão! Ó Arlindo, onde é que foi “desencantar” esta “piquena”?
Também aguardei que os do costume se atirassem à primeira pedra, cambada de pedrófilos!
“o desespero feminino da perda”
Recuso-me a aparecer machista perante a fufice.
diana quando não tiver nada para dizer fique calada. Não escreva parvoíces, por favor. Fique calada quando não tiver assunto interessante. Nem tudo vale.