Opinião – Mario Silva

No apogeu do malogrado socratismo, assisti atónito a uma deriva totalitária explicita, num regime que se pensava democrático: desde policias a entrar em sedes de sindicatos a solicitar listas nominais dos participantes em manifestações, passando por policias de trânsito a desviar autocarros carregados de manifestantes e a impedi-los de prossegir viagem, até aos casos desumanos de juntas médicas negarem a trabalhadores com diagnóstico de cancro a incapacidade temporária, obrigando-os a trabalhar (onde pontuaram exemplos de uma professora com cancro na lingua a lecionar…). Essa deriva desvaneceu-se mediaticamente, mas continuou subrepticiamente em ação através da produção legislativa. Assisti agora a vários casos de colegas de trabalho que continuam a exercer funções em condições de saúde precárias, nomeadamente afónicas ou com infeções debilitantes; quando, na minha ingénua humanidade, as repreendi por estarem naquelas condições a trabalhar, elas perspicazmente alertaram que atualmente são descontados no salário e na totalidade os 3 primeiros dias de ausência por doença, o que nas circunstâncias conhecidas é um desconto significativo para muitos com salários ainda mais reduzidos. Esta alienação a que nos sujeitamos para manter uma certa sanidade mental, afasta-nos psicologicamente de uma realidade darwiniana criada por uma elite abjeta, e confronta-nos com a desagradável conclusão de uma classe populacional ter sido liminarmente derrotada na guerra social que ocorreu.

 

Mario Silva

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9 comentários

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    • Daniel on 30 de Janeiro de 2014 at 22:04
    • Responder

    Esses nem são os piores casos, os que tem contrato de individual de trabalho não recebem os primeiros 3 dias e depois apenas recebem 65% do salário.

      • Maria on 30 de Janeiro de 2014 at 23:39
      • Responder

      São quem tem os vencimentos mais baixos e já foram desviados para a segurança social desde 2009. Trabalham doentes, sem condições e contagiam toda a comunidade escolar porque deixaram de ter proteção na doença.

    • Rutra on 30 de Janeiro de 2014 at 22:30
    • Responder

    Obrigado Mário, fica o registo para memória futura…para quem tenha amnésia…é preciso acordar e atuar, num espaço temporal muito próximo.

    • Mário on 31 de Janeiro de 2014 at 8:35
    • Responder

    Pois…mas é assim para toda a gente, mesmo para os trabalhadores do privado.
    Qual a argumentação para ser diferente para os professores?
    Disseram algo anteriormente?

    • Lurdes on 31 de Janeiro de 2014 at 11:28
    • Responder

    Muito bem opinado e argumentado… só tenho pena que os senhores que estão nos gabinetes tratem as pessoas como números e não com o bom senso e humanidade… Obrigado!

    • Maria Sobral on 31 de Janeiro de 2014 at 13:05
    • Responder

    No privado sempre foi assim, afinal só reclamam equidade quando se trata de subsídios…

    • mario silva on 31 de Janeiro de 2014 at 22:57
    • Responder

    A descrição aplica-se a todos os trabalhadores, independentemente do vinculo contratual (privado ou público). Criou-se um perigo para a saúde pública porque continuam a trabalhar desde que suportem a debilidade (ou deixam menores doentes entregues a si próprios) e ressuscitou-se a desumanidade que era banal até à década de 50 do séc.XX.
    E quando os professores ‘disseram algo’ através das ações de protesto que foram públicas, foram ferozmente atacados por muitos dos que agora perguntam se ‘disseram alguma coisa’…
    Posso ser o único no planeta com essa convicção, mas continuo a considerar que é desumano e cruel sujeitar pessoas a mais sofrimento do aquele que já é proporcionado quando são atingidas pelo infortúnio involuntário da doença, só para que umas elites mantenham o seu status social e financeiro.

    • Profdonorte on 3 de Fevereiro de 2014 at 0:44
    • Responder

    Está a verificar-se efectivamente um problema de saúde publica e de humanidade. Os efeitos conjugados, de baixos rendimentos (tb por gfeitos conjugados) medo da pressão das direcções e incapacidade para suportar os cortes salariais, está a levar os docentes a trabalhar doentes / a contagiar alunos / a eixar os filhos sem 7 ou com acompanhamento deficiente quando eles mesmo estão doentes / estão tb com grandes problemas em acompanhar os progenitores – muitos profs estão agora com os pais na casa dos 80 anos, com tudo o que isso implica. Uma camada da população foi mesmo derrotada e recolocada uns degraus abaixo na piramide social ….

  1. A falta de humanidade preconizada por actos abjectos começa dentro das próprias escolas, pela mão de chefias “fortes”. Quanto mais pequena é uma escola mais nos apercebemos de actos que mais não são que reflexos de tiques totalitários de gentalha que anda com a lei “na boca” principalmente quando não lhe interessa a si mesma ou a amigos. Para ir a uma consulta a ditadora daqui da terriola exige, além da declaração de presença, uma declaração extra da entidade a declarar que a dita consulta ou exame não podia ser realizado outro dia a outra hora!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! :-p :-p

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