Mil professores manifestam-se no Porto contra prova de avaliação
Docentes apelaram ao boicote. Manifestantes caminharam para a Baixa sem aviso e PSP teve de condicionar trânsito.
Cerca de mil professores manifestaram-se neste sábado no Porto contra a prova de avaliação à qual o Governo quer sujeitar os docentes contratados. O protesto, organizado pela Federação Nacional da Educação (FNE) e pelo Sindicato dos Professores da Zona Norte (SPZN), começou pelas 11h na Praça Gomes Teixeira, em frente à Reitoria da Universidade do Porto. Porém, os manifestantes caminharam depois quase um quilómetro até à Avenida dos Aliados, numa acção que não estava programada inicialmente.
A iniciativa espontânea, registada no final dos discursos junto à reitoria, – único local para onde a concentração estava planeada – apanhou de surpresa a PSP que, com um pequeno dispositivo de oito elementos, teve de condicionar o trânsito entre os Clérigos e a Praça da Liberdade. “Foi espontâneo. Pensávamos que a acção já tinha acabado, eis quando começaram a caminhar para a Baixa. São cerca de mil”, disse ao PÚBLICO, o chefe da PSP, A. Soares.
Os manifestantes, que empunhavam lenços brancos no ar, bandeiras e gritavam pela demissão do Governo, iniciaram a caminhada pelas 13h, duas horas depois de se terem concentrado na reitoria. Detiveram-se depois próximo do edifício da Câmara do Porto onde permaneceram cerca de uma hora numa espécie de assembleia popular improvisada de apelo ao “boicote” generalizado à realização da prova.
Nesse âmbito, os professores apelaram à ida em massa à Assembleia da República a 5 de Dezembro, dia em que a prova de avaliação de professores vai ser discutida no Parlamento.
Centenas de professores contratados contestaram no Porto prova de avaliação
Os sindicatos interpuseram nos tribunais providências cautelares para evitar que a prova se realize e os professores têm-se organizado em manifestações contra esta avaliação
Por cinco vezes avaliado “sempre acima de ‘bom’”, mas sem colocação há ano e meio, o professor do 1.º ciclo Nuno Vital juntou-se hoje às várias centenas de docentes contratados que, no Porto, contestaram “uma prova que não prova coisa nenhuma”.
“Custa-me perceber porque é que faço uma prova, porque o meu curso demorou quatro anos a tirar e tive já cinco avaliações, todas acima de ‘bom’. Agora tenho que provar que realmente sou capaz através de um exame que me pretende avaliar as competências?”, questionou o docente, em declarações à agência Lusa.
Convicto de que “a prova, em si, não tem nenhum proveito para o ensino português”, Nuno Vital considera que o seu “objetivo é difícil de descortinar”, mas acredita que “pretende afastar do ensino professores, talvez com fins estatísticos”.
“O objetivo é eliminar professores”, concorda Flora Gomes, de 38 anos, professora contratada há 16 anos e “sempre colocada na zona Norte, depois de três anos nos Açores”, apesar de ser de Beja.
Agora que, “finalmente”, ficou “colocada relativamente perto de casa”, a docente lamenta “ver-se nesta situação”, que diz não aceitar “de forma alguma”.
“Eu tenho formação, sempre fui avaliada com desempenho de ‘bom’ e ‘muito bom’ e não vejo lógica em, por causa de uma prova de 120 minutos, poder ver-me impedida de concorrer”, sustentou.
Com alguma dificuldade em fazer-se ouvir por entre as palavras de ordem gritadas pelas centenas de colegas docentes que hoje se concentraram frente à reitoria da Universidade do Porto, Flora Gomes admitiu ter-se inscrito na prova “para cumprir a lei, porque senão no próximo ano nem sequer poderia concorrer”.
“Se a prova se realizar terei que a fazer, mas sou contra. Optei por ser professora há 20 anos e o que me foi dito nessa altura foi que tinha habilitação para concorrer”, concluiu.
Também Nuno Vital acabou por decidir inscrever-se na prova, “a duas horas do final do prazo original” (entretanto alargado até ao dia 02), mas confessa que ainda não pagou os 20 euros requeridos.
“E acho que vou acabar por não pagar … Já estou desempregado há ano e meio e, no fundo, já desisti do ensino.