Começo desde já por agradecer ao professor José Seixo o texto publicado na página do P3/Público na passada 3ª Feira.
Através de um relato honesto e directo, José Seixo descreve a realidade de ainda tantos professores, ano após ano à procura não só da, cada vez mais, ansiada estabilidade mas também do reconhecimento de todo o trabalho desenvolvido ao longo de anos, trabalho esse fruto da paixão, da carolice e do espírito de missão de quem escolhe dedicar, literalmente, a vida e o futuro a passar aos jovens a importância de não repetir os erros do passado e aprender em nome de um futuro, ou não fosse José Seixo professor da mais importante disciplina de todas: História.
Infelizmente, a surpresa deste relato é a mesma surpresa de quem, passados 20 anos desde a conclusão do meu curso de ensino, vem encontrar o mesmo cenário do qual fugi sem que nada, absolutamente nada, tenha mudado.
José Seixo relata a mesma incerteza anual do destino incerto à qual se soma a igual, senão maior, incerteza de um emprego, de um trabalho e de um salário para poder pagar as contas.
Entre as estatísticas e as parangonas dos jornais a apontar para a falta de professores, histórias como as deste colega entristecem-me. Poder ser professor-caixeiro-viajante já é uma sorte e a vida não é senão uma constante resignação onde as lutas de tempos passados por direitos de tempos passados estão também elas arrumadas em caixas.
Não há murros na mesa nem pontapés na mesma, não há raiva nem vontade, a injustiça e a desigualdade deixaram de existir ou são simplesmente ignoradas, comprar uma casa, viver a dois e em família são sonhos eternamente adiados e nada podemos fazer para além de, ano após ano e concurso após concurso, fazer as malas findo mais um ano lectivo.
Tal só acontece quando, neste país que é o nosso, não se conhece ninguém, não se tem o factor “c” ou um pai ou mãe para nos ajudar e empurrar e o professor José Seixo não tem. O seu caso é o caso de todos nós, a maioria dos portugueses destinados a ver os outros ao redor bem colocados na vida enquanto nos olham de lado e dizem que já são “do quadro”. Do quadro da empresa, claro, mas tentas vezes do quadro da própria escola.
Empatia, zero, união de classe também zero ou não estivesse o colega “de passagem”. Não pertencemos a uma profissão, somos cartas descartáveis, carne para canhão, rebotalho. Ironia das ironias, nunca seremos parte da História.
Gostava de poder dizer ao professor José Seixo que a vida não tem de ser assim. Gostava de poder dizer ao professor José Seixo que há alternativas. Gostava de poder dizer ao professor José Seixo que é válido apontar o dedo, tomar uma posição, comprometermo-nos, sair à rua e gritar como nós saímos à rua e gritamos ano após ano.
As alternativas existem e, no meu caso, encontrei-as lá fora, cá fora entre uma vida, uma casa, carreira, pertença a uma classe e futuro. Sem ajudas nem factor “c”, apenas trabalho e o reconhecimento do mesmo.
Parece mentira e é mentira, pelo menos agora depois do Brexit e do egoísmo dos britânicos. A luta é hoje muito mais difícil e não, eu não fiz bem, não saí na altura certa nem tive sorte: não tive alternativa e a fuga foi mesmo para a frente.
E talvez porque a luta é hoje tão mais difícil se explique a resignação a que de repente nos vemos sujeitos entre o baixar dos braços e a aceitação incondicional das migalhas que a custo esgravatamos do chão.
Estaremos a condenar uma geração inteira de professores à deriva não só nacional mas continental? Será esta uma política propositada independentemente do número de professores reformados de modo a denegrir ainda mais o ensino público em favor do ensino privado?
Se assim for, casos como o deste professor são um claro sinal de alarme.
Agradeço ao professor José Seixo a chamada de atenção, a qual replico, em nome da luta e de um futuro melhor não só para os professores mas para os alunos e todos os filhos deste país.
Jul 28 2021
Contra a resignação, contra a precariedade – João Costa
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R de Revolta.