“Atirei a toalha ao chão”
De há uns bons anos a esta parte, ser professor é indissociável de ser educador. Aliás, surpreende-me que ainda não se tenha alterado a designação para professor-educador.
Todavia, esta questão iria levantar um problema. Na verdade, a docência encerra, em si, uma multiplicidade de profissões. Se não, vejamos: para além da função de ensinar e das tarefas implicitamente inerentes a esse cargo, um professor é psicólogo, ator, animador sociocultural, auxiliar de ação educativa, mediador, tutor, secretário, assistente social, funcionário de serviços administrativos e até contabilista. Consequentemente, seria complicado encontrar o termo mais adequado para este ofício tão necessário para o sucesso de qualquer sociedade.
É óbvio que, para isso, são necessárias algumas condições, de entre as quais, destaco, hoje, o respeito pela palavra do professor.
Ora, como já mencionei, na sala de aula, somos, muitas vezes, atores, o que considero lisonjeiro. Porém, o papel de palhaço não aceito desempenhar. Desculpem-me os palhaços, mas, em miúda, tinha medo deles, sempre os associei a filmes de terror. Em resumo, eu detesto palhaços!
Ainda assim, julgo que andamos a sentir bastante pressão para representar essa personagem. Pelo menos, eu ando, ou melhor, andei. Há provas de que os alunos não estão online ou não cumprem as tarefas e/ou horário das aulas assíncronas, mas as “entidades superiores” insistem que “sim”, que “o meu filho assistiu à aula”, que “ele esteve à frente do computador”, que “o meu filho fez o trabalho”, que “ele até me mostrou”. E o menino insiste que “sim” e mostra à mãe o computador ligado, depois do horário escolar, e o trabalho de mil novecentos e troca o passo e ainda o envia ao Diretor de Turma por e-mail.
Por sua vez e como é importante mostrar que a escola apresenta um baixo índice de falta de assiduidade e de abandono escolar, os esgotados Diretores de Turma são compelidos a interrogar a seriedade do trabalho dos professores quanto à presença dos alunos na aula e ao (in)cumprimento das tarefas (já depois de terem sido informados pelos respetivos docentes).
Não sei como têm reagido os outros professores a este desrespeito, mas eu “Atirei a toalha ao chão”.
“Fraca!”, poderiam dizer uns.
“Corajosa!”, poderiam dizer outros.
Síndrome de burnout, digo eu.
8 comentários
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Tem toda a razão, é isso que constato a cada dia nestas aulas da treta e neste esforço descompensado de todos nós! Ou aceitamos fazer a figura de palhaços ou, então, estaremos a remar contra a maré…
Se conseguíssemos MESMO, ser unidos e corajosos, acabava-se este jogo do faz de conta em que constantemente somos colocados e em que, na maioria dos casos, nos deixamos enredar…
Gosto de textos assim… reais.
Os problemas não devem ser escondidos, que é o que a escola faz.
Os problemas devem ser enfrentados, que é o que a escola não faz e devia fazer.
Há muito tempo que a escola se edifica em alicerces líquidos. Um dia vem tudo abaixo.
E ainda a palhaçada vai no adro.
Mas pronto,
é uma palhaçada holística, integrada e transversal, bué flexível e…
O ensino à distância só funciona corretamente com as escolas a terem nos seus servidores as devidas plataformas de videoconferência . Caso contrário , está a funcionar como uma espécie de prostituição infantil onde os chulos do Ministério da Educação fazem gozo da situação , o Presidente também é cúmplice nas identidades roubadas das crianças menores … pois os utilizadores da pornografia , os pedófilos e todos os doentes mentais que se interessam por crianças , desde já estão a operar em Portugal na força maior do desejo de invadirem a privacidade daqueles que não sabem o que é um computador e suas configurações básicas para o tentar evitar .
Continuem a prostituir a imagem e som das crianças …
https://www.comregras.com/ed-faz-crescer-as-ciberameacas/
Detesto as aulas online e os meus alunos até são educados, e eles até dizem que isto é uma treta e que não aprendem nada. Aqueles que têm apoio em casa, ainda podem aproveitar alguma coisa, mas os outros…
Como não podemos ver mais de 6 alunos no écran, os que não vemos podem estar “away”.
Já constatei isso: ” Fulano, continua a leitura”. e a resposta: “Que página é, stora?” e já tínhamos começado há 10 minutos.
Outras vezes nomeamos um aluno específico para responder a uma pergunta, e constatamos que o mesmo está online mas “foi dar uma volta”. enfim…
E depois os trabalhos? Eu não aceito fotos. Obrigo-os a mandar tudo em word com dia e hora marcado para entrega. No geral, cumprem. Por um lado, porque sabem que este ano vamos voltar à escola e não podem “baldar-se” como fizeram no 3º período do ano passado; e por outro, porque vou valorizar o empenho na nota da Páscoa.
Colega, se estiver a usar o teams da plataforma Microsoft consegue no final da aula mas ainda em VC, transferir a lista de participantes. Está em participantes… e clica nos 3 pontinhos que aparece.
É uma Folha excel onde consta a hora de entrada e saida ou saidas de cada aluno. É uma prova e contra factos não há argumentos…
Espero ter ajudado.
Bem Haja.
Outra situação: estou a verificar alunos (felizmente poucos) que nunca participam ou quando participam a qualidade mal chega ao satisfaz, retiram entre 90 e 100% nos questionários online e eu obrigo a estarem com a camara ativada. As ajudas de pais ou colegas são muito difíceis de detetar online…
Mas se o aluno está com a câmara ligada, como sabe se não está a ver as respostas no computador? Não devia estar a ver o ecrã partilhado em vez de ver a cara do aluno?