Sendo este um tema na ordem do dia, mas ante o silêncio explícito de quem pode atuar e mudar o sistema, pareceu-nos pertinente partilhar os procedimentos adequados para que possam ter uma atuação rápida, ainda que sirva para absolutamente… nada.
A profissão de professor é claramente de risco, se a escolheu, problema seu, assuma algum sadomasoquismo: optou por uma profissão sem reconhecimento, sem medicina do trabalho, sem seguro que proteja a sua integridade física e psicológica. Quando apanhar por tabela, lembre-se que, sem “estragos físicos” visíveis, as ocorrências são facilmente desvalorizadas:
1) Dirija-se ao hospital público mais próximo, levando consigo o Boletim de acompanhamento médico que deve solicitar na secretaria (se já não tiver língua ou dentes, escreva num papel, se já não tiver dedos, jogue ao “adivinha o que quero” com a funcionária da secretaria. Para prevenir, ande com um documento destes na carteira com o cabeçalho já preenchido, saque-o aqui: http://www.sgmf.pt/servi%C3%A7os/acidentes-de-trabalho/formul%C3%A1rios/)
2) Faça participação escrita da ocorrência anexando fotografias dos danos físicos e entregue na secretaria solicitando cópia autenticada. Se não houver danos físicos, por favor procure a escadaria mais próxima, atire-se dela abaixo e confirme que ficou com nódoas negras. Se não resultar repita ou bata com a cabeça na parede várias vezes, também pode ser uma alternativa. Caso seja professor, pode sempre entalar os testículos numa porta. Nestes últimos casos, assegure que o faz sem testemunhas e ateste com a vida as nódoas negras como fruto de pontapés do agressor. Lembre-se: sem hematomas, tudo se complica.
3) Preencha na secretaria o requerimento referente a “acidente em serviço”. Vão demovê-lo de o fazer porque as cópias são caras. Dê-lhes ouvidos porque preencher esta folha vai-lhe mesmo sair caro.
4) Se tiver a certeza que se quer aborrecer mais, faça queixa junto da PSP com toda a documentação anexa, antecipando que o encarregado de educação o vai acusar de ter alienado o educando e de o ter maltratado para a vida. As custas de tribunal vão sair-lhe do bolso, aproveite logo para dizer adeus a vários subsídios de férias para advogado, outros tantos para as custas do tribunal e mais uns trocados para pagar as injúrias que proferiu contra o EE. Quando se reformar, vai andar a mendigar na rua.
5) A legislação de apoio está aqui: https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/107738386/201412310000/73449404/diploma/indice, mas cada um sabe de si e a maior parte anda caladinha porque tem vergonha e é mais rápido pedir ao médico de família uns drunfos. Beba álcool nos intervalos das aulas para aguentar as ofensas com menor clareza de espírito e lhe doer menos. Sempre sai mais barato.
6) Tem de cumprir tudo isto em 48 horas. Se as equimoses só aparecerem depois, tempos pena, já passou o prazo.
Assim é a realidade da profissão docente. Saem notícias todos os dias, o sofrimento atroz é calado e quem assume o seu papel de vítima acaba enredado num sofrimento burocrático acrescido e que redunda em quase nada.
Recomeça o ciclo governativo, mantém-se o silêncio sobre a violência contra os professores. Não há vergonha, nem empatia que nos valha. Como classe, que estamos a fazer para nos proteger e proteger os nossos pares? Como país, o que estamos a fazer com a nossa educação? Se há razão para termos voz e sairmos à rua, ei-la.
Professores sofridos, erguei-vos e lutai pelo direito à vossa integridade psicológica e física! Ganhai voz! Tornai pública e explícita a vossa dor.
4 comentários
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Tem piada pelo exagero.
De todo o modo, a partir do momento em que faça a participação na escola, todo o processo, incluindo queixa e tribunal, ficam a cargo da escola.
Já fiz isto duas vezes por agressões, verbais, a colegas e, em ambos os casos, os pais foram condenados, e bem.
Acrescento que os colegas não suportaram qualquer despesa.
Quem és tu, advogado de defesa?Tu é que fizeste a queixa de colegas agredidos? Não entendo!!!! Esta, é infelizmente a realidade em muitas escolas portuguesas. Depósito de crianças e jovens, que o que importa é mostrar que o analfabetismo acabou em Portugal, que o abandono escolar desceu drasticamente. Os governos têm – se esquecido que a escola é o laboratório da vida, é indispensável cuidar do ambiente e dos profissionais que lidam todos os dias com estas crianças e jovens.
lamento pelo título de mau gosto…de resto é informação a partilhar! Obrigada
Brilhante!