Opinião – Alexandre Parafita – “A geração dos professores avós”

O envelhecimento da classe docente é um tema que muitas páginas já encheu. O Post anterior caracteriza muito bem o envelhecimento da classe. num país onde a moda se situa nos 36 anos entre os  professores contratados, o rejuvenescimento é uma prioridade. Mas falta a vontade…

 

Está prestes a arrancar mais um ano letivo. Que professores irão os alunos encontrar quando regressarem à escola? Sabe-se, pelas estatísticas recentes do Ministério da Educação, que, num universo de 130 mil professores, apenas 500 têm menos de 30 anos. O grosso da classe docente está, por isso, a chegar à idade “sénior”, a idade dos avós. Não se pode dizer que tal seja absolutamente negativo. Ser depositário e transmissor de saberes experienciados e acumulados, de métodos testados no tempo, de memórias e valores intergeracionais, tem um valor incalculável que as sociedades modernas, infelizmente, não souberam ainda potenciar. Mas fazer depender de uma classe “sénior”, cansada e gasta, a sobrevivência de um sistema em permanente e vertiginosa mutação é um contrassenso.

As crianças e jovens estão hoje dominados pelas novas tecnologias. Regressam de férias com uma energia ritmada e “educada” pelos passatempos mais estranhos e complexos que a imaginação suporta: são os pokémons mais os pikachus, os universos star wars, o super-Mário ou os super-ninjas, são as lutas de zombies, os ninjago, dragon balls, monster high, power rangers… (o que sei eu, afinal?). E chegados à escola, que motivação encontram?

O sistema necessita de professores mais jovens. Impõe-se dar oportunidade aos que acabam de sair das universidades, e que, na sua formação ou nos estágios, já convivem com esta nova realidade. Não serão, por isso, surpreendidos pelos novos “saberes” dos alunos. São professores com energia, com dinamismo, com competência e com tempo, que, harmonizados com o caudal de sabedoria e experiência pedagógica dos professores “seniores”, contribuirão, certamente, para que os alunos não vejam no ambiente escolar uma “seca”.

A experiência dos anos é uma mais-valia, claro que é. Mas será que equipas pedagógicas quase integralmente formadas por professores de idade, a sonhar com a aposentação, conseguem dar a resposta adequada a turmas cada vez mais numerosas, com alunos cada vez mais irreverentes e indisciplinados e profundamente dependentes das novas tecnologias?

Dentro de uma década quase metade da classe estará à beira da reforma, mas nem então se perspetiva a necessária renovação, uma vez que os novos professores recrutados são quase tão velhos quanto os que já integram os quadros. E o reverso da medalha são os milhares de jovens docentes que ano após ano terminam os seus cursos e ficam no desemprego, obrigados a procurar outros caminhos.

* ESCRITOR

In JN A geração dos professores avós

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12 comentários

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    • Anónimo on 4 de Setembro de 2016 at 13:27
    • Responder

    Reconheço q a classe docente está passando dos 40 mas apelo ao bom senso, não vamos exagerar pq senão perdemos a razão.
    Os docentes na sua maioria vão regressar ao seu habitat. Conhecem os alunos, gostos etc..
    Os docentes q vão estar com eles pela primeira vez não são ET’s, portanto sabem o q está na moda. Ao contrário de antigamente, há muito profissional q paga para estar atualizado ao nível de práticas pedagógicas. Aliás a maioria tem filhos depois dos 30 anos, logo sabem o q a criançada gosta.
    Sobre o artigo postado anteriormente, concordo com a justificação de q os docentes com idades mais avançadas provêem de escolas particulares, de distintos níveis de ensino, e q é urgente apertar o cerco as especializações low cost, pq neste caso o baixo custo está na qualidade da formação e na rapidez da obtenção.
    Por fim acho q a graduação deveria basear-se na experiência no grupo q concorre.

    • José Bernardo on 4 de Setembro de 2016 at 16:12
    • Responder

    …a verdade é que logo no arranque já estão pensando em férias. e as conversas, meu deus, são sempre à volta das reformas, que afinal não vão gozar, mas sim, deixar para os netos! triste sina! até os alunos já nascem velhos!

    • António on 4 de Setembro de 2016 at 18:15
    • Responder

    Amanhã, segunda-feira, vou ter uma reunião para planificação das aulas, mas como é preciso motivar a jagunçada (digo, os queridos alunos) uma das estratégias vai ser Apanhar Pokémons na Sala de Aulas.

    Estas férias, comprei um novo smartphone com muito mais funcionalidades para poder acompanhar os queridos alunos que, embora não possuam dinheiro para adquirir os Manuais Escolares, transportam consigo os últimos modelos de smartphones.

    É esta a “bosta” a que vão estar sujeitos durante mais um ano letivo. Formar gerações de imbecis é um desígnio nacional definido pela atual equipa ministerial

    Tenho pena que as férias já tenham terminado porque os miúdos (tadinhos) divertem-se bastante durante o período estival a traficar droga, a gamar, a insultar, a realizarem desacatos e a matarem-se uns aos outros como o caso de Baguim do Monte em que um JOVEM DE 14 ANOS DE IDADE morreu depois de ter sido violentamente agredido com uma soqueira na via pública em Baguim do Monte, concelho de Gondomar por um colega de 17 ANOS DE IDADE.

    Um destes brilhantes alunos passou pela Escola do Cerco no Porto e o outro frequentada a Escola de Baguim do Monte.

    Estou cheio de saudades de voltar ao convívio com estes ALUNOS….são uma doçura…. (dizem algumas pseudo-professoras)…

    Mas que SAUDADES que eu tenho das aulas…já não aguentava mais tempo em férias….

    http://s2.glbimg.com/Ev6keyu628TyEseKrQIu0d3CnWsNiYWidtnuWr3fmYJIoz-HdGixxa_8qOZvMp3w/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2012/10/15/professor-bbc.jpg

      • Noémia on 4 de Setembro de 2016 at 18:47
      • Responder

      Caro colega

      Atualmente, a idade legal de aposentação é de 66 ANOS E 2 MESES. Em 2017, será de 66 ANOS E 3 MESES e assim sucessivamente….

      Só espero não ser eu a levar com a “soqueira” dentro da Sala de Aulas e digo isto porque durante o ano letivo que terminou à porta da minha Escola não existiu semana nenhuma sem as ditas “Sessões de Porrada”…

      O ano letivo transato, estava eu a dar aulas e de repente a “macacada” levantava-se toda… a aula ficava uma balburdia e um gritava um “Ó SETORA tá a haver porrada lá fora…”

      Que delicia…que maravilha…que saudades que eu tenho de retomar a atividade…

      Estes alunos, são realmente uns queridos…

      http://cache4.asset-cache.net/xc/72459404.jpg?v=2&c=IWSAsset&k=2&d=cvsuCUjeLTEiPsqPWkV0ZBMIQPmRwAYAMvUym8xLRhjXPLFN7IoEjbENdLW–J0j0

    • nekas on 4 de Setembro de 2016 at 20:04
    • Responder

    As pessoas velhas não são as de 60 anos.
    Há muitos professores mais, muito mais,novos que já nasceram velhos e por isso, para eles, tudo está mal.
    Ser professor não é tarefa fácil, reconhço e muito menos quem o é por acidente.

    • Joana Moreira on 4 de Setembro de 2016 at 21:50
    • Responder

    Acho que tem de se encontrar um equilíbrio, sem o qual nada é justo. Se por um lado os Colegas mais velhos trazem muita experiência, os mais novos ficam para trás e também têm contributos e atributos para a escola. Já é o terceiro ano que não fico colocada numa disciplina (Espanhol) dispensada pelo Me por factores económicos. Os Colegas de Francês têm mais tempo de serviço, pelo que simplesmente deixou de haver Espanhol na maioria dos AE. Já para não falar dos Colegas que foram fazer umas horas ao Cervantes e agora passam à frente de quem tem Licenciatura e Mestrado. Foram 8 anos deitados à rua. O que comem os meus filhos Sr. Ministro?

      • António on 4 de Setembro de 2016 at 23:24
      • Responder

      Cara colega Joana Moreira

      É necessário que o Ministério da Educação olhe para a realidade das Escolas. O acentuado envelhecimento do corpo docente é algo que tem consequências gravosas para os próprios, para os Jovens Docentes, para os alunos …enfim para toda a comunidade educativa.

      Para os próprios, na medida em que o desgaste é algo de terrivel e insuportável para quem possui uma carreira longa e vai ter que andar a penar mais uns anos.

      Para os Jovens Docentes e para aqueles que se encontram a frequentar Cursos Superiores direccionados para o Ensino porque não encontram uma saída profissional em Portugal e, por isso, resta-lhes emigrar ou ir para as caixas de supermercado e afins.

      Para os alunos porque ter na frente um professor com mais de 60 anos não é nada atractivo pelo distanciamento em termos de geração. As relações são muito mais próximas quanto menor é o afastamento em termos etários.

      Não sei se o atual Ministro da Educação e da Segurança Social já se deram conta desta realidade.

      Não sei se a GERINGONÇA será capaz de encontrar uma solução para esta TRISTE REALIDADE.

    • Ana on 5 de Setembro de 2016 at 1:48
    • Responder

    Atualmente só se tem redução da componente letiva a partir dos 50 anos (anteriormente era aos 40 anos). As horas de redução sã substituídas por horas não letivas com atividades muito exigentes como coordenações, aulas de substituição, apoios, etc. O tempo de serviço aumenta e os professores vão trabalhando sempre mais.

      • António on 5 de Setembro de 2016 at 1:59
      • Responder

      Cara colega Ana

      Essa realidade que descreve tem um objetivo muito claro que é o de contratar o mínimo de professores possível e poupar o máximo no Orçamento de Estado com a Educação. Mas isto tem consequências devastadoras, de que são exemplo:

      – Jovens docentes no desemprego;

      – Jovens licenciados em ensino em caixas de supermercado;

      – Emigração de jovens licenciados;

      – Alunos dos Cursos direcionados para o Ensino desmotivados e sem perspectivas de futuro;

      – docentes mais velhos completamente agastados;

      – (…)

        • Anónimo on 5 de Setembro de 2016 at 9:48
        • Responder

        Para os colegas q referiram problemas escolares ….a escolaridade é obrigatória para os alunos, não para os docentes, quem não está bem…pode, por exemplo, concorrer pra caixa de supermercado ou emigrar, há muitos docentes desempregados q agradecem.
        Para os restantes, a maioria dos docentes não tem mais de 60 anos mas mesmo q assim fosse, tendo em conta os comentários, o problema não está na idade dos docentes mas na falta de motivação dos alunos e de pais “educadores”.

          • RF on 5 de Setembro de 2016 at 18:14

          Só um imbecil pode escrever semelhante bosta. Confundem-se duas ordens de problemas (como, de resto, o gajo que assina como escritor): a indisciplina e as más condições oferecidas a quem exerce a docência, problemas que têm que ser ENFRENTADOS E COMBATIDOS, por um lado, e a importância de um rejuvenescimento da classe, por outro.

    • Pensadora on 5 de Setembro de 2016 at 20:12
    • Responder

    Um dos critérios que se deve ter em conta é a maturidade de um professor e não propriamente a idade em si! O que existe na classe docente actualmente é desalento devido ao cansaço de estarem a dar aulas há muitos anos! O que seria conveniente, era permitir quem tem pouco tempo de tempo de serviço e ainda está “fresquinho” e sem vícios, ser colocado e dar aulas independentemente da idade!! O factor tempo de serviço não devia ser prioritário mas sim o grau! Pois muitos até se encontram na casa dos 50 e têm muito pouco tempo de aulas! O conhecimento aliado à maturidade e motivação são a receita para um bom desempenho e um fator motivacional para os alunos!

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